O segundo jogo do Brasil na Copa do Mundo nesta segunda-feira (28) dividiu Marabá entre os que tiveram ponto facultativo e puderam comemorar tomando uma gelada enquanto sofriam com o primeiro gol impedido e o ataque da seleção da Suíça, entre os que tiveram que se desdobrar mantendo o comércio aberto, afinal, a vida continua, e até mesmo os improváveis: os idosos do Centro Integrado da Pessoa Idosa (CIPIAR) Antônio Rodrigues, mostrando que época de jogo é um momento épico e diferenciado para nós, brasileiros e marabaenses.
Acompanhando a Copa pela 5ª vez, desde 1986, Edivan Oliveira, diretor da Secretaria de Transporte do Estado (SeTran), fez parte do grupo de pessoas que deixaram as obrigações de lado para focar no que para ele mais interessava: Brasil x Suíça. Sentado na primeira cadeira, de frente pro telão do Bar do Juarez, como um grande conhecedor, ele falou sobre sua perspectiva em relação à trajetória da seleção e geral: “A Copa do Mundo está difícil, todas as seleções estão ótimas, o Brasil estreou bem, teoricamente pegou a melhor seleção do grupo”.
Questionado no primeiro tempo da partida, Edivan classificou o jogo, em particular, como suado, embora em sua visão essa seja uma das melhores seleções dos últimos tempos do Brasil. E, já prevendo o gol de Casemiro, ele acreditava fielmente que no segundo tempo o Brasil alcançaria a vitória. E, a pergunta que não quis calar ecoou nessa reportagem: conhecedor, vidente ou bom de chute?
Leia mais:Acima do placar, o diretor da (SeTran) contou que frequenta o bar há mais de 28 anos, cliente assíduo, principalmente tratando-se de futebol. No entanto, apesar de toda a experiência com tantos campeonatos, ele assume que a ansiedade ainda existe e que a fé e a crença na potência da escalação brasileira sustentarão sua segurança rumo à 6ª vitória da seleção em copas.
Também acompanhando o grande jogo do mesmo estabelecimento, Jardel Rios, biomédico, não deixou de falar da emoção que muitos e principalmente ele, tem sentido: “É muito grande porque a expectativa da vitória é enorme e isso faz com que a gente se envolva de tal forma, culminando em deixar outros compromissos de lado para dar total atenção ao campeonato”, explica ele, que já acompanha cinco copas.
Seu Juarez, o dono do bar, bastante conhecido em Marabá, esclarece que tradicionalmente o estabelecimento é ligado ao futebol, logo, o período de Copa do Mundo é uma época que melhora muito a circulação de pessoas, e que possui um movimento enorme.
Mesmo com a polarização política, Juarez diz enxergar que é o momento de união das pessoas, independente de candidato ou insatisfação com os resultados das eleições, é possível ver que estão todos unidos para torcer para o que realmente interessa: as vitórias da seleção brasileira rumo ao hexa: “O bar do Juarez é isso, é alegria, é correria e é exatamente para as pessoas que gostam desse clima de euforia e animação. O brasileiro é apaixonado pelo futebol, está no nosso sangue, então toda época é isso”.
Apesar dos bares, como o de Juarez, marcarem o comércio e a torcida marabaense, nem todos tiveram o luxo de poder se desfazer de suas obrigações para focar apenas agora tão amistoso e especial. Muitos estabelecimentos mantiveram seus horários de funcionamento, bem como seus funcionários seguiram suas funções. No entanto, de uma forma diferenciada: um olho na clientela e outro no jogo.
Rubiane Silva de Souza, de 33 anos, balconista de uma farmácia no Laranjeiras, conta que ela se manteve trabalhando porque o estabelecimento precisa abrir 24h por dia, para caso alguém precise de atendimento urgente.
Ela estava apta a atender os clientes, mas com a telinha do computador ao lado, de olho para quando saísse o tão aguardado gol: dito anteriormente, de Casemiro. A balconista também conta que, da mesma forma, assistiu ao primeiro jogo estando no trabalho e sem deixar suas obrigações de lado, algo que tem sido comum para os trabalhadores brasileiros que não são liberados por seus superiores e não vivenciam o ponto facultativo.
Diferentemente de Rubiane, o Correio de Carajás entrevistou o gerente comercial de uma loja no bairro Laranjeiras que verificou com o superior se era opcional a presença dos funcionários e mesmo obtendo como resposta de que ficaria a critério desses. Ele entendeu que a solução perfeita para aquela situação seria conciliar o momento, devido ao horário e se dispondo a levar a televisão de sua própria casa para a loja para que ninguém perdesse o segundo e tão aguardado jogo do Brasil e muito menos a clientela, que chega e pode ser atendida.
Enquanto Paulo Rogério era entrevistado, Vini Júnior fez o primeiro gol, que foi infelizmente anulado, mas, diante da situação, foi possível ver toda a equipe de funcionários excitada, gritando e comemorando em clima afetuoso o momento tão esperado. A cena demonstrou que a junção do útil ao agradável do estabelecimento rendeu um ótimo momento entre o grupo de trabalho, provando também que não é preciso necessariamente seguir o costume de se comemorar entre parentes ou em um bar. O que importa mesmo é o que une a todos: o amor pelo Brasil.
LIÇÕES DA TERCEIRA IDADE
No Centro Integrado da Pessoa Idosa Antônio Rodrigues, o clima de copa não foi diferente. Seu Antônio, um dos acolhidos do local, afirma que foi uma surpresa ao chegar no local em meados de maio deste ano e encontrar outro tipo de ambiente. Algo que, em sua visão, seria difícil e com um regime delicado. No entanto, surpreendido maravilhosamente, se viu em um local amistoso e como visto nesta segunda-feira, de completa união, com liberdade para cantar, gritar e entrar profundamente no clima da copa. Com direito a adereços e pipoca para agregar à família CIPIAR.
Antes mesmo de o gol da vitória do Brasil, seu Antônio foi questionado sobre sua expectativa para o jogo e ele desabafou dizendo que para ele, seria completamente diferente: “Achei que o Brasil fosse levar facilmente, até golear, mas tá difícil, então minha esperança diminuiu bastante. A convicção não é a mesma, principalmente depois do gol anulado, mas a crença no hexa permanece, assim como todo e qualquer brasileiro”, afirmou.
Contudo, foi o aposentado terminar de falar a última palavra que a surpresa veio. Durante a entrevista ele vibrou com gosto, porque finamente veio o gol do Brasil. Muito animado, ele não conseguia falar mais nada a não ser gritar gol e levantar as mãos para cima como quem carregava consigo a maior alegria do mundo. Arrisco dizer que todo o caminho para o pessimismo se transformou em uma euforia sem tamanho, estampada por uma fotografia que, por acaso, expressa qualquer palavra que poderia ser descrita aqui. (Thays Araujo)