Correio de Carajás

Trabalhadores em situação análoga à escravidão são resgatados no RS

Homens que trabalhavam em colheita de uva na serra gaúcha viviam situação análoga à escravidão no Rio Grande do Sul (RS). Maioria era do Nordeste

Foto: Reprodução

Cerca de 207 trabalhadores, entre 18 e 57 anos, foram encontrados vivendo em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves, município do Rio Grande do Sul (RS). Eles trabalhavam em uma colheita de uva na serra gaúcha e foram resgatados na noite dessa quarta-feira, 22.

Os homens prestavam serviço às vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton, que teriam contratado uma empresa de serviços de apoio administrativo. As informações são da Folha de S. Paulo.

O suposto responsável pelas contratações feitas pela empresa Fênix Serviços de Apoio Administrativo e Oliveira & Santana foi preso e libertado mediante pagamento de fiança de R$ 39.060. Natural de Valente (BA), Pedro Augusto de Oliveira Santana, 45 anos, vai responder em liberdade.

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Em nota enviada ao G1 Rio Grande do Sul, o advogado Rafael Dorneles da Silva informou que “a empregadora Fênix Serviços de Apoio Administrativo e seus administradores esclarecem que os graves fatos relatados pela fiscalização do trabalho serão esclarecidos em tempo oportuno, no decorrer do processo judicial.”

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho (MPT) e as Polícias Federal e Rodoviária Federal, que participaram da investigação do caso, os trabalhadores aceitaram o emprego achando que receberiam um salário de R$ 4.000, alojamento e refeições pagas, em um emprego temporário.

Mesmo com a proposta de que seriam custeados alimentação, hospedagem e transporte, ao chegarem ao local, os trabalhadores tiveram que pagar pelo alojamento, já começando em dívida. Segundo o Ministério Público do Trabalho, o local de alojamento também apresentava péssimas condições.

Um grupo das vítimas conseguiu sair do alojamento e chegar até uma base da Polícia Rodoviária Federal (PRF), onde relatou a situação que eles passavam. Os trabalhadores chegaram a afirmar que eram submetidos a choques elétricos.

Na noite dessa sexta-feira, 24, os trabalhadores receberam parte das verbas rescisórias e foram enviados de volta para seus estados em quatro ônibus fretados, com garantia de custeio da alimentação durante o trajeto.

Dos trabalhadores resgatados, 12 permanecem no Rio Grande do Sul, pois eram residentes ou por não terem manifestado interesse em retornar.

A vinícola Aurora informou, em nota, que “se solidariza com os trabalhadores e reforça que não compactua com nenhum tipo de trabalho análogo ao de escravo’. A empresa relata que não sabia das condições dos trabalhadores.
Segundo as empresas Aurora e Garibaldi, os contratos entre as empresas eram apenas para o serviço de descarregamento de caminhões. Salton, também em nota, disse que “a empresa não possui produção própria de uvas na serra gaúcha, salvo poucos vinhedos […] manejados por equipe própria”, mas que tinha contrato com sete trabalhadores da empresa em cada turno para o descarregamento de carga.

Porém, os trabalhadores resgatados na quarta-feira, 22, atuavam nos parreirais, colhendo uvas das 5 às 20 horas de domingo a sexta-feira, de acordo com a Inspeção do Trabalho. O trabalho teria começado no início de fevereiro.

Condições de transporte e alimentação
Os trabalhadores relataram que a empresa fornecia comida estragada para eles e se quisessem comprar outros alimentos, teriam de ir em um mercado específico perto do local de alojamento. Segundo os relatos, o mercado em questão praticava preços superfaturados, e as compras eram descontadas do salário.

A maioria dos trabalhadores saiu do Nordeste até o Rio Grande do Sul. O auditor fiscal do Trabalho Vanius João de Araújo Corte afirmou, em nota, que os contratados já chegaram ao estado gaúcho endividados por conta da viagem.

“Como foram recrutados na Bahia, já vieram na viagem para o local de trabalho com dívidas de alimentação e transporte. Fora isso, todo o consumo deles no alojamento era anotado num caderno do mercado local, que vendia os produtos a preços extorsivos”, disse.

As vítimas do esquema ainda contaram à investigação que eram utilizadas armas de choque para acordá-los. Os trabalhadores de Salvador, capital da Bahia, também afirmaram que as origens deles também teriam sido comentadas de forma pejorativa pelo encarregado.

(Fonte: O POVO)