Existe o tempo certo para começar a cuidar da saúde a fim de chegar bem na terceira idade? É unânime entre as pessoas o desejo de viver por mais tempo, com saúde, disposição e qualidade de vida. Quando se trata do bom envelhecimento, o ideal é promover mudanças de hábitos que levem em consideração uma boa alimentação e nutrição, sair do sedentarismo, praticar atividades físicas, estar atento à manutenção do peso, ter relacionamentos saudáveis e manter a saúde mental em equilíbrio.
E por que não pensar em construir esse cuidado ao longo da vida? É consenso entre os profissionais de saúde que não há um prazo estabelecido para passar a dar mais atenção à saúde, e certas escolhas têm consequências tanto no presente quanto no futuro. Com a proximidade do Dia Internacional do Idoso, lembrado neste sábado (1/10), nada mais pertinente do que abordar o tema.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) faz recomendações em relação ao volume da prática de atividades físicas e a intensidade dos exercícios físicos para cada faixa etária, entre crianças e adolescentes, adultos, idosos, mulheres grávidas e em pós-parto, adultos com doenças crônicas, crianças, adolescentes e adultos com necessidades especiais. A entidade também orienta sobre a dieta, que deve ser diversificada, equilibrada e saudável, variando de acordo com as características individuais de cada pessoa (idade, sexo, estilo de vida e grau de atividade física), contexto cultural e hábitos. Ou seja, são direcionamentos que não se limitam para uma fase da vida ou uma média de idade em específico – é para todos.
Leia mais:Segundo a médica geriatra da empresa especializada em home care, Saúde no Lar, Simone de Paula Pessoa Lima, a saúde começa no útero e o ideal seria que as mães já tivessem essa atenção com relação aos filhos a partir mesmo do momento da gestação. “Na gravidez, a mulher já precisa se alimentar bem para que o bebê tenha um desenvolvimento melhor”, indica.
O envelhecimento, conforme a médica, principia na infância, com as mudanças das células dos órgãos, o crescimento em estatura, as transformações hormonais. “Todo esse processo ao longo da vida vai influenciar na forma em que vamos chegar aos 60 anos”, ensina.
Simone cita alguns cuidados voltados com as fases da vida e faixas etárias. Durante a infância, de acordo com ela, é fundamental investir em alongamentos, em um bom desenvolvimento muscular, de coordenação, de estímulo cognitivo e sono de qualidade. “E na adolescência é importante evitar o cigarro, o excesso de bebida alcoólica, buscar um equilíbrio alimentar, não abusar de doces. Tudo irá contribuir para manter uma boa constituição do corpo”, ressalta.
Quando o assunto é osteoporose e as formas de prevenir a doença, responsável por gerar fratura por osso de má qualidade, é necessário entender que o indivíduo precisa produzir uma boa massa óssea. E esse pico é feito na vida adulta. “Conseguimos alcançar patamares melhores e maiores com uma boa ingestão de cálcio na alimentação e com exercícios físicos.”
Foi o que aconteceu com o empresário Joaquim Milagres Lopes, de 61 anos, que começou a se preocupar com a saúde por volta dos 30 anos, após ler um texto de uma pessoa já mais velha. “O autor dizia que poderia ter tomado mais sorvete, poderia ter andado mais descalço, poderia ter aproveitado mais a vida, mas que estava doente e já não dava mais para fazer o que queria. Foi pensando nisso que eu me preocupei em ter uma vida mais saudável, independente e produtiva, principalmente pensando em quando eu estivesse com uma idade mais avançada.”
Desde então, Joaquim, que já praticava natação, começou também a correr, a manter uma rotina de exercícios, a andar de bicicleta e controlar a alimentação, parando com refrigerante e com outros produtos que achava que não deveria consumir. O tempo foi passando e ele adquiriu mais capacidade física, viu o corpo começar a tomar uma forma melhor e sentiu diferença na qualidade de vida. “A partir dos 45 anos passei a fazer viagens de bike e aos 60 fiz meu primeiro triathlon. Hoje tenho o que mais queria – saúde e condicionamento para fazer qualquer coisa”, comenta.
Simone pondera também que o processo de envelhecimento é influenciado pelas relações interpessoais e a forma de levar a vida. “Uma pessoa que é extremamente nervosa, ansiosa, briga com todo mundo, querendo ou não está construindo más relações e isso vai influenciar no processo de adaptação e da aceitação do envelhecimento. É muito importante ter boas relações e saber lidar com os conflitos. A postura em relação aos problemas que a vida coloca diz muito sobre como enfrentar as coisas que o envelhecimento pode trazer.” Para aqueles que não começaram esse cuidado desde cedo, sempre é tempo para mudanças.
A médica fala sobre como o “traçar metas e caminhos” pode fazer com que os objetivos sejam alcançados. “É claro que o quanto antes você começar e quanto mais cedo estiver ocupado em cuidar da saúde, mais benefícios tem. As mudanças de hábito são muito mais fáceis de serem implementadas em pacientes jovens e em adultos do que na pessoa que já está idosa. Mas nunca é tarde para começar. Se o paciente tem 40 anos, ótimo. Faça exercícios, procure um nutricionista, informe-se para saber quais são os alimentos ricos em cálcio, evite ficar nervoso, mantenha boas relações, reavalie o convívio com determinadas pessoas que causam sentimentos ruins.”
A geriatra faz uma reflexão para o Dia do Idoso, em relação aos próprios pais. “É esse o processo de envelhecimento que você quer ter? Ótimo. Quais são os passos que eles seguiram? Planeje seus passos próximos aos deles. Se tem alguns hábitos que não acha tão legais, mude esses hábitos. Se você tem visto seus pais envelhecerem de uma forma que você não quer, pense em quais foram as escolhas feitas ao longo da vida e que você pode não fazer. Você tem uma pessoa que é mais idosa e que você admira? Converse com essa pessoa e saiba o que ela fez que impactou tão positivamente e a manteve com uma qualidade tão boa no processo de envelhecimento. Faça boas escolhas como ela”, finaliza.
(Correio Braziliense)