Com a ferida da perda ainda aberta, as famílias das vítimas Jadenira Moreira de Oliveira, Cledilza Araújo dos Santos, Miriãm Lopes e Raiane Lopes, mortas na última sexta-feira (24), durante a colisão entre o microônibus e uma carreta, se reuniram na tarde desta quarta (29), no escritório de advocacia Teixeira & Freires, para juntas acionarem as autoridades e garantirem que os responsáveis sejam identificados e punidos na forma da lei. Eles buscam, agora, apenas o que lhes restaram: o acalento da justiça.
Em uma coletiva de Imprensa nesta tarde, O advogado criminalista, Diego Adriano de Araujo Freire, que agora os representa, teve acesso às peças do inquérito presidido pelo delegado de Polícia Civil do núcleo do São Félix, Rodolfo Rocha e explicou sobre questões importantes que envolveram o acidente de repercussão nacional.
O sentimento de revolta dos parentes nasceu após descobrirem que a carreta envolvida no acidente foi removida do local sem autorização policial e a devida perícia. “Isso é preocupante, pois pode trazer prejuízo nas investigações. A carreta foi retirada e no depoimento do proprietário ele alega que não sabe como ela foi saiu do local. Inclusive, cita que foi a seguradora que retirou. É um fato estranho que deverá ser tratado com atenção”, alerta Diego.
Leia mais:Foi levantado que o micro-ônibus já teria sido multado anteriormente por mau uso e má conservação. Então, a defesa juntará esses documentos no inquérito para que o delegado faça uma análise e chame o proprietário para que ele esclareça sobre o estado do veículo: “Assim ele terá que apresentar documentos comprovando que o veículo estava em condições de trafegar em vias urbanas e transportar passageiros”, pontua.
Para ele, o fato de os dois motoristas terem morrido no acidente não necessariamente complica o processo, no entanto, ao ser investigado pelo delegado, fará parte de uma análise onde é investigado se poderia ou não, o acidente ser evitado.
Outra questão pertinente e apresentada pelos advogados dos familiares é que Ediclei Ferreira Sales, que pilotava o micro-ônibus, não tinha vínculo algum com a cooperativa e seria empregado de outra empresa, mas no momento do acidente estava transportando os passageiros. “Diante disso, a defesa solicita que pessoas, como a esposa do motorista, sejam inquiridas para esclarecer esses fatos e, assim, os familiares possam compreender o que aconteceu e saber se isso poderia ser evitado ou não”, destaca Diego.
Para ele, se comprovado que os proprietários dos dois veículos tenham sido negligentes quanto ao estado de ambos, podem vir a ser indiciados e poderão responder criminal e civilmente e a título de indenização, algo que não foi questionado pelos familiares das vítimas, que, se quer, receberam uma ligação do proprietário da cooperativa ou do dono da carreta até o momento.
Sobre os dias que se passaram sem nenhuma resposta das autoridades às famílias a respeito da investigação, o advogado avalia que o trabalho policial em casos como esse, precisa ser respeitado e merece confiança. Ele acredita que o delegado responsável tem se empenhado. “Mas pedimos que pessoas que testemunharam o acidente se apresentem para serem ouvidas pela polícia, ajudando, assim, a esclarecer tudo que ocorreu.
FAMILIARES SE MANIFESTAM
Moradora da zona rural do município de Nova Ipixuna, Jadenira, de 61 anos, estava em Marabá para visitar familiares e, infelizmente, pegou a van para voltar na sexta-feira a fim de realizar um exame oftalmológico no município. A filha, Tatiara Oliveira da Silva de Souza, empresária, conversou com a vítima pela última vez, sem saber, na noite anterior ao acidente, quando ela teria ido entregar um dinheiro para a mãe.
Ao receber as informações da colisão, a mulher diz ter se desesperado e, logo em seguida, entrou em contato com o Hospital Municipal de Marabá (HMM) e com o Hospital Regional do Sudeste (HR) para saber a lista de pessoas que tinham dado entrada em ambos os locais. A decepção veio ao descobrir que sua mãe não estava entre os pacientes e. sim, entre as vítimas que faleceram.
Questionada sobre a intenção das famílias em acionar advogados, Tatiara diz que percebe uma negligência na investigação acerca do que realmente aconteceu, já que após cinco dias da fatalidade, ela e os demais familiares das outras vítimas não foram, se quer, procurados. A empresária acredita que a união dos presentes no escritório Teixeira & Freires, agora, pode ajudar a conseguir a justiça que tanto precisam para fechar este ciclo tão doloroso e seguirem suas vidas: “Nós não queremos indenização, precisamos que haja uma investigação sobre o que realmente aconteceu”.
Sentada na segunda fileira da van, Cledilza Araújo dos Santos estava se deslocando para dar aula, mas nunca chegou à escola em que lecionava, no município de Nova Ipixuna. A irmã, Clenilde Soares Araújo, conta que a professora de português fazia o trajeto três vezes por semana.
Caracterizando a dor como infindável, a irmã afirma que ela e outros familiares não foram procurados por ninguém até o momento: “É como se nada tivesse acontecido e não é bem assim”, declara, acrescentando que o fim da vida de 12 pessoas não pode passar batido e sem nenhuma impunidade.
Clenilde não vê luz ou resposta no andamento das coisas como estão atualmente, e espera que os advogados possam representá-los neste momento tão crucial. As preocupações da irmã vão além do silêncio da Polícia Civil, já que a vítima deixa uma filha de apenas três anos sob os cuidados dos parentes que ficaram. Ela também tem tido desentendimentos com as autoridades sobre o boletim de ocorrência.
A falta da mãe Miriãm e da irmã de apenas 24 anos, Raiane, também ecoa o clamor de justiça em Marcos Lopes. Para ele, a grande questão é a impunidade. Ele ressalva que alguém precisa se responsabilizar pela situação fatal que gerou, tem gerado e continuará gerando uma série de consequências para os muitos que agora precisam lidar com o vazio incompensável e lutar para obter respostas. “Nós precisamos que situações como essas não voltem a se repetir”, sucinta.
Ele, agora, cuida dos dois irmãos mais novos com a certeza de que jamais preencherá um espaço das vítimas. Marcos afirma que não tem sido fácil para a família e nem para ele, mas que tem tentando ser forte para fazer executar o papel de base.
Ele revela que sua mãe e irmã, que eram moradoras do núcleo São Félix, estavam há menos de 1 km do destino, a Vila Sarandi, quando o veículo colidiu.
Um protesto deve ocorrer nesta sexta-feira (31), pela manhã, no Km 329 da PA-150, com o objetivo de cobrar respostas pelo acidente. Os familiares e amigos das vítimas planejam ir de branco, em um ato simbólico. (Ulisses Pompeu e Thays Araujo)