Correio de Carajás

Aneurisma: entenda o problema que afetou cérebro de Emilia Clarke

Dilatação se forma nas artérias do cérebro e, se não descoberta logo, pode acarretar sérios riscos para o paciente.

A atriz Emilia Clarke voltou a falar, no domingo (17), durante uma entrevista, de como “perdeu” parte de seu cérebro depois de ter sofrido dois aneurismas, um em 2011 e outro em 2013, enquanto gravava a série “Game of Thrones”.

O aneurisma é uma complicação de saúde que atinge principalmente mulheres por volta dos 50 anos de idade e que fumam. Na época do primeiro aneurisma, Clarke tinha 24 anos e precisou passar por uma cirurgia no cérebro.

“Cirurgia no cérebro? Eu estava no meio da minha vida muito ocupada – não tinha tempo para uma cirurgia no cérebro”, escreveu, em um relato à revista “The New Yorker”, em 2019.

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“Mas, finalmente, me acalmei e assinei [o termo da cirurgia]. E então fiquei inconsciente. Nas três horas seguintes, os cirurgiões trataram de reparar meu cérebro. Esta não seria minha última cirurgia, e não seria a pior. Eu tinha vinte e quatro anos de idade”, completou.

Ela também descreveu como se sentia pouco antes de começarem os sintomas na primeira vez em que enfrentou o problema.

“Apesar de toda a empolgação iminente de uma campanha publicitária e da estreia da série (…), eu estava apavorada. Apavorada com a atenção, (…) com um negócio que mal entendia, com tentar fazer valer a fé que os criadores de ‘Thrones’ depositaram em mim. Eu me sentia, em todos os sentidos, exposta”, relatou à “The New Yorker”.

 

Logo antes de ir para o hospital, ela também sentiu uma dor de cabeça forte enquanto se exercitava na academia, com um treinador, para aliviar o estresse.

“Quando comecei meu treino, tive que me forçar nos primeiros exercícios”, disse Clarke. “Então meu treinador me colocou na posição de prancha, e imediatamente senti como se um elástico estivesse apertando meu cérebro”, contou.

 

Em seguida, Clarke relatou que passou mal, no banheiro, e foi levada ao hospital, onde descobriu que tinha sofrido uma hemorragia subaracnoide – um tipo de acidente vascular cerebral (AVC) causado por sangramento no espaço ao redor do cérebro. “Tive um aneurisma, uma ruptura arterial”, disse.

O aneurisma é uma doença é grave, pois, caso não descoberta logo, pode acarretar em sérios riscos para a saúde e qualidade de vida do paciente.

Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) em 'Game of Thrones' — Foto: Divulgação/HBO
Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) em ‘Game of Thrones’ — Foto: Divulgação/HBO

À revista americana, a atriz de “Game of Thrones” contou que, antes de ser escolhida para o papel na série, se considerava saudável, mas, às vezes, sentia tonturas por causa da pressão baixa e baixa frequência cardíaca.

“De vez em quando, eu ficava tonta e desmaiava. Quando eu tinha quatorze anos, tive uma enxaqueca que me manteve na cama por alguns dias, e na escola de teatro eu desmaiava de vez em quando. Mas tudo parecia administrável, parte do estresse de ser atriz e da vida em geral. Agora eu acho que eu poderia estar passando por sinais de alerta do que estava por virse considerava saudável, mas, às vezes, sentia tonturas por causa da pressão baixa e baixa frequência cardíaca“, relatou.

Abaixo, entenda o que é o aneurisma, seus principais sintomas e quais os tratamentos:

O que é um aneurisma?

 

Vasos sanguíneos transportam sangue e podem levar a doenças graves quando são interrompidos — Foto: Quimono/CC0 Creative Commons/Pixabay
Vasos sanguíneos transportam sangue e podem levar a doenças graves quando são interrompidos — Foto: Quimono/CC0 Creative Commons/Pixabay

O aneurisma é uma dilatação dos vasos sanguíneos, uma fragilidade na parede da artéria, a via onde circula o sangue do nosso organismo.

Enrico Ghizoni, diretor da Neurocirurgia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explicou ao g1em uma entrevista em março que é possível fazer uma analogia com um pneu de uma bicicleta.

“Quando a câmara de um pneu de uma bicicleta está mais frágil, forma-se uma bolha nela. Então aneurisma é mais ou menos parecido com isso porque a parede do organismo é bem mais fina do que a parede do vaso”, disse.

 

O aneurisma cerebral, por sua vez, acomete as artérias intracranianas, que nutrem o nosso cérebro.

Essa “bolha”, se não descoberta logo, pode se romper a qualquer momento, causando sérias consequências de saúde para o paciente, ou até mesmo a morte (veja abaixo os principais sintomas).

Segundo Ghizoni, a maioria dos estudos estimam que 2% da população mundial tenha algum aneurisma, mas que somente 0,5% irão apresentar um aneurisma que irá se romper ou sangrar.

