“Reis Magos”. Reis ou magos? Neste dia 06 de janeiro, celebrado o Dia de Reis no Brasil, o g1 ouviu especialistas para entender quem foram essas figuras bíblicas que, de acordo com a história, seguiram uma estrela e chegaram até Jesus.
A passagem consta no capítulo 2 do primeiro livro do novo testamento, no evangelho de São Mateus. A estudante e católica, Brenda Emelly Silva, acredita que o registro no evangelho tem intenção teológica e não de reconstrução histórica.
“Acredito que São Mateus quis mostrar que embora existisse um povo escolhido à espera do messias, a missão messiânica de salvação se estende a todos. Assim, a interpretação à luz da igreja é o que dá o sentindo sublime e justifica o dia de Reis e toda sua celebração”.
Leia mais:Apesar de ser “Dia de Reis” e serem apontados como “reis magos”, o evangelho não fala em reis, nem quantas pessoas chegaram até Jesus ainda bebê, nem os nomes desses visitantes.
“O fato que indica serem três magos é por conta dos tipos de presentes: ouro, mirra e incenso”, completa o vigário paroquial de N. S. Amparo em Belém, mestre em teologia e especialista em Mariologia, padre Wirimberg José.
O vigário diz ainda que os nomes dos reis magos foram estabelecidos somente no século XVIII e que o sentido de “mago” para a época não tinha relação com bruxaria ou feitiçaria, mas assumia o sentido de serem sábios ou sacerdotes.
“Magos eram homens inteligentes, astrólogos, pagãos, não eram cristãos, mas foram adorar o Deus de Israel”, explica o padre.
A visão da Astrologia
“A verdadeira magia era a sabedoria e o conhecimento, não tinha ligação com a feitiçaria. Melchior, Baltazar e Gaspar eram homens que estudavam as estrelas e, em particular, foram guiados pela ‘estrela de Belém’, uma grande estrela que tinham visto no oriente e estava posicionada no lugar onde estava o menino Jesus”, complementa o astrólogo e professor de Astrologia, Guilherme Schutz.
O estudioso explica que a Astrologia acredita que a “estrela de Belém” foi na verdade um encontro, uma conjunção de Júpiter e Saturno sobre a constelação de Peixes, o que formou uma luz forte e reluzente, o que deu a ideia de uma única estrela.
“Júpiter nos traz o simbolismo de um rei e Saturno tem a relação com os judeus. Os três reis magos buscavam o nascido rei dos judeus com o objetivo de adorá-lo e levaram como presente ouro, que representava a realeza, o incenso, que representava a divindade, e a mirra que representava a humanidade”, explica Guilherme.
Dia 06 de janeiro também é celebrado o Dia do Astrólogo, data proposta em 1978 por Bóris Cristoff, astrólogo búgaro.
“Eu creio que nessa data, além de comemorarmos a oportunidade de sermos homens que estudam as estrelas temos dois aprendizados profundos: um é que possamos respeitar e adorar a divindade que existe em cada um que cruzamos na vida; segundo é que possamos olhar para o céu e acreditar que existe algo muito maior que nós mesmos somos capazes de imaginar, que nos guia para a busca de uma verdade, acima de tudo, para o encontro com o divino dentro de nós mesmos”.
Dia de Reis – Epifania
“’Não é a estrela que determina o destino do Menino, mas o Menino que guia a estrela’ diz o papa Bento XVI no livro ‘Jesus de Nazaré. A Infância’, onde afirma que o encaminhar-se dos magos para o recém-nascido rei dos judeus representa o caminho das religiões para Cristo”, acrescenta Emelly.
Ela lembra que o texto sagrado não diz a localidade específica de onde vieram, apenas deixa claro que é do Oriente e “daí a tradição da Igreja desenvolveu essa universalidade interpretando os magos como reis dos três continentes conhecidos até então: África; Ásia e Europa, sustentando a representação do encaminhar-se de toda a humanidade para Cristo”.
“Acredita-se que dia 06 foi a data que os magos encontraram Jesus. Porém, os católicos celebram de forma solene a revelação de Jesus ao no domingo subsequente a esta data, na celebração chamada de Solenidade da Epifania do Senhor”.
“Epifania é o nome litúrgico do Dia de Reis, que conclui o tempo de Natal, daí a tradição de desmontar árvore e o presépio neste dia também”, acrescenta padre Wirimberg José.
O docente da Escola de Aplicação da Universidade do Estado do Pará (UFPA), João Antônio Lima, diz que a festa dos reis ou da Epifania faz parte de um conjunto de festas que estão relacionadas ao mistério da reencarnação.
“Epifania é a manifestação de Jesus como rei. A gente olha o presépio e como está todo mundo ali pensa que foi tudo ao mesmo tempo, né? Mas, não, Jesus nasceu em um dia, quem testemunhou seu nascimento foi José, Maria e os pastores, os magos só chegaram depois. E a festa de Reis tem esse caráter de mostrar o reconhecimento de Jesus pelas nações, porque o que se diz é que cada um é de um canto e chegam até Herodes, perguntam a ele sobre Jesus, e Herodes não sabe responder e inclusive pede para que voltem e digam onde está Jesus quando souberem, e os magos não voltam, pegam outro caminho para proteger Jesus”, explica o professor.
Essa forma de proteger Jesus do então rei da Judéia, se transformou em uma tradição alemã, que se popularizou entre os cristãos.
“Existe a benção dos reis e muitos católicos seguem essa tradição de proteção que inclui os números do ano vigente e as iniciais dos nomes dos reis, além de uma oração”, lembra o vigário – veja abaixo.
Para pedir aos reis magos proteção para o lar, escreva acima do batente da porta de entrada da residência 20+G+M+B+23.
A frase alfanumérica possui os primeiros números do ano vigente, as iniciais dos nomes dos três reis e os números finais do ano, e entre elas uma cruz.
Após escrever a frase, o padre indica ainda fazer a seguinte oração:
“Os três reis magos, Gaspar, Melchior e Baltazar, seguiram a estrela do filho de Deus que se tornou homem há 2023 anos. Que o senhor abençoe esta casa e nos acompanhe neste novo ano. Amém”.
Outra tradição atribuída aos reis magos é a troca de presentes no Natal, que em algumas culturas, é feita no Dia de Reis.
Wiremberg lembra os presentes recebidos por Jesus.
“A mirra fazia referência ao sacrifício de Cristo e à ressureição; ouro tinha relação com a realeza e o incenso com a divindade. Eram presentes exclusivos a sacerdotes, o que significava que aquele menino era sinal de salvação”.
Folia de Reis
A Folia de Reis dura 12 dias, de 24 de dezembro, antes do nascimento de Jesus, ao dia 6 de janeiro, data da chegada dos reis a Belém e também é outra tradição em alguns lugares do mundo e em algumas cidades brasileiras.
Há outras manifestações religiosas que se unem ao festejo, como a festa de São Benedito, no oeste do Pará.
O doutor em História Social e professor da UFPA, Aldrin Moura Figueiredo, cita outras manifestações populares, como o Marambiré na cidade de Alenquer, festa de descendentes dos antigos escravizados que fugiram para a região, mas que preservaram tradições apresentadas até os dias de hoje no dia 06 de janeiro.
A comida também integra a Folia de Reis, em alguns estados, como em Goiás, o cardápio é à base de comida regional, incluindo pequi e guariroba. Em cidades francesas, um doce chamado “Gallete De Rois” (bolo rei) é tradicionalmente consumido no dia 06 de janeiro.
(Fonte:G1)