Nem tão grandes, nem tão pequenas. Pretas, rosas, cinzas ou vermelhas. Tirinha na ponta para evitar queda. Cabem no bolso. Sim, estamos falando de câmeras compactas feito a Cybershot, sensação nos anos 2000 quando o assunto era fotografia amadora. Versáteis e populares, elas fizeram a festa de muitas pessoas em eventos, viagens ou mesmo no cotidiano.
A notícia é que elas estão de volta, ocupando cada vez mais as mãos – sobretudo de jovens. Dessa vez, vão muito além das fotos tiradas com flash no espelho. Gabriel Sousa, o Biel, é prova disso. Aos 21 anos, o fotógrafo iniciou a carreira com câmera analógica. O alto preço para revelar filmes, porém, levou-o a adquirir uma Cybershot nos idos de 2013.
Agora, ele percebe o dispositivo voltando à ativa principalmente por conta das credenciais do aparelho: leve, pequeno e barato. “Com um equipamento assim, fotografar se torna algo maleável. Entendo essa volta das Cybershots como uma questão de segurança. Celulares e câmeras profissionais estão cada vez mais caros. Então, portar uma câmera pequena, leve e com boa qualidade de arquivo, se tornou de fácil acesso”.
Leia mais:Tem a ver com influência também. A Geração Z acabou tirando a poeira das pequenininhas quando nomes como Kylie Jenner e Bella Hadid postaram fotos super iluminadas ou tremidas – fortes características das imagens tiradas com câmeras digitais estilo o modelo da Sony. Não demorou para que registros semelhantes ocupassem as redes sociais e começassem um verdadeiro movimento de nostalgia e apreço por esses dispositivos.
Para Biel, se, por um lado, a tendência tende a ter um fim mais baseado na conquista de likes – bem distante da necessidade de produzir arte – por outro é de se comemorar o aquecimento do mercado dedicado a esses aparelhos, bem como a dinâmica cada vez mais fortalecida de pessoas dedicadas à fotografia e a experimentos na área.
“Celulares têm utilidade diária para a função que foram destinados. Raramente você vai sair fotografando com o celular caro. Eles entregam um bom arquivo, mas ainda não representam o tesão que é fotografar com uma Cybershot. O que mais se perde em fotografar com uma câmera assim é a questão de lente fixa, apenas um tipo de milimetragem ou zoom”, avalia.
ESTÉTICA CELEBRADA
Outro fator que entra em jogo nesse cenário é a estética consagrada das antigas câmeras digitais. Outrora vista com ressalvas pela maioria dos nativos digitais, agora é festejada por abraçar um estilo próprio, digno de um padrão “aesthetic” – espécie de harmonia de formas e de cores e também beleza, semelhante ao que encontramos no Tumblr.
“Na verdade, acredito que isso parte de uma tendência de interesse por registrar imagens. Hoje em dia, temos um boom da fotografia. A busca por experimentar nesse universo está muito em evidência, com vários cursos e fotógrafos sendo revisitados e um interesse de narrar histórias por meio da fotografia. A facilidade de ter um dispositivo que produza imagens otimiza esse processo”, situa Gandhi Guimarães.
O fotógrafo, realizador audiovisual e produtor cultural considera que a tendência das Cybershots veio para ficar – uma vez ela ser mais uma dentro de várias que partem de um processo de experimentação. Ele mesmo adquiriu uma câmera portátil recentemente, a Nikon Coolpix s30. Neste momento, tem investido em mais saídas com ela pela cidade.
“A estética dessas câmeras, aliada a programas modernos de tratamento de imagem, permite várias experimentações e resultados. Isso é bem bacana. Apesar de serem programas modernos, a finalização dos tratamentos são as revelações. Logo, é algo digital, mas que tem uma referência analógica”, contextualiza. “Minha experiência com o equipamento tem sido legal, até por ser uma câmera à prova d’água”.
Segundo ele, a principal diferença entre fotografar com o celular e com a câmera portátil é a concentração. Uma vez a fotografia ser o resultado de uma percepção, é preciso que o fotógrafo esteja realmente imerso na cena, sem espaço para distrações. O uso do aparelho celular, nesse sentido, muitas vezes bloqueia a atenção devido ao número de notificações.
A câmera compacta tem a vantagem de oferecer isolamento no processo de construção de novas imagens. O celular, por sua vez, ganha pontos na rápida transmissão e compartilhamento de arquivos. Entre um e outro, o que a nova geração vem percebendo é que é possível casar os dois.
“É bacana porque também é um exercício do olhar. Você fotografa com um dispositivo feito exclusivamente para isso, logo produz uma imagem na qual se está 100% focado na produção. Isso traz um resultado diferente. É o seu olhar puro ali, junto ao fato de a câmera não ter qualidade técnica. É puramente o olhar do fotógrafo, algo natural”.
FOTOGRAFAR É COLETIVO
Tem mais. Toda essa dinâmica em torno das Cybershots e afins traz um dado importante: fotografar é ato coletivo. Conforme dados do Google Trends, o termo powershot – um modelo da marca Canon – ganhou força em meados de novembro de 2022 e atingiu o pico em janeiro deste ano, gerando uma verdadeira comunidade ao redor do item.
Nas redes sociais, por sua vez, as fotos no estilo anos 2000 já viraram febre. A hashtag #digitalcamera acumula mais de 222 milhões de visualizações apenas no TikTok. Um fenômeno. Para Biel Sousa, é tudo justificado.
“Para pessoas feito eu, nascido nos anos 2000, tudo o que for antigo tem gosto da famosa ‘nostalgia’. Muitas são as coisas que lhe dão um certo tempo de apreciação. Pegar sua Cybershot e fotografar na rua, em um teatro ou numa exposição, lhe dá tempo de contemplação. Faz você ver, sentir e olhar o necessário, deixando o companheiro diário do lado”, percebe o fotógrafo, referindo-se ao celular.
Não à toa, alguns cursos de fotografia analógica já estão evoluindo para manuseio e consertos de câmera Cybershot. “A volta do produto deve ajudar a revolucionar alguns temas voltados à fotografia e à imagem digital”.
Por enquanto, todavia, quem quiser adquirir um equipamento nesses moldes precisará recorrer a lojas virtuais ou a pessoas que estejam se desfazendo deles. Marcas como Canon, Sony e Nikon deixaram a produção para trás.
Não deixa de ser algo que reforça o caráter coletivo da fotografia. Idealizador do projeto Rolé Fotográfico – cuja ênfase é empreender passeios por Fortaleza com foco na fotografia de rua –, Gandhi Guimarães quer criar edições específicas da atividade voltadas ao uso de câmeras Cybershot. Além disso, investir em cursos sobre o tema.
“Tem a questão da saudade, sim – afinal, é uma estética que ficou, e as pessoas a consomem porque, depois de um tempo, acaba virando um clássico. Mas acho que experiências coletivas de fotografia é algo que está muito em evidência na cidade de Fortaleza. Antigamente, a fotografia era uma prática individual; hoje, vemos coletivos fotográficos formados. A questão coletiva é característica da fotografia contemporânea – não à toa, o princípio do Rolé Fotográfico, de juntar pessoas para entender a cidade e produzir imagens de rua”.
Já começou a pesquisar onde comprar sua Cybershot?
(Fonte: Diego Barbosa/Diário do Nordeste)