Alain Aspect, John F. Clauser e Anton Zeilinger são os ganhadores do Prêmio Nobel 2022 em Física, anunciou a Academia Real das Ciências da Suécia nesta terça-feira (4).
Os ganhadores são da França, Estados Unidos e Áustria, respectivamente. Eles dividirão o prêmio que totaliza 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 4,8 milhões).
Os cientistas levaram o Nobel por estudos sobre a mecânica quântica, um campo da Física que investiga o comportamento de partículas muito minúsculas como átomos, elétrons e fótons.
Leia mais:As descobertas “lançaram as bases para uma nova era da tecnologia quântica”, afirmou o comitê do Nobel.
“Ser capaz de manipular e gerenciar estados quânticos e todas as suas camadas de propriedades nos dá acesso a ferramentas com um potencial inesperado”, completou.
No ano passado, o prêmio de Física foi para três cientistas que contribuíram para modelos do aquecimento global. Desde 1901, mais de 200 pessoas foram laureadas. A distinção científica só não foi concedida em seis ocasiões: em 1916, 1931, 1934, 1940, 1941 e 1942.
Até 2021, das 218 pessoas agraciadas com o Nobel em Física, apenas 4 eram mulheres. Entre elas, a cientista polonesa Marie Curie, a primeira mulher a ganhar o prêmio.
As descobertas
Alain Aspect, John F. Clauser e Anton Zeilinger levaram o Nobel de Física de 2022 por experimentos inovadores usando o chamado entrelaçamento quântico, um fenômeno físico onde duas partículas subatômicas (muito menores que os átomos) se comportam como uma única unidade, até mesmo quando elas estão bastante separadas.
Em entrevista ao g1,Ulf Danielsson, professor de física teórica e membro da Real Academia Sueca de Ciências, explica que esse fenômeno desafia as leis da física clássica, aquela de Isaac Newton.
No entrelaçamento, tudo o que acontece nesse “par emaranhado” com uma única partícula determina o que acontece com a outra, mesmo que elas estejam muito distantes para serem afetadas.
“Elas podem ser influencidas mesmo a anos-luz de distância”, diz o pesquisador.
Ao longo dos anos, os experimentos dos três cientistas demonstraram o potencial tecnológico para investigar e controlar essas partículas que estão nesses estados emaranhados. E isso não tem só implicações teóricas ou técnicas.
No futuro, computadores superpoderosos e sistemas de telecomunicações impossíveis de hackear poderão ser criados por causa dessas pesquisas.
“Hoje em dia, por exemplo, nossas transações bancárias são baseadas em sistemas criptográficos complexos que utilizam truques matemáticos. No futuro, usando o entrelaçamento e a mecânica quântica poderemos transferir informações de uma maneira impossível de quebrar essa criptografia. Uma maneira absolutamente segura de transferir informações que se baseia nas leis da física”, diz Danielsson.
“Esses prêmios foram concedidos porque apontam para novas e importantes aplicações no futuro”, completou o cientista.
Os vencedores
- Alain Aspect nasceu em 1947 em Agen, na França. Em 1983 ele recebeu o doutorado pela Universidade Paris-Sud, em Orsay, na França. Atualmente é professor na Université Paris-Saclay e na École Polytechnique, Palaiseau, também na França.
- John F. Clauser nasceu em 1942 em Pasadena, na Califórnia (EUA). Em 1969, ele recebeu o doutorado pela Columbia University, de Nova York. Atualmente é físico pesquisador no centro de pesquisa J.F. Clauser & Assoc. também nos EUA.
- Anton Zeilinger nasceu em 1945 em Ried im Innkreis, na Áustria. Em 1971, ele recebeu o doutorado pela Universidade de Viena. Atualmente é professor na mesma instituição.
Nobel 2022
A láurea em Medicina foi a primeira a ser anunciada, na segunda (3). Os prêmios em Química, Literatura e Paz serão entregues ainda nesta semana; já a láurea em Economia será divulgada na próxima segunda (10). Veja o cronograma:
- Medicina: segunda-feira, 3 de outubro
- Física: terça-feira, 4 de outubro
- Química: quarta-feira, 5 de outubro
- Literatura: quinta-feira, 6 de outubro
- Paz: sexta-feira, 7 de outubro
- Economia: segunda-feira, 10 de outubro
Veja, abaixo, perguntas e respostas sobre o prêmio.
O que é o Prêmio Nobel?
A láurea foi criada pelo químico e empresário Alfred Nobel. Inventor da dinamite em 1867, o sueco doou a maior parte de sua fortuna em testamento para a criação de prêmios de física, química, medicina, literatura e paz (o prêmio de economia foi criado anos mais tarde).
O documento dizia que os prêmios deveriam ser concedidos “àqueles que, durante o ano anterior, tenham conferido o maior benefício à humanidade”.
Contudo, hoje em dia, conforme explica Juleen Zierath, membro do Instituto Karolinska -o júri do Nobel de Medicina-, essa regra não é mais tão levada à risca.
“Você pode ter feito essa descoberta em um estágio muito inicial de sua carreira de pesquisa, ou pode ter feito essa descoberta em um estágio muito avançado de sua carreira de pesquisador”, ressalta a pesquisadora.
Como o prêmio é escolhido?
Todos os anos, o Comitê do Nobel envia um pedido de nomeação para membros da comunidade científica.
Isso significa que alguns candidatos elegíveis recebem um convite especial para enviar seus nomes. Sem esse convite, nenhum postulante pode concorrer ao prêmio.
“Você não pode se nomear, mas membros de comunidades científicas, reitores de faculdades de Medicina [no caso do prêmio na área], ex-laureados com o Prêmio Nobel e outros que trabalham no ramo científico mais amplo e que receberam esse pedido podem fazer uma indicação”, diz Zierath.
Quantas pessoas podem compartilhar o mesmo prêmio?
Até três pessoas podem compartilhar um Prêmio Nobel, ou uma organização pode ganhar a láurea da Paz.
A Fundação Nobel, responsável por realizar os desejos do seu fundador, ressalta que essa regra está descrita no testamento de Alfred Nobel.
“Em nenhum caso o valor do prêmio pode ser dividido entre mais de três pessoas”, destaca um trecho do documento. Alguns pesquisadores, porém, criticam essa escolha e afirmam que as descobertas científicas de hoje em dia são muito mais coletivas: um trabalho de vários pesquisadores.
A láurea pode ser concedida postumamente? Tem limite de idade?
Não, um Prêmio Nobel não pode ser concedido postumamente.
Apesar, disso, a Fundação ressalta que, desde 1974, se o destinatário do prêmio falecer após o anúncio, a láurea ainda poderá ser concedida.
Sobre o limite de idade, o prêmio também não tem uma regra a respeito.
“O que eu diria é que, na maioria das vezes, levamos muitos anos até que o campo científico reconheça que a descoberta que você fez é uma distinção que deveria ser considerada para um Prêmio Nobel. Então, às vezes você tem que ser bastante paciente”, ressalta Zierath.