Correio de Carajás

Caso Daniel Alves: conheça a unidade da polícia que faz a investigação

Grupo criado em 2020 para atender crimes de agressão sexual na Catalunha é composto por 70% de mulheres e foi responsável por atendimento à vítima e detenção do jogador

Foto: Divulgação/Mossos d'Esquadra

Um grupo especializado, que passa por amplo treinamento, acostumado a casos de grande repercussão e composto, na sua maioria, por mulheres. Chefiada por uma mulher. A Unidade Central de Agressões Sexuais (UCAS) da Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, é a responsável pela investigação que levou à prisão preventiva de Daniel Alves.

A atuação da UCAS, aliada a um protocolo rígido de combate aos crimes sexuais, foram vistos como bom exemplo pelas autoridades espanholas. Desde o atendimento à vítima à rapidez para colher provas, a unidade foi essencial para garantir que o caso fosse adiante.

A UCAS da Mossos d’Esquadra foi criada em março de 2020 após a polícia catalã registrar um aumento de 50% nos casos de crimes sexuais entre 2015 e 2019. A unidade é composta por 70% de mulheres, 22 dos 36 agentes. O índice é o contrário de todas as outras divisões da corporação, que tem três homens para cada mulher.

Leia mais:

O grupo registra ao menos duas denúncias por dia na Catalunha de crimes sexuais. Mesmo assim, a UCAS estima que mais de 80% dos casos não são conhecidos, especialmente quando envolvem menores de 16 anos. Barcelona, maior cidade da região, concentra os episódios.

A unidade se especializou em todos os tipos de crimes sexuais, até mesmo os cometidos por agressores desconhecidos, ou nos que contam com criminosos que agem em série, ou que estupraram em grupo.

Unidade Central de Agressões Sexuais (UCAS), grupo especializado em combate a crimes sexuais da Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, é responsável por investigação no caso de Daniel Alves — Foto: Divulgação/Mossos d'Esquadra
Unidade Central de Agressões Sexuais (UCAS), grupo especializado em combate a crimes sexuais da Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, é responsável por investigação no caso de Daniel Alves — Foto: Divulgação/Mossos d’Esquadra

A UCAS resolveu dois grandes casos na Catalunha recentemente. Um envolvia um abusador em série, com nove vítimas, e outro era sobre uma menor estuprada na saída de uma boate, cuja solução levou seis meses de investigação e a análise de 155 câmeras de vigilância.

Segundo o jornal La Vanguardia, foram as agentes da UCAS que atuaram para que Daniel Alves comparecesse no depoimento, na última sexta-feira, quando foi detido. A negociação foi com a agora ex-advogada do jogador, Miraida Puente Wilson e, de acordo com o relato do diário, sem que a representante do atleta soubesse das provas colhidas pela polícia.

Foco na vítima

 

Segundo os depoimentos da vítima no caso de Daniel Alves e as imagens das câmeras de vigilância, a jovem foi atendida, incialmente, pelo porteiro da casa noturna onde estavam. O funcionário percebeu o estado de choque da moça e deu início ao chamado protocolo “Não nos calamos”, criado na Espanha para atendimentos de crimes sexuais.

A jovem foi levada a uma sala da boate e imediatamente a Unidade Central de Agressões Sexuais foi acionada. Agentes mulheres da UCAS a atenderam, direcionaram para o hospital onde ela fez os primeiros exames e coletaram potenciais provas, como os restos de sêmen no banheiro onde o crime teria ocorrido.

O episódio aconteceu no dia 30 de dezembro, mas a denúncia formal veio no dia 2 de janeiro. A UCAS busca, segundo comunicado do Mossos d’Esquadra, deixar a vítima confortável para concluir todo o seu relato. Comissário-chefe da polícia catalã na época da criação da unidade, Eduard Sallent reiterou que o foco na vítima era um dos objetivos do novo grupo.

– Teremos de mudar a forma como trabalhamos, teremos de incorporar esta visão centrada na vítima em que temos em conta as situações pessoais que a vítima está vivendo e o impacto emocional que está sentindo devido às agressões que sofreu – disse Sallent.

Daniel Alves está preso preventivamente desde a última sexta-feira, em Barcelona. Na última segunda, o lateral brasileiro foi transferido de prisão na cidade, e na terça, contratou um novo advogado. O prazo para tentar um recurso é até esta quinta-feira. O jogador vai permanecer recluso até julgamento, que não tem data marcada.

A acusação de agressão

 

Os principais jornais da Espanha – como “El País” e “El Mundo”, de Madri, e “El Periódico” de Barcelona – publicaram trechos do depoimento prestado à Justiça pela mulher que acusa Daniel Alves de agressão sexual. O jogador está em prisão preventiva sem direito a fiança. Ele nega ter cometido o crime do qual é acusado.

De acordo com os relatos publicados pela imprensa espanhola, a vítima contou no depoimento que no dia 30 de dezembro de 2022 estava na boate Sutton, em Barcelona, quando o grupo do qual fazia parte recebeu um convite para entrar numa área VIP. Um garçom as levou até uma mesa onde estava Daniel Alves, a quem a vítima inicialmente não reconheceu. Um grupo de mexicanos, amigos do jogador, o apresentou à denunciante.

Daniel Alves está preso desde a última sexta em Barcelona — Foto: Reuters
Daniel Alves está preso desde a última sexta em Barcelona — Foto: Reuters

Segundo os jornais, a vítima relatou à Justiça que ela e Daniel Alves dançaram juntos até que o jogador “levou várias vezes a mão dela até seu pênis, que ela retirou assustada”. Por volta das 4h30 da madrugada, ele pediu a ela para segui-lo até uma porta. Assim que entraram, ela se deu conta que estava num banheiro. Ali teria ocorrido a agressão.

Sempre de acordo com o depoimento da denunciante, ela teria tentado sair do banheiro, mas foi impedida. Daniel Alves a teria penetrado de maneira violenta até ejacular. Ele teria sido o primeiro a deixar o banheiro. Quando ela saiu, contou o que aconteceu a uma amiga. Quando a segurança do local foi informada, o lateral já tinha deixado a boate. A vítima foi imediatamente fazer exames num hospital. Dois dias depois, ela fez a denúncia à polícia.

A associação de casas noturnas da Catalunha (Fecasarm) e da Espanha (Spain Nightlife) entraram com documento na Justiça solicitando poder exercer acusação popular na causa, por entenderem que o caso pode “afetar interesses coletivos”.

(Fonte:G1)