A criança sai da escola, volta para casa e… só quer saber de jogar videogame ou assistir a vídeos na internet. Os adultos, preocupados, tentam ensiná-la a sentar em um cantinho para fazer lição. Como construir esse hábito de forma tranquila? Qual deve ser a postura dos pais nesse momento? Será que devem ficar por perto o tempo todo, corrigindo cada erro que aparecer?
Antes de saber essas respostas, veja por que o estudo em casa é importante:
- As crianças aprendem a organizar o próprio tempo e a encontrar suas melhores estratégias de aprendizagem. Também começam a ganhar autonomia.
- No ensino fundamental I (do 1º ao 5º ano), as atividades propostas serão, em geral, curtinhas. Mesmo que sejam concluídas em apenas 15 minutos, elas servem para que “os alunos comecem a entender que casa também é local de estudo”, afirma Ana Ligia Scachetti, CEO da Associação Nova Escola.
- Na sala de aula, as lições e desafios são resolvidos em contexto coletivo. “É importante haver também um momento mais individualizado, para que a criança, longe dos seus pares, reorganize suas ideias e consolide o que aprendeu”, explica Celina Moraes, coordenadora pedagógica na Escola da Vila (SP).
- “A aplicação do que foi aprendido na escola é fundamental para que se firme uma memória de longa duração. Isso demanda tempo, prática e atenção”, diz Carolina Pavanelli, head pedagógica do projeto Árvore de Livros.
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E há uma vantagem também para os pais: eles podem aproveitar essas atividades para saber mais sobre o que o filho está aprendendo. Numerais? Que tal, então, ao assistirem juntos a um jogo de futebol, começarem a contar juntos os gols do placar? “Quanto mais os estudos forem relacionados à realidade da criança, mais significativa vai ser a aprendizagem”, reforça Scachetti.
Agora, confira quais cuidados você deve tomar:
1️- Respeite o tempo da criança
O tempo de estudo varia de acordo com a idade do aluno. Na educação infantil, por exemplo, o ideal é que as atividades feitas em casa sejam mais livres e espontâneas, explica a especialista da Associação Nova Escola.
Depois disso:
- início do ensino fundamental I: cerca de 15 minutos por dia, aumentando, aos poucos, para 30 minutos;
- ensino fundamental II: 1h 30 por dia;
- ensino médio: 2 horas por dia.
E atenção: nada de bombardear os alunos com lições, na ansiedade de querer que eles tirem notas boas.
É preciso garantir que as crianças tenham tempo livre para brincar, socializar, ler e aprofundar seus interesses pessoais, alerta Thiago Vedova, orientador pedagógico da Escola Parque (RJ). Até o ócio é importante – momentos de tédio vão ajudá-las a desenvolver a criatividade e a aprender a esperar.
Também evite que lições e estudos “invadam” o fim de semana. “Sábado e domingo são momentos de outros tipos de aprendizagem e de vivências para a vida. Fazer um bolo em família ou treinar lavar a louça, por exemplo, também são experiências importantes”, afirma Moraes.
2️ – Crie uma rotina estável
Para as crianças, é importante ter sempre o mesmo horário para estudar. Aos poucos, isso estimulará que elas sigam essa rotina e adquiram autonomia.
A que horas as atividades devem ser feitas?
- Evite momentos próximos à hora de dormir, quando o cansaço é maior. Aqueles instantes antes de ir para a cama devem ser de relaxamento.
- Respeite o tempo de descanso. Normalmente, a criança chega cansada da escola e quer brincar um pouco antes de estudar.
3️ – Escolha um ambiente apropriado e evite distrações
“Nem todo mundo tem uma escrivaninha em casa. O ideal, então, é procurar um canto da casa que seja mais sossegado”, diz Celina Moraes, da Escola da Vila.
Se possível, escolha um local bem iluminado e silencioso, distante de celulares, tablets e TVs.
No caso de quem mora em apartamentos pequenos, com mais de 4 pessoas, uma solução é integrar toda a família ao momento da atividade. Em vez de os adultos ficarem assistindo a um filme enquanto o aluno estuda, podem optar por ler um livro ou fazer algo que não produza agitação ou barulho.
“É importante estabelecer limites e evitar que a atenção seja desviada durante o estudo”, diz Carolina Pavanelli, do projeto Árvore de Livros.
4️ – Não corrija os erros, mas fique por perto
Seu filho estava fazendo a lição de português e cometeu um erro de ortografia: escreveu “lasso”, e não “laço”. Se sua vontade é apagar a palavra e corrigi-la, controle o impulso e deixe que a escola cuide da situação.
“É importante que os erros apareçam, porque representam uma dificuldade que o aluno está enfrentando. Se tudo for corrigido antes, em casa, o professor não saberá do ‘problema’ nem terá como diagnosticar o aprendizado da turma”, explica Moraes.
A postura ideal do adulto é:
- supervisionar e ficar por perto, demonstrando interesse na lição;
- ajudar o aluno quando ele tiver dúvidas.
Antes de você se desesperar, achando que precisa entender tudo de matemática, os especialistas já avisam que não é necessário saber as respostas. O importante é guiar a criança e ajudá-la a encontrar um caminho para as respostas.
Faça perguntas como:
- “Você entendeu o que o exercício está pedindo, mas não sabe responder? Ou não compreendeu o que é para fazer?”
- “Você já leu algo sobre isso ou fez alguma atividade parecida?”
Com essas “pistas” dada pela criança, você pode aconselhá-la a fazer determinada pesquisa ou a anotar a dúvida para perguntar algo para o professor no dia seguinte.
“O papel dos pais é garantir que haja condições de espaço e tempo para uma atividade. Se os familiares não forem alfabetizados, não há problema. Podem colaborar perguntando para a criança o que ela viu na escola. [Essa conversa] fará com que ela sistematize o que aprendeu e dê sentido a isso”, diz Scachetti, da Nova Escola.
5️ – Trate o assunto com animação, sem um tom de ‘castigo’
“Quem não se comportar vai ter mais lição!”; “Se fizerem bagunça, vou passar mais atividade para casa!”; “Se vocês não obedecerem, vão ter de passar a tarde estudando!”. Frases assim, se ditas por professores e pais, podem levar a criança a entender que as tarefas são punições.
“Todos precisam colocar a experiência da lição de casa e dos estudos como algo positivo. O estudo deve ser apresentado com animação”, explica Ana Ligia. “A postura da família vai modelar a postura da criança. Se for um momento de briga, difícil de ser encaixado na rotina, isso será absorvido pelo aluno.”
6️ – Valorize as conquistas
Uma forma de tornar o momento do estudo mais atrativo é ressaltar os avanços da criança, aconselha Moraes.
“Nossa, na semana passada, você ainda não sabia fazer isso! Agora, já dá conta, que legal!”. – Frases assim servirão como um importante incentivo.
7️ – Varie as formas de estudar
Não pense que estudar é “só” sentar e escrever tudo em um caderno. É importante, inclusive, que haja uma variedade maior de atividades que estimulem a aprendizagem da criança.
“Dá para propor jogos que, com intencionalidade pedagógica, proporcionem momentos prazerosos no contato com o conteúdo”, diz Pavanelli, do projeto Árvore de Livros.
Há diversos aplicativos e sites com games divertidos e educativos. Mas, atenção aos cuidados: faça uma curadoria cuidadosa e coloque um limite no tempo de exposição das crianças a telas.