Correio de Carajás

ANMIGA: Representação originária feminina e territorial brasileira

Data é comemorada como Dia Internacional dos Povos Indígenas

Luta, conhecimento, representatividade e escuta representam a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga). Nesse dia Internacional dos Povos Indígenas, 9, é impossível deixar de destacar tal organização feminina que simboliza garra e força originária em todas as regiões brasileiras, inclusive no Norte do país.

A Caravana da Articulação Nacional das Mulheres Originarias da Terra marcou presença durante o Festival da Castanha Nova deste ano, evento reúne anualmente povos originários de várias regiões nas terras indígenas Mãe Maria. Mais de 150 mulheres indígenas de diferentes aldeias passaram por lá para falar sobre o que as afeta e a respeito da vivência de cada uma.

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Concita Sompré, da etnia Gavião Kyikatêjê, falou a reportagem do CORREIO sobre o encontro dessa grande articulação de Mulheres Indígenas de todos biomas do Brasil, com saberes, com tradições, com lutas que se somam e convergem que juntou mulheres mobilizadas pela garantia dos direitos e da vida indígena.

“Somos muitas, somos múltiplas, somos mil-lheres, cacicas, parteiras, benzedeiras, pajés, agricultoras, professoras, advogadas, enfermeiras e médicas nas múltiplas ciências do Território e da universidade. Somos antropólogas, deputadas e psicólogas. Somos muitas transitando do chão da aldeia para o chão do mundo”, citou.

A assessora da Associação Kyikatejê explica que entre todas há as mulheres terra, mulheres água, mulheres biomas, mulheres espiritualidade, mulheres árvores, mulheres raízes, mulheres sementes e que não são somente mulheres, mas guerreiras da ancestralidade.

A raiz do Brasil vem delas, do útero da Terra e de suas ancestrais. A Mãe do Brasil é Indígena. O Brasil nunca existiu e nunca existirá sem elas. A ANMIGA é essa articulação de mulheres ramas, uma referência nacional que dialoga e está conectada e ramificada com suas bases, fortalecendo toda mulher que esteja à frente de organizações e de situações dentro e fora do território.

ORGANIZAÇÃO

Diante da Pandemia, espaços de conexão para fortalecer a potência da articulação de Mulheres Indígenas foram criados a fim de retomar valores e memórias matriarcais para avançar em pleitos sociais relacionados aos nossos territórios, enfrentando as tentativas de extermínio dos Povos Indígenas, as tentativas de invasão e de exploração genocida dos territórios. De tal forma, o movimento indígena foi fortalecido, agregando conhecimentos de gênero e geracionais.

As Mulheres Indígenas assumiram um papel fundamental na articulação das redes de apoiadores nesse momento. Além de atuarem permanentemente nas barreiras sanitárias, as mulheres estiveram frente às construções estratégicas dos planos Territorial, Regional e Nacional no enfrentamento à Covid-19. Há muitas mulheres indígenas com atuações significativas na contribuição pela defesa dos direitos dos Povos Indígenas – muitas vezes enfrentando diversas formas de violências.

Em virtude das constantes violações de direitos, aprofundadas no contexto da pandemia, é essencial fortalecer a contribuição dessas defensoras, qualificando e ampliando suas ações nos espaços de participação política e decisória e apoiando a participação qualificada das Mulheres Indígenas como protagonistas e multiplicadoras.

Elas atuam não somente no enfrentamento à Covid-19, mas na linha de defesa do “Covid sistemático do Governo Federal” e de seus ataques permanentes aos direitos indígenas.

PERSPECTIVA NACIONAL

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UnB (PPGAS), pesquisadora indígena e ex-presidente da Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB (AAIUnB) e membra atuante da articulação, Braulina Baniwa elucidou que durante a safra, mais de 150 mulheres originárias de diferentes aldeias participaram do evento para falar sobre a luta pessoal e em comunidade de cada uma. Para ela, as mulheres tem tido um protagonismo muito grande na defesa pela demarcação das terras.

Braulina contou que a ANMIGA surgiu da necessidade de se ter uma representação nacional política feminina como a APIB como FEPIPA. Diante disso, as indígenas se desafiaram a marchar para defender seus direitos, pautando o acesso à educação, saúde e políticas publicas que abracem a necessidade delas como mulheres e como povo originário.

“Nas marchas, acontece de muitas não conseguirem pegar o microfone por timidez ou simplesmente por falar o português, e diante disso, a urgência de fortalecimento falou bem alto”, falou a membra da ANMIGA, relatando que após dois anos de isolamento, a presença física se iniciou nos territórios para que todas fossem ouvidas e conhecidas de perto.

REPRESENTATIVIDADE

Apesar das grandes representações a nível nacional e internacional como Sônia Guajajara, se faz imprescindível levar em consideração o micro, como aquela anciã e/ou parteira de pequenas aldeias. É importante ouvir a narrativa de cada uma a partir de suas vozes. Trata-se de um processo não apenas de consolidação, mas de apresentação do projeto.

É entendida a perspectiva sociobioeconomica de cada território, que engloba desde com que cada uma, que elas comem, como a renda chega até elas até como têm se cuidado enquanto corpo território indígena.

CONTEXTUALIZANDO

A população indígena do Brasil é formada atualmente por 305 Povos, falantes de 274 línguas diferentes. São, aproximadamente, 900 mil pessoas, sendo 448 mil mulheres lutando pela demarcação das terras indígenas, contra a liberação da mineração e do arrendamento de seus territórios, contra a tentativa de flexibilizar o licenciamento ambiental, contra o financiamento do armamento no campo. Enfrentando o desmonte das políticas indigenista e ambiental.  (Thays Araujo)