Correio de Carajás

Casal homoafetivo celebra Dia dos Pais

O pai biológico e o “pai de coração” dividem a responsabilidade de educar três filhos menores de 11 anos.

Os dois pais e os três filhos: O amor de Josué por Marcos e vice-versa é compartilhado com os três filhos

O Dia dos Pais de Josué Richardson, 38 anos, e Marco Aurélio, 43 anos, vai ser do jeito que eles mais gostam: junto com os filhos, Tadeu Lucas, 10, e os gêmeos Anthony e Ana Lúcia, de 9 anos.

Juntos há cerca de cinco anos, os pais e as crianças valorizam os pequenos momentos em família. Seja um simples passeio na orla ou um dia na chácara tomando banho de piscina já faz o dia ser mais especial. O casal faz questão de que esses passeios e brincadeiras se tornem boas lembranças para os filhos no futuro.

Josué e Marco se conheceram no trabalho. Na época, Marco Aurélio estava divorciado e os filhos moravam com a mãe. “A gente via as crianças só aos finais de semana. Com o tempo, a guarda passou para o pai e eles vieram morar conosco. Então, eu que era solteiro, de repente me vejo com um companheiro e mais três filhos dentro de casa”, relembra Josué, sorridente.

Leia mais:

Apoio fundamental

Para Marco, o apoio de Josué nos cuidados dos filhos é fundamental. Mas, vai muito além disso. O amor que o parceiro sente pelos enteados é admirado pelo pai das crianças. “Ele vem desempenhando esse papel muito bem. De repente e se tornou pais de três. E, pra mim, nada paga esse amor que ele tem pelas crianças. Josué tem se doado de fato, e isso excede o limite de qualquer relacionamento. Abdicou da vida dele pra cuidar do ‘combo’ e tem dado certo”, reconhece Marco, pai biológico das crianças.

Ter se tornado pai do “dia para a noite” trouxe muitas mudanças – positivas – para Josué, além dos desafios. Ele admite que sua vida foi totalmente transformada e dilacerada pelo amor de Tadeu, Ana e Anthony.

“Acho que tem uma chave que a gente vira e vem o amor. É uma relação muito específica minha e das crianças. A gente foi estabelecendo isso, foi devagar e quando a gente viu estávamos munidos de amor. Às vezes, paro pra pensar que as crianças completaram a minha vida. Algumas pessoas contestaram no início a minha dedicação, mas isso foi estabelecido pela gente”, ressalta Josué, falando que acredita ter sido escolhido para essa missão.

Na entrevista ao CORREIO, Josué se emociona ao falar do relacionamento que mudou a sua vida

Relacionamento x filhos

O casal explica que foi deixando as coisas fluindo naturalmente, até porque no início do relacionamento as crianças ainda eram bem novas. Contudo, a privacidade do casal sempre foi mantida, como o quarto dos pais ser separado do que as crianças ficam.

Tadeu, Ana e Anthony fazem terapia desde muito novos, e o profissional que atende as crianças informou aos pais que era pra eles irem explicando a situação na medida que fossem perguntando. “A psicóloga falou que se eles perguntassem era pra gente falar a verdade. Mas, uma vez eu publiquei algo no Instagram sobre casamento e um sobrinho meu viu. E quando ele chegou lá em casa perguntou se eu era casado, eu fiquei meio sem reação. O Marco também e do nada o Tadeu, o filho mais velho, falou ‘é sim, casado com meu pai’. Eu e o Marco nos olhamos e sentimos um alívio, não precisou a gente ter aquela conversa. Foi tudo natural”, relembra Josué.

A família na mesa durante lanche da tarde. O respeito entre eles é um dos diferenciais da família

Ah, os filhos!

Falar das crianças é falar de amor. Pelo menos essa é a definição que Josué faz dos filhos. “Eu sou apaixonado por eles. Sou apaixonado na nossa vida. É bem simples a maneira que a gente vive, mas é verdadeiro. Independentemente do que acontecer daqui para frente, quero deixar lembranças boas pra eles, fazer de um simples passeio algo que marque a vida deles. Ninguém vai apagar essas memórias. Pra mim, eles significam amor. O amor mais puro que já pude sentir”, detalha Josué, com lágrimas escorrendo pelo rosto, admitindo que se tornou uma pessoa melhor depois dos filhos.

“Nossa família não é perfeita. É uma família comum, não tem nada de diferente das outras. Claro que cada família tem suas particularidades, assim como a nossa também possui. Mas o que nos une hoje é o amor e juntos estamos criando nossos filhos”, finaliza Marco.

 

Nota do Correio de Carajás

Homofobia é crime desde 2019. O termo homofobia é definido como a aversão ou rejeição a homossexuais, bissexuais, travestir e transexuais.

Esse é um crime inafiançável e imprescritível, ou seja, não admite que a pessoa seja solta por pagamento de fiança e permite que ela seja processada, julgada ou tenha a pena executada a qualquer tempo – não há um prazo como em outros crimes.

É crime praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito em razão da orientação sexual. Divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social também é crime!

(Ana Mangas)