Nos últimos dias, a Polícia Federal e o Ibama cumpriram 37 mandados de busca e apreensão nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Alagoas e na Bahia após identificar um esquema criminoso que utiliza pau-brasil para fabricação de arcos de violino. No mundo da música erudita, esse tipo de matéria-prima é muito valorizada para produzir os melhores arcos. Desta forma, visando a demanda internacional, os criminosos estão invadindo áreas de preservação para derrubar árvores e movimentar um comércio clandestino.
Segundo a Polícia Federal, nas últimas décadas, algumas oficinas do Espírito Santo se especializaram na fabricação dos arcos de violino. A madeira bruta chega em toras e, através de mãos habilidosas, se transforma até tomar a forma dos arcos cobiçados por músicos de todo o mundo. Na ultima operação, foram apreendidas toneladas de madeira.
A investigação apontou que os criminosos estão derrubando árvores centenárias e nativas do Parque Nacional do Pau-Brasil, no sul da Bahia. A reserva de proteção ambiental possui 19 mil hectares e os criminosos aproveitavam a noite para roubar a madeira e passar pelo meio da mata.
Leia mais:A investigação revela que eles cortavam o tronco em toras e usavam animais como jegues para ajudar na passagem do material, assim como também abriam algumas trilhas um pouco maiores e usavam até motos. A Polícia Federal cita ainda que, depois de retirada do parque, a madeira era transportada de carro até oficinas do Espírito Santo. A operação identificou diversas pessoas que produziam arcos de violino sem licença ambiental e com documentação falsificada. Depois de cortada, a madeira era enviada ilegalmente para os Estados Unidos e para a Europa.
A PF conseguiu evitar que remessas de varetas semiacabadas sem documentação de origem florestal deixassem o país. Um lote foi apreendido dentro de uma mala, no Aeroporto de Guarulhos, em SP: “É um artigo de luxo. Um arco de violino que pode alcançar 2,6 mil dólares. Eu acho que não seria exagero afirmar que mais de R$ 500 milhões foram lucrados por essa associação criminosa.”, afirmou Eugênio Rica, superintendente da PF no Espírito Santo.
Agora, os investigadores querem rastrear o dinheiro do esquema criminoso e identificar os grandes receptadores internacionais que movimentam a maior parte dessa fortuna. Uma das pessoas investigadas é Willian Zucolotto de Marchi, que a Polícia Federal flagrou negociando pau-brasil com um sócio italiano.
A Associação de Artesãos e Empresas de Instrumentos de Cordas na Preservação da Mata Atlântica Brasileira informou que a matéria-prima apreendida na operação foi adquirida de boa-fé, com origem legal, acompanhados de documentos de origem florestal e extraídos mediante autorização de exploração florestal. Mas uma perícia inovadora confirmou que todo o material apreendido na operação tem origem criminosa.
Em nota, a Anafima (Associação Nacional da Indústria da Música), entidade que representa o mercado da música no Brasil, diz que acabar com o tráfico de madeiras é tema fundamental para os músicos que se utilizam do arco de pau-brasil como a principal ferramenta do seu instrumento.
(Fonte: RomaNews)