Correio de Carajás

Alucinógenos de “cogumelos mágicos” podem ajudar na luta contra depressão, diz estudo

A pesquisa envolveu um total de 233 pessoas de 10 países da Europa e América do Norte. O principal efeito é aumentar as chances de sucesso da terapia. Entenda

Pesquisa descobre que cogumelos alucinógenos podem aliviar o efeito da depressão.(foto: Flicker/Natália Busnardi)

Compostos encontrados em “cogumelos mágicos” podem ajudar a aliviar casos de depressão clínica quando combinados com tratamentos psicoterapeutas. A descoberta científica foi revelada em uma publicação na revista New England Journal of Medicine.

Um dos compostos analisados é a Psilocibina. O psicodélico está presente em alguns tipos de cogumelos que crescem na América do Sul, principalmente nos Estados Unidos e no México. Os fungos em que o composto pode ser encontrado popularmente são chamados de “cogumelos mágicos”.

O professor Guy Goodwin, responsável pelo estudo, descreveu os resultados da pesquisa como “Excepcionais” e acredita que, no futuro, os alucinógenos podem ser uma alternativa para as medicações tradicionais.

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A Psilocibina é o principal ativo dos “cogumelos mágicos”. Dentro do corpo ele é quebrado em uma substância chamada Psilocina, que libera ondas neurotransmissoras para o cérebro. O funcionamento do cérebro se torna mais caótico sobre o efeito da Psilocina, mostram análises de ressonâncias magnéticas.

Sofia Azevêdo, psicóloga clínica comportamental, comenta em entrevista exclusiva O POVO que o potencial da Psicocibina no tratamento dos sintomas da depressão deve ser visto com cautela, devido os efeitos colaterais da substância.

“Existem várias classificações diferentes para dividir os tipos de drogas de acordo com seu efeito, mas a que é mais utilizada organiza em 3 grupos essas substâncias, que podem ser naturais ou sintéticas: depressoras, estimulantes e perturbadoras do sistema nervoso central”, explica Sofia.

A especialista detalha que as drogas alucinógenas como a maconha, LSD, os “cogumelos mágicos”, entre outras, se encaixam no último grupo dessa classificação, com impacto direto no sistema nervoso central.

A mestranda em psicologia experimental pela Universidade de São Paulo (USP) alerta porém que drogas a base de tais compostos, ao serem consumidas, produzem alterações químicas e comportamentais no organismo.

Alterações na percepção dos sentidos, delírios, alucinações e euforia estão entre os efeitos esperados dos alucinógenos. A psicóloga destaca que as sensações a serem experimentadas pelos usuários e pacientes denpederão diretamente do teor da substância inserida, da dosagem, do local em que ela está e de quem está acompanhada.

“Todas essas questões devem ser levadas em consideração antes do momento de uso, pois isso está relacionado à quais atividades poderão ser realizadas com segurança sob o efeito da substância, visto que o consumo devidamente afetará a forma como você realiza atividades rotineiras”, diz Sofia.

No Brasil, a Psilocibina é considerada ilegal. Porém, os cogumelos naturais não são proibidos para uso em rituais religiosos. Eles podem, inclusive, serem comprados pela internet.

Uso de substância alucinógena de cogumelos pode aumentar eficácia da terapia

Na pesquisa, liderado pelo professor Guy Goodwin, doses de 1mg, 10mg e 25mg foram testadas em um total de 233 pessoas de 10 países da Europa e América do Norte.

Ao longo do experimento, os pacientes escutaram uma playlist com músicas relaxantes e usaram um tapa olho de dormir para que se mantivessem concentrados durante as seis horas que estiveram sob o efeito da substância. Tudo foi acompanhado por um terapeuta.

As pílulas de 25mg conseguiram colocar os pacientes em estado de sonho, o que torna a terapia psicológica mais provável de ser bem-sucedida.

“Isso pode parecer uma coisa ruim, mas não é”, disse o Dr. James Rucker para o tabloide inglês The Guardian. “Isso acontece todas as noites: quando você dorme seu cérebro se torna mais plástico, e um pouco mais caótico e é quando as novas conexões são formadas”, complementa.

Efeitos colaterais

A pesquisa, no entanto, notou que o alucinógeno também pode apresentar diversos efeitos colaterais a curto prazo. Os mais comuns são: dor de cabeça, náusea e fadiga.

Um dos participantes entrou em uma “bad trip” e teve que tomar um sedativo para controlar sua ansiedade. Uma porcentagem dos pacientes também relatam que tiveram pensamentos suicidas. Por isso o suporte clínico é fundamental.

É comum que pessoas digam que alucinógenos podem desencadear transtornos mentais. Muitos citam a esquizofrenia. Para Sofia Azevêdo, porém, a linha é tênue.

“O que pode acontecer é que o usuário já tenha algum tipo de predisposição ou vulnerabilidade (genética ou ambiental) de forma que o consumo de substâncias pode interagir com essas variáveis, sendo um fator desencadeante da doença”, explica.

Ela reitera ainda que essa interação não ocorre da forma como o senso comum reproduz. “Não é como se certamente o uso de psicodélicos fosse resultar no desenvolvimento de esquizofrenia, visto que essa doença é crônica e de origem multifatorial”, afirma.

Depressão clínica

Cerca de 100 milhões de pessoas no mundo são diagnosticadas com depressão clínica grave, 30% tentam o suicídio.

A depressão clínica se caracteriza quando o paciente não responde a pelo menos dois diferentes tipos de medicações. No Brasil mais de 2 milhões de pessoas são diagnosticadas com o transtorno a cada ano, segundo dados do Hospital Israelita Albert Einstein.

O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, de forma gratuita todas as pessoas que querem conversar por telefone, email e chat. Para entrar em contato basta ligar para o número 188 ou entrar no site da instituição.

(Fonte: O POVO)