Correio de Carajás

Fogo destrói aldeia e TI Mãe Maria continua em chamas

No final da manhã desta quinta-feira, 1, a Aldeia Hupryre, localizada na Terra Indígena Mãe Maria, no município de Bom Jesus do Tocantins, a 5 km de Morada Nova, foi totalmente destruída por um incêndio que teria começado às margens da Rodovia BR-222, a cerca de 500 metros do aldeamento.

Animais não conseguiram escapar do fogo e da fumaça que tomaram de conta da aldeia (Fotos: Evangelista Rocha e Ulisses Pompeu)

Oito famílias – cerca de 28 pessoas, sendo 10 crianças – moram na aldeia que foi devastada pelas chamas. Casas, escola, plantações e animais foram atingidos pelo fogo, que começou por volta das 10 horas da manhã.

A fumaça preta do fogo era vista ainda no Núcleo Morada Nova, em Marabá. O fogo era tanto que se alastrou para os dois lados da Rodovia BR-222, dificultando a passagem de veículos nos dois sentidos. O fogo consumiu a vegetação embaixo do linhão da Eletronorte, que corta a TI Mãe Marabá e, até o final da tarde desta quinta-feira, não tinha atravessado – ainda – para o outro lado do Rio Flexeiras.

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Fotos: Evangelista Rocha e Ulisses Pompeu

Segundo Kwejaroti Lopes, um dos líderes da aldeia Hupryre, o local sempre é alvo do fogo, mas dessa vez a destruição foi maior. “Acho que o culpado maior desse fogo é a Eletronorte. Eles sempre fazem um trabalho mal feito aqui e todo ano o fogo atinge nossa floresta”, diz ele, referindo-se ao trabalho de limpeza executado pela empresa próximo das torres do linhão de transmissão de energia.

Fotos: Evangelista Rocha e Ulisses Pompeu

Galinhas, famílias inteiras de patos e até um cão de indígenas morreram no incêndio. As cadeiras da única sala de aula foram destruídas, assim como toda a estrutura escolar. “Estamos desolados e não sabemos a quem recorrer. Os bombeiros de Marabá estiveram aqui pela manhã, mas não conseguiram apagar todo o fogo que estava ao redor”, lamenta Kwejaroti.

O líder informou ao Correio que esperariam por até 24 horas para que a Eletronorte se manifeste a respeito do incêndio. Caso contrário, irão acionar as autoridades competentes e responsabilizar a empresa.

A cacique Kátia Silene Valdenilson, da comunidade Akrantikatêjê, que fica ao lado da Aldeia Hupryre, lamentou o incêndio e a destruição por ele causada, desagregando indígenas e causando grandes danos ao bioma da TI Mãe Maria, que nos últimos anos vem sofrendo com queimadas provocadas por não indígenas. Em lágrimas, ela pediu socorro ao povo que mora naquela Terra Indígena.

Fotos: Evangelista Rocha e Ulisses Pompeu

A Reportagem do CORREIO entrou em contato com o Corpo de Bombeiros, e o major Galúcio confirmou que uma equipe esteve na aldeia pela manhã, fez um trabalho para debelar as chamas, mas souberam que as labaredas retornaram agora à tarde. “Uma equipe nossa já está a caminho da Terra Indígena novamente. Vamos buscar ajudar os indígenas no que for possível. Estou me deslocando para lá também e, quando tiver mais informações, vamos repassar”.

A reportagem do Correio de Carajás enviou, por e-mail, um pedindo de informações à Eletronorte, mas até a publicação desta notícia não houve retorno. (Ana Mangas)