Diagnosticado no final de novembro de 2015 com câncer no pâncreas – um dos mais agressivos – Lucivaldo de Lima Nascimento morreu com 63 anos, dois meses após descobrir a doença. “Em fevereiro de 2016, no dia do aniversário da minha mãe, fui visitar ele com meu irmão, e quando a gente estava abraçado, ele morreu. Morreu no meu braço e no do meu irmão”, relembra emocionada, a filha Luciana Araújo, que na época tinha 25 anos.
Falar sobre esse momento da vida e lidar com a falta da presença física do pai não é uma tarefa fácil para a filha. Em um final de tarde à beira do Rio Tocantins, em um pôr do sol tímido, Luciana conversou com o Correio de Carajás e contou sobre a referência e a importância do pai em sua vida.
“Pra mim era o melhor homem do mundo. É a maior referência que eu tenho de homem até hoje. Como pai, ele foi ao mesmo tempo rígido quanto precisava ser, e amoroso, carinhoso. Ele adorava estar com os filhos”.
Leia mais:Com a consciência de que ele iria partir, Luciana afirma que teve uma espécie de “tempo de preparação” para a morte do pai, e com uma rede de apoio, cercou-se de pessoas que lhe deram um ombro amigo.
E no dia da morte e velório, ela recorda que não conseguia chorar. “Parece que eu já tinha derramado todas as lágrimas só de saber que esse dia ia chegar. Me sentia muito cansada emocionalmente. Nem com meus irmãos eu conseguia falar. Só consegui falar dele sem sofrer quando eu soube que minha sobrinha ia nascer. Ele morreu em fevereiro e a gente soube que ela viria em maio. Pra gente foi um presente, como se ele tivesse mandando ela pra gente. Ter a Lívia foi ter o amor dele de volta, e aí falar sobre ele ficou mais leve”.
Assim que soube da doença do pai, Luciana pediu férias do trabalho para acompanhá-lo em Goiânia, onde ele iria tentar iniciar o tratamento. À reportagem, ela afirma que foram os piores e os melhores vinte dias da sua vida. “Foi nesse período que percebi que era terminal e que em algum momento ele ia falecer. Tentei aproveitar ao máximo o tempo que ainda tinha com ele. Foi muito doloroso e difícil entender que logo ele não ia estar comigo”, fala com a voz embaraçada.
Luciana relata a dor de perder alguém pro câncer. Segundo ela, o pai foi definhando pouco a pouco na sua frente, e a família foi sofrendo junto. Ela relembra que teve um momento em que chegou a pedir pra Deus que recebesse seu pai no céu. “A gente pede pra tirar a dor e o sofrimento, tanto dele quanto de todo mundo. É uma doença que dói muito fisicamente em quem está doente”.
A perda do pai fez Luciana refletir – e sentir – sobre o amigo e companheiro que não estaria mais ao lado dela. As conversas sobre filmes e livros, por exemplo, não teriam mais tanta graça. A segurança do aconchego do pai e os momentos futuros foram embora junto com ele.
“Ele não esteve presente na minha formatura, ele não esteve presente no nascimento das minhas sobrinhas, e ele não vai estar presente em um monte de momento da vida da gente. É como se um pedaço de mim também tivesse morrido junto com ele. O amor que tenho por ele é infindável. Enquanto vida eu tiver, vou amá-lo mais que tudo nesse mundo”, finaliza com lágrimas nos olhos. (Ana Mangas)