Correio de Carajás

Mulher muda depoimento e preso por violência doméstica é liberado

A vítima mudou a versão dos fatos ao chegar na Deam, e acabou sendo presa por posse ilegal de arma de fogo

Durante uma ronda no núcleo Morada Nova, a guarnição de Polícia Militar, comandada pelo sargento Morais, atendeu uma chamada que denunciou um caso de violência doméstica na Vila Sarandi. A vítima fugiu de casa e passou a noite no mato, por causa das agressões sofridas. Em um primeiro momento ela revelou que o companheiro, Zilmar Gomes de Souza, possuía uma arma de fogo (que foi apreendida na residência). Entretanto, na delegacia, a mulher deu outra versão em seu depoimento.

De acordo com informações da polícia, ao chegar na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) na manhã de sábado (4), Josiane Ribeiro da Silva contou uma história diferente daquela dada aos PMs. Além de alegar que a espingarda – tipo por fora – era de sua propriedade (adquirida para proteção do galinheiro), também relatou que só ligou para a PM porque o marido estava embriagado.

A guarnição de Morada Nova atendeu com agilidade a denúncia de violência doméstica, mas seu trabalho foi comprometido pela mudança no depoimento

Após o registro da ocorrência na Deam, os policiais militares levaram Josiane para a 21ª Seccional de Polícia Civil, para registrar a prisão por posse ilegal de arma de fogo. Devido a mudança no relato, Zilmar foi solto, sem necessidade de prestar depoimento.

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Não é incomum que vítimas de violência doméstica mudem o depoimento quando chegam à delegacia, muitas vezes motivadas por arrependimento ou pelo medo de seus companheiros.

Todavia, essa ação, além de comprometer o trabalho da polícia – que tem como lema servir e proteger -, aumenta os riscos de a mulher ser agredida novamente, ou até morta.

PRIMEIRA VERSÃO

Tão logo recebeu a informação sobre o caso, no sábado, a guarnição foi até o posto da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) e encontrou com a vítima. Para os PMs, ela contou que após o marido chutar sua perna e barriga na noite de sexta-feira (3), ela fugiu para o mato com a filha (menor de idade) e passou a noite por lá. A mulher revelou ainda que o companheiro estava armado.

Na sequência, a guarnição foi até a residência do casal (que também é um bar), onde encontrou Zilmar jogando sinuca visivelmente embriagado. Durante a revista policial, a espingarda, tipo por fora, foi encontrada embaixo da cama, ela estava carregada. Foi preciso que um dos PMs realizasse disparos para desmuniciá-la e realizar com segurança o transporte do armamento.

Naquele momento Zilmar tentou resistir à prisão e foi levado algemado para a Deam.

OUTROS CASOS

No último dia 30 de janeiro, Fernanda Rodrigues dos Santos, 35 anos, foi vítima de feminicídio no núcleo Morada Nova. Ela foi morta por estrangulamento, pelo então companheiro, Marcelo Lopes, motivado por uma crise de ciúmes após saber que foi traído pela mulher.

Casos como esse, de violência contra a mulher e feminicídio, são noticiados com frequência pelo CORREIO, que sempre destaca a importância da denúncia.

Ao longo de 2022, diversas ações foram realizadas em Marabá, com o intuito de informar e prevenir esses casos. Embora muitas mulheres – e a sociedade – estejam cada vez mais se conscientizando sobre a pauta, parte das vítimas retoma a convivência com seu agressor ou, como no caso de Morada Nova, muda a versão dos fatos durante seu depoimento na delegacia. Muitas vezes motivada pelo medo ou por acreditar que o agressor irá se redimir e mudar.

 

LEI MARIA DA PENHA

 

Em 7 de agosto de 2006 foi sancionada a lei número 11.340, que entrou em vigor em setembro do mesmo ano. Mais conhecida como “Lei Maria da Penha”, ela tem como objetivo principal estipular punição adequada e coibir atos de violência doméstica contra a mulher.

A motivação para a criação da lei veio do caso de Maria da Penha Maia Fernandes, que sobreviveu a duas tentativas de assassinato por parte do ex-marido. Na primeira, ela foi atingida por disparos de arma de fogo que a deixaram paraplégica. Não satisfeito, ele tentou uma segunda vez, por meio de eletrocussão e afogamento.

O caso de Maria da Penha ganhou visibilidade mundial, levando a Comissão Interamericana de Direitos Humanos a condenar o país por negligência, omissão e tolerância em casos de violência contra a mulher. Pressionado, o governo brasileiro se viu obrigado a aprovar um novo dispositivo legal, criando então a Lei Maria da Penha.

DENUNCIE

Denúncias de violência doméstica no município podem ser realizadas através dos números:

Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência – 180

Guarda Municipal – 153

Polícia Militar – 190

Disque Denúncia – (94) 3312-3350

(Luciana Araújo)