No dia 1º de dezembro celebra-se o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS. A data é uma oportunidade para apoiar e repensar sobre as (nossas) atitudes com as pessoas que vivem com o HIV e, claro, incentivar o uso de preservativos. E foi na manhã de quinta-feira, que o cantor AQNO – o Diego Aquino – utilizou seu perfil no Instagram para publicar uma carta aberta ao também cantor, Cazuza, que morreu em 1990, aos 32 anos, vítima de AIDS.
A pose feita por Cazuza na publicação da Revista Veja de abril de 1989, foi refeita por AQNO e pelos cantores, Gaê e Lui, como forma de falar sobre o HIV de uma forma livre e divulgar a música Sorria, de composição de Gaê.
Leia na íntegra a carta escrita por AQNO:
Leia mais:“Fazem 33 anos que tu fostes capa daquela fatídica edição da Veja e 32 anos que nos deixastes devido a complicações da AIDS.
Nos deixastes com tua arte potente, que reverbera até hoje. Obrigado!
Eu sou AQNO, artista como tu, bicha como tu, não sou ariano, sou pisciano, nasci em março de 1988.
Vivo com HIV, indetectável e intransmissível, há mais de 7 anos. Sim – indetectável e intransmissível, não é incrível? A ciência evoluiu tanto, foram tantas descobertas, que resultaram em tratamentos simples que salvaram e salvam tanta gente, que vivem hoje com o vírus como se o danado sequer existisse no organismo.
Eu recebo esse tratamento de graça, num lugar chamado CTA, Centro de Testagem e Aconselhamento, criado pelo SUS pra atender a população em diversas questões de saúde, principalmente na testagem e tratamento de IST’s (infecções sexualmente transmissíveis – não se fala mais DST).
Nenhum corpo mais vai agonizar em praça pública, Cazuza – foi assim que a Veja te anunciou, um dos maiores artistas da nossa geração.
Teu pai quis até dar cabo do jornalista, né? Eu fiquei sabendo.
Como tu podes ver, a ciência caminhou muito e a gente não “agoniza em praça pública”, somos quase um milhão de pessoas diagnosticadas VIVENDO com HIV no Brasil, mas vivendo mesmo, com a perspectiva de vida igual ou melhor do que a de qualquer pessoa que não vive com o vírus.
Mas mesmo assim, Cazuza, continuamos a tua luta, pois ainda querem ver nosso corpo na vala, ainda querem nos ver agonizar em praça pública, ainda nos chamam de “ladrão, de bicha, maconheiro”, ainda querem tentar nos reduzir à capa da Veja de 1989, como tentaram contigo – O IMPOSSÍVEL.
Gaê, Lui e eu, gravamos uma música, escrita por Gaê, pra lembrar quem tu és e quem somos: ARTISTAS POTENTES.
Hoje é dia 1 de dezembro de 2022, Cazuza, dia mundial da luta contra AIDS, nesse dia vamos falar de saúde, de prevenção combinada, de tratamento, mas vamos falar sobretudo de VIDA!
Estamos vivos, fazendo arte, criando nossos filhos, amando e sendo amados, transando sem culpa, sendo um sucesso nos nossos trabalhos e trajetórias, como tu fostes. Obrigado, Cazuza”.
(Ana Mangas)