A obra de construção da nova ponte sobre o Rio Tocantins já começou há alguns meses, mas só agora os moradores do complexo São Félix, em Marabá, começaram a visualizar e perceber os efeitos do mega canteiro de obras que a empreiteira contratada pela Vale está preparando. De cima da atual ponte Rodoferroviária já é possível perceber o clarão na mata que vai sendo aberto por uma tropa de mais de 280 operários, dezenas de caçambas, retroescavadeiras, entre outros equipamentos pesados.
O vai e vem de ônibus de transporte de operários também é intenso dentro do São Félix Pioneiro, bairro por onde se dá o acesso à obra, passando por baixo da ponte já existente. A sede da antiga associação dos madeireiros, a Acimar, é uma das áreas alugadas pela empreiteira, e serve de base para os trabalhadores. Caminhões pipa passam de hora em hora no trajeto até o canteiro, molhando as vielas de chão batido e tentando diminuir o volume de poeira que atinge às residências.
O CORREIO subiu o drone no local e colheu imagens que dão exata noção do andamento e atual estágio dos trabalhos, por enquanto focados na estruturação dos pontos de apoio. Uma passagem também foi aberta em sentido à beira do rio, na margem direita.
Leia mais:Segundo a própria Vale, consultada pelo Jornal, estão em andamento neste momento os serviços preliminares como construção de canteiro, supressão vegetal e terraplanagem, atividades que antecedem a construção civil. “O projeto vai contribuir com a mobilidade urbana e ampliar a logística da região, a exemplo do transporte de minério e de carga geral, como combustível”, diz, em nota.
A mineradora também defende que tem dado prioridade ao relacionamento com empresas locais. “A contratação de mão de obra e de fornecedores locais estão entre as prioridades da Vale, que vem mantendo a articulação junto com a sua empresa contratada e entidades de classe como o Sistema Nacional de Emprego (Sine) e Associação Comercial de Marabá (Acim)”.
Do efetivo total, a maior parte da mão de obra é contratação local, diz a empresa, além de mais de 60 fornecedores locais que estão atuando na prestação de serviços e fornecimento de produtos às obras.
SOBRE O PROJETO
Serão construídas duas novas pontes ao lado da estrutura rodoferroviária atual, cada uma com 2,3 km de extensão. Uma ponte será exclusivamente rodoviária, o que irá desafogar o trânsito em Marabá e reforçar a ligação entre o sudeste do Pará e outros Estados. A outra ponte será apenas ferroviária, contribuindo para o aumento da capacidade de escoamento da Estrada de Ferro Carajás (EFC).
O investimento total previsto é de R$ 4,1 bilhões e o prazo de construção é de cinco anos. “A contratação de pessoal deve chegar a 400 trabalhadores no pico de obras nesta fase inicial, que deve ocorrer até novembro. Na etapa posterior, de construção civil, cerca de 1.600 pessoas devem ser mobilizadas, prevista para o segundo ano das obras civis”, confirma a mineradora em resposta ao CORREIO.
REAÇÃO
Moradores dos arredores do canteiro de obras se mostram assustados com a grande movimentação de maquinário e pessoal, mas não estão positivos quanto à obra e futura nova ponte. “Realmente aqui tá uma loucura, com entra e sai de caminhão o tempo todo. É mais poeira e o medo da criançada tá brincando na rua, pois agora mudou tudo. Mas é isso aí, é o progresso, a gente percebe que vai sair mesmo a tal da ponte”, respondeu Manoel Pereira Mendes, 70 anos.
Outra moradora do São Félix, de uma das ruas que dá acesso ao canteiro é Claudia Lima. Segundo ela, é preciso esperar para ver no que vai dar a nova ponte. “A gente espera que venha melhorias pra cá com essa ponte, pois somos um povo pobre e por enquanto a gente só vê esse trem passar”, respondeu com tom desconfiado e comentando que não conhece ninguém entre seus vizinhos que seja operário da obra neste momento.
HISTÓRIA
A atual ponte sobre o Rio Tocantins demandou três anos para ficar pronta, entre 1982 e 1984, construída pela então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) para compor a Ferrovia Carajás, e com projeto inicial apenas da parte ferroviária. Um clamor popular e pressão política fizeram com que o projeto fosse adaptado, contemplando os dois tabuleiros rodoviários.
Na época, o processo de montagem da super estrutura metálica exigiu complementação de fabricação no canteiro, seguida de lançamentos transversais e longitudinais de cada trecho, utilizando apoios deslizantes e unidade de tração hidráulica. (Patrick Roberto)