O caso da menina de 12 anos sequestrada na Zona Oeste do Rio e levada para o Maranhão reacendeu o debate sobre o controle que pais e responsáveis devem ter sobre o uso da internet por crianças e adolescentes. Ela conversava com um adulto por uma rede social havia dois anos. Especialistas ouvidos pelo g1 aconselham supervisão obrigatória e diálogo com os filhos, para evitar a exposição aos perigos da rede.
Luiz Augusto D’ Urso, advogado especialista em crimes virtuais da Fundação Getulio Vargas (FGV) afirma que o uso da internet por crianças e adolescentes deve ser feito com supervisão obrigatória dos pais, que devem ter todas as senhas. Ele também recomenda como reforço o controle feito por programas de computador que mostram quanto tempo a criança fica em cada perfil e o que acessa.
“O absoluto descontrole não é autorizado. Este gravíssimo caso serve como alerta de que o uso por crianças e adolescentes deve ser feito com supervisão obrigatória dos pais. Eles devem ter a senha e não permitir que os filhos usem tablets e laptops a que não tenham acesso”, afirma o advogado.
Leia mais:Ele lembra que as plataformas têm regras, com faixa etária definida. “Os próprios termos de uso sugerem que a criação de conta seja feita por adultos. Os pais também podem ficar logados simultaneamento com os filhos. Fora os aplicativos de mensagens, as outras redes podem ser acessadas por esse espelhamento. Também sugiro que os pais acompanhem os likes, comentários e solicitações de amizade,” diz Luiz Augusto.
O advogado sugere que o computador da casa seja colocado na sala, para que os responsáveis possam acompanhar melhor o que a criança ou o adolescente está acessando.
“Os pais também podem ficar logados simultaneamento com os filhos. Fora os aplicativos de mensagens, todas as outras redes podem ser acessadas por esse espelhamento. Também sugiro que os pais acompanhem os likes, comentários e solicitações de amizade,” diz Luiz Augusto
“A utilização do dispositivo dos pais gera controle. Se houver a entrega do aparelho para o adolescente pode ter software de controle”, recomenda.
A experiência do psicólogo Tiago da Silva Cabral, que trabalha numa equipe do Conselho Tutelar no interior do estado, mostra meninas da mesma faixa etária da que foi levada para o Maranhão sendo alvo de exposed. Elas são vítimas de namorados ou paqueras, com quem trocam fotos íntimas, depois divulgadas por eles em redes sociais.
“E o que acontece depois da divulgação é ainda pior. A culpabilização da vítima . Os próprios pais dizem que a menina não teve cuidado. A melhor forma de prevenir é ter diálogo aberto, explicar que nem sempre a internet é confiável. Os pais primeiro devem seguir as regras do aplicativo, que têm idade certa para uso. Se o filho não tem idade, tem que monitorar”, afirma o psicólogo.
Tiago explica que, no caso dos meninos, a porta de entrada para a tentativa de aliciamento são os jogos. “Meninos até mais novos (com menos de 12 anos) são aliciados para tentativa de abuso por jogos on-line, em que os participantes se comunicam”, destaca.
Cérebro em formação
O médico Eduardo Jorge Custódio da Silva é presidente do Grupo de Trabalho de Mídias Sociais em Pediatria, na Sociedade de Pediatria do Estado do Rio (Soperj). Ele defende o uso moderado, saudável e controlado da internet.
“A internet é muito boa, mas tem que saber usar. Tudo em excesso faz mal. O ideal é que os pais supervisionem o uso; se possível que estejam junto à criança e ao adolescente. Eles estão com o cérebro ainda em desenvolvimento”, afirma Eduardo Jorge Custódio da Silva.
Ele explica que, em 2019, foi criado o movimento #Menostela#Maissaúde, que estabelecia parâmetros considerados ideais para o uso de internet por menores. Para adolescentes com idades entre 11 e 18 anos, por exemplo, o período sugerido como saudável era limitado de duas a três horas por dia de exposição a telas e jogos de videogames, sem nunca deixar que “virassem a noite” jogando.
“Para crianças até 2 anos, a sugestão era tempo zero de tela. Criança tem que brincar, subir no trepa-trepa, ir à praia…Mas veio a pandemia logo depois e as crianças não podiam nem ver os avós. Tudo era feito pelas telas…”, lembra Eduardo, reconhecendo que o parâmetro é difícil de ser seguido na realidade de hoje, praticamente irreal.
“A internet é muito boa, mas tem que saber usar. Tudo em excesso faz mal. O ideal é que os pais supervisionem o uso; se possível que estejam junto à criança e ao adolescente. Eles estão com o cérebro ainda em desenvolvimento”, afirma o pediatra.
Para o pediatra, os responsáveis devem oferecer alternativas para que os filhos sejam menos dependentes das redes sociais.
“Há outras alternativas: cinema, teatro, livro… E também podem dar o exemplo, quando estiverem junto com os filhos, sem usar o celular durante as refeições”, orienta.
(Fonte:G1)