Correio de Carajás

Cosanpa fala em “força-tarefa” para minimizar crise de abastecimento em Marabá

Por outro lado, empresa ainda não sabe quando o abastecimento de água pode retornar na cidade

Moradores buscam pontos de chafariz de água, espalhados por Marabá, para abastecer suas casas/ Fotos: Evangelista Rocha

O Rio Tocantins está cheio. O Itacaiunas idem. Mas falta água tratada na maioria das residências dos marabaenses. Mais de 80 mil pessoas dos núcleos Nova Marabá e Cidade Nova, em Marabá, estão, há quatro dias consecutivos, sem água nas torneiras.

Enquanto isso, a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa), emitiu uma nota na manhã desta quarta-feira, 22, afirmando que os serviços continuam para normalizar o abastecimento de água na cidade. “Uma força-tarefa foi montada e caminhões-pipa auxiliam a população durante esses dias de trabalho. Após a conclusão do serviço, o abastecimento retornará de forma gradativa”, diz.

O problema foi causado no início da madrugada de domingo, 19, quando um transformador de energia de 1.500 KVA, que sustenta as duas bombas da Estação de Tratamento de Água (ETA), queimou.

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Segundo Antônio Carlos Pereira, o Carlinhos, gestor da Unidade Tocantins da Cosanpa, o transformador está sendo desmontado em uma empresa especializada, na Folha 16. Pelo que foi informado, acredita-se que será possível recuperar o equipamento. Contudo, é um processo demorado, sem prazo.

A Cosanpa não possui um transformador sobressalente e o prejuízo da falta de água para quase 90 mil marabaenses é imensurável. As críticas em desfavor da empresa não param nas redes sociais.

Na tarde desta quarta-feira, 22, a Reportagem do CORREIO visitou alguns chafarizes e ouviu reclamações sobre o sofrimento de quem precisa deixar suas casas para enfrentar fila atrás do precioso líquido.

A pé, de bicicleta, de moto ou de carro, o marabaense tem buscado alternativas para pegar um pouco de água em alguns pontos estratégicos da cidade onde ela é disponibilizada.

No KM 7, o idoso Antônio Marinho, 70, diz que passa o “dia todinho” buscando água no chafariz da Unidade Básica de Saúde Mariana Moraes. Era por volta das 15 horas, e ele já somava mais de quinze voltas carregando o balde.

O idoso, Antônio Marinho, disse que passa “o dia todinho” indo buscar água

Morando a uma distância de mais ou menos 50 metros do ponto de água, o idoso conta que precisa abastecer a residência o tempo inteiro. “Só de neto tem oito lá em casa. Tem muita gente. Está ruim pra lavar, cozinhar, tomar banho. Sem água ninguém vive”, reconhece, lamentando a situação.

Com um carrinho lotado de garrafas de plástico de dois litros, José Martins, morador da Folha 12, estava na fila aguardando para encher suas vasilhas quando a equipe do CORREIO chegou.

José Martins estava com mais de 20 garrafas pet, de dois litros, para encher de água e levar para casa

Ele conta que esses quatro dias sem água têm sido bem difíceis porque a população inteira do bairro está em busca de água no mesmo lugar. “Eu tento trazer a maior quantidade de garrafa que posso pra vir só uma vez aqui. A fila é o tempo todo assim, cheia de gente. Mas, quando vai anoitecendo ela dobra o quarteirão. Fica lotada”, conta.

Morando somente ele e a esposa, José Martins conta que, mesmo pegando pouca água, tem economizado. “Essa água é pra lavar, cozinhar, tomar banho e beber. A Cosanpa precisa resolver esse problema. Vi que eles não têm previsão de ajeitar isso. Isso é um absurdo”, esbraveja.

Outra moradora da Folha 12 indignada com a situação é Francisca das Chagas. Residindo em frente ao chafariz, ela destaca que a situação dos moradores está crítica e que a fila nunca diminui.

“Meu marido vem pegar água pra gente 1 hora da manhã, porque é o horário que esvazia a fila”, diz Francisca das Chagas

“Meu marido vem pegar água pra gente 1 hora da manhã, porque é o horário que esvazia. É o tempo todo cheia de gente, todo mundo em busca de um pouco de água. Cadê o caminhão pipa que eles estão dizendo que têm? A gente não vê. As pessoas estão aqui, o tempo todo na fila”.

No Núcleo Cidade Nova, a fila do chafariz da UBS Jaime Pinto também estava lotada nesta quarta. Indignação e muita reclamação não faltavam enquanto esperavam para encher seus recipientes de água.

A fila em frente a UBS Jaime Pinto, na Cidade Nova, cresce rapidamente

Bom, agora é aguardar quando o equipamento fica pronto e a água reestabelecida nas residências de Marabá. Enquanto isso, a população segue nas filas em busca do mínimo de água.

REDES SOCIAIS

Nas redes sociais também não faltam reclamações sobre o descaso da empresa em relação ao restabelecimento de água na cidade. Nas publicações das reportagens do Correio de Carajás sobre o assunto, foram deixados dezenas de comentários criticando o serviço da Cosanpa.

“Sem previsão? Palhaçada um estado como o nosso não ter um transformador reserva para emergência. Alguém deve ser punido por isso”, escreveu Jan Moraes.

“Isso é uma falta de respeito com a população”, comenta Márcio Duarte.

“Isso não existe em lugar nenhum do mundo. Infelizmente o Pará é terra sem lei, sem justiça. Cadê os promotores de justiça? Como assim o fabricante não tem a peça? Uma cidade desse tamanho não tem um transformador sobressalente? Água é vital”, vocifera Regilane Cruz.

“Ainda não vi esse carro pipa que dizem que tá abastecendo a população”, reclama Flávio Batista.

“Isso é um absurdo, descaso, falta de planejamento. Cadê a contingência? Como uma empresa de distribuição de água não tem plano de contingência para uma situação dessas?”, questiona Marina Milhomem.

COSANPA X EQUATORIAL

“Após análises foi verificado que o transformador que energiza a Estação Elevatória de Água Tratada (EEAT), responsável pela movimentação de dois conjuntos moto-bombas de 600 CV, sofreu avaria. A EEAT é a responsável por jogar a água para o reservatório elevado, que por sua vez faz a distribuição para as redes distribuidoras e à população local. Vale destacar que a captação está operante, pois está vinculada a outro transformador, e dessa forma a água continua sendo captada, tratada e reservada no apoiado, ou seja, está sendo produzida, e em função disso está havendo distribuição por meio de caminhões-pipa a hospitais, e na medida do possível, à comunidade”, diz o comunicado da empresa.

Já a concessionária de energia elétrica, a Equatorial, nega que alguma oscilação no fornecimento de energia seja a razão para o transformador ter queimado. “A Equatorial Pará informa que foi acionada devido a um problema no circuito de energia que atende a Cosanpa, em Marabá, no domingo, 19. Ao chegar ao local, a distribuidora constatou que a situação ocorreu por conta de um problema interno devido a presença de um animal nas instalações elétricas da própria Cosanpa”, disse a empresa, em nota ao Portal Correio de Carajás.

(Ana Mangas)