Salve Camaradas, professores da UNIFESSPA!
Certamente este não é o melhor momento para falarmos sobre nós, esses não são os melhores tempos para falar de professores, e muito menos sobre docentes da universidade pública, e de uma universidade instalada no meio de uma complexa fronteira amazônica, onde jorra minério e sangue, ao mesmo tempo que corpos suados, submissos e obedientes, de trabalhadores e trabalhadoras, sangram a terra com explosivos, e tiram dela as chamadas commodities para o mercado internacional, enriquecendo os de fora e empobrecendo os de dentro.
Neste 15 de outubro de 2022 não temos o que comemorar, cercados de um ambiente hostil, com claras ameaças a vida, ascensão do fascismo, perda de direitos, onde o professor foi o um dos sujeitos políticos mais atingidos, dentro de uma conjuntura maléfica a democracia, e, portanto, maléfica a participação dos sujeitos. Fomos humilhados, xingados publicamente, desrespeitados principalmente, aqueles engajados na produção científica. As universidades e a ciência foram gravemente agredidas, como tentativa de destruir a credibilidade social da ciência e da universidade. Mas certamente a nossa resistência foi muito importante, não fosse nossa resistência, quase nada tinha sobrado.
Leia mais:Hoje enquanto SINDUNIFESSPA, dizemos não a trilogia superficial dos fascistas: Deus, Pátria, Família, e reafirmamos junto com o ANDES: “A vida acima dos lucros” e assim defendemos a universidade pública, a ciência a serviço da vida, reafirmamos a necessidade de produzir conhecimentos em diálogo com outras epistemes e saberes desde a Amazônia e seus povos, defender a floresta, os rios, fortemente agredidos e ameaçados pelo capital e pela lógica do lucro. E esse fazer depende desse coletivo de professores, que precisa ser valorizado e ter condições de trabalho.
A defesa da UNIFESSPA é necessária, e cada um de nós docentes, temos uma importante contribuição na consolidação desta universidade, com um papel relevante nessa fronteira. Sempre estivemos nas lutas e na resistência, produzindo ensino, pesquisa e extensão, no diálogo com estudantes, suas histórias, e suas experiências, e particularmente no diálogo com os povos, rompendo a tradição de tê-los apenas como fontes de dados e informações, mas os tendo como sujeitos, dentro da universidade. Neste sentido a UNIFESSPA tem se alargado mais, não só com a política de cotas, mas também se abrindo para demandas de sujeitos específicos, em Processos Seletivos Especiais, como aqueles voltados para a formação de Educadores do Campo, reivindicado por homens e mulheres Assentadas e Acampadas, e que tem trazido também outros sujeitos: ribeirinhos, indígenas, quilombolas e outros.
É no cotidiano do nosso fazer pedagógico que vimos contribuindo e consolidando uma universidade plural, em diálogo com a realidade, questões e demandas locais, no esforço de produzir uma ciência que dê respostas as problemáticas enfrentadas. Já com mais de 30 anos de experiência, considerando que o primeiro vestibular foi em 1987, exclusivo para a formação de professores, a UNIFESSPA, outrora UFPA/ Campus de Marabá, da qual temos orgulho dessa origem, que nos permitiu certa autonomia nessa construção, na relação com os sujeitos dessa grande fronteira do sudeste do Pará. Temos uma rica experiência, não aquela da excelência de um conceito de universidade tradicional iluminada, mas da construção de uma universidade demandada por sujeitos da diversidade étnica cultural da Amazônia. Falamos de povos do campo, falamos de migrantes à deriva, vítimas de uma infindável diáspora, em busca de melhores dias. Esses, que se territorializaram nessas paragens e se constituíram sujeitos coletivos: camponeses, Sem Terra, e ainda de povos tradicionais desse chão: indígenas quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, ribeirinhos e outros.
Assim nesse 15 de outubro de 2022 resta-nos dizer a todos os docentes da UNIFESSPA, se já chegamos até aqui, agora sem recurso nenhum, continuemos nessa construção, que é fruto das lutas sociais, mas também do esforço de cada um de nós professores, que chegamos até aqui coletivamente, e vamos continuar. Nossa tarefa se torna cada vez maior, na democratização do conhecimento, seja pelo ensino, pesquisa e extensão, defendendo a Universidade pública, gratuita como direito de todos, todas e todes, agora tirando o fascismo do poder e limpando o país dessa doença que mata todo dia, de várias formas.
Já foi a COVID-19, mas também pelo império do latifúndio do agronegócio, grande mineração e garimpo ilegal, que mata camponeses, indígenas, quilombolas e os expulsa de seus territórios; pelo racismo estrutural, que mata negros e negras todos os dias nas periferias, pelo patriarcado que mata mulheres, pelo preconceito que mata LGBTQIA+ todos os dias.
É urgente, limpar o país de tudo isso. Sigamos camaradas na construção da liberdade e de uma Universidade autônoma e plural, e com condições de produzir conhecimentos! Acreditar é preciso, a primavera virá!
(Diretoria do SindUnifesspa)