Quais são os sintomas?

 

Em geral, a doença é silenciosa. Caso não haja rompimento, somente exames médicos, como uma ressonância magnética ou uma tomografia, poderão indicar a enfermidade.

“Geralmente são achados acidentais. O paciente vai investigar alguma dor de cabeça, algum problema do tipo e aí a gente identifica esse aneurisma que não rompeu”, relatou o neurocirurgião.

Já os que apresentam rompimento trazem os principais sintomas associados:

  • Uma súbita e forte dor de cabeça, que aumenta com o passar do tempo; “Geralmente a pior dor de cabeça da vida desse paciente”, alerta Ghizoni.
  • Problemas na visão – caso o aneurisma cresça perto do nervo da visão;
  • Desmaios, náuseas, vômitos;
  • Dor no pescoço;
  • Rigidez bucal;

 

Nesses casos, uma angiografia cerebral digital é mais indicada, um procedimento mais invasivo que utiliza cateteres para chegar até os vasos cerebrais.

“O rompimento de um aneurisma é um problema bastante grave porque aumenta a pressão intracraniana. Chamamos de uma catastrófe intracraniana”, disse Enrico Ghizoni.

 

Sintomas como perda de memória ou alucinações são mais raros, mas Ghizoni explicou que isso pode acontecer como uma sequela da doença, não na fase aguda.

“A fase aguda é algo bem dramático, é uma dor de cabeça muito forte, às vezes pode até paralisar um lado do corpo, mas não é o mais comum”, diz.

Qual é o principal perfil e quais são as causas?

 

O chefe de Neurocirurgia da Unicamp explicou que é importante fazer uma distinção entre aneurisma e hemorragia. Ele diz que hemorragias (a perda súbita de sangue) são causadas geralmente por um aneurisma, e que esse último, por sua vez, tem diversas causas.

Segundo Ghizoni, os sintomas de um aneurisma ocorrem porque, quando a pressão do cérebro aumenta, isso facilita o desenvolvimento e o rompimento de um aneurisma. Os seguintes grupos que têm mais propensão a terem a doença:

  • Mulheres, por volta dos 50 anos
  • Tabagistas
  • Pessoas com síndromes genéticas
  • Pacientes com hipertensão
  • Pacientes com doenças do colágeno (síndromes de Marfan e de Ehler Danlos)

“O diagnóstico precoce da hemorragia é muito importante porque se o aneurisma sangrar de novo, o risco é maior”? A mortalidade beira a 70%”, afirmou o médico.

 

Como é feito o tratamento?

 

Diagnosticado o aneurisma, o tratamento em geral é cirúrgico. Isso depende da idade do paciente, do tamanho do aneurisma e do grau de risco que a complicação representa.

Os dois procedimentos mais comuns são a embolização ou a cirurgia aberta.

“Em geral, se você descobriu um aneurisma que não sangrou, você precisa de tratamento. É muito raro que isso não aconteça”, explicou o médico.

 

A embolização coloca uma espécie de mola dentro do aneurisma, o que impede a circulação de sangue para lá e, consequentemente, o seu rompimento.

“O aneurisma que rompeu tem que ser excluído da circulação. Ou através da embolização ou através da cirurgia aberta. E aí cada situação tem uma um tratamento que é melhor. Por exemplo, se for um aneurisma de grau III, que não é muito comum, a cirurgia aberta em geral é melhor”, esclareceu Ghizoni.

No caso de Clarke, a técnica usada foi a minimamente invasiva – sem abrir o crânio –, segundo a atriz contou à “The New Yorker”.

Jon Snow (Kit Harington) e Daenerys Targarye (Emilia Clarke) em 'Game of Thrones' — Foto: Divulgação/HBO
Jon Snow (Kit Harington) e Daenerys Targarye (Emilia Clarke) em ‘Game of Thrones’ — Foto: Divulgação/HBO

“O cirurgião introduziu um fio em uma das artérias femorais, na virilha; o fio seguiu para o norte, ao redor do coração e até o cérebro, onde selaram o aneurisma”, disse. “A operação durou três horas. Quando acordei, a dor era insuportável. Eu não tinha ideia de onde estava”.

 

Uma vez que o paciente fez o tratamento do aneurisma e ele foi completamente excluído, essa pessoa poderá ter uma vida normal, afirmou Ghizoni. Contudo, o especialista ressalta que alguns cuidados devem serem observados depois dessa recuperação.

“Se essa pessoa for tabagista ou hipertensa, ela não pode voltar a ter esses hábitos porque senão daí novos aneurismas podem voltar a se formar”, alertou. “O aneurisma é um diagnóstico muito importante grave. Então, se você tem uma suspeita de aneurisma, você tem que procurar um médico para o diagnóstico”.

(Fonte:G1)