Com 41 semanas de gestação e impossibilitada de ter o filho de parto normal, Patrícia Mendes da Silva, 24 anos, foi mais uma vítima do que a família está denominando de “negligência da equipe médica do Hospital Materno Infantil”. É o que relata seu companheiro, Lucas Borges Chavito, 23 anos.
Para o Correio de Carajás, Lucas conta que a mulher avisou a equipe médica que não poderia – e nem queria – parto normal, e mesmo assim, desde a tarde do último sábado, 16, foi induzida, através de medicamentos, para que tivesse o filho, José Lucas Mendes Chavito, de parto normal.
“Por volta das 22h30 decidiram forçar o parto. Ela não estava sentindo nenhum tipo de dor ou contração. Colocaram ela em uma sala, pediram para que fizesse força para colocar o bebê pra fora. Eles estavam com um aparelho que ouvia os batimentos dele e estava tudo normal. O problema aconteceu no parto. Forçaram tanto que o bebê acabou morrendo”, lamenta Chavito.
Leia mais:De acordo com a informação repassada ao pai pela equipe médica do HMI, uma das causas da morte do bebê, que seria o primeiro filho do casal, pode ter sido falta de oxigênio no cérebro.
“Acredito que houve negligência, porque eles sabiam que não dava para ter parto normal e mesmo assim induziram. Ela relatou que não dava conta e mesmo assim mandaram ela fazer força. Percebo que no HMI as pessoas não têm muita opção de escolha. Você pode falar o tanto que for que não dá pra ser parto normal ou apenas que não quer, mas mesmo assim eles vão induzir. É sempre do jeito que eles querem”, finaliza, indignado.
Lucas registrou um boletim de ocorrência contra o Hospital Materno Infantil e pede por justiça. O caso está sendo encaminhado, também, ao Ministério Público Estadual.
MP CONTRA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
Com objetivo de evitar a violência obstétrica, o Ministério Público do Estado do Pará expediu uma Recomendação, na sexta-feira (15), para acompanhar e fiscalizar, de forma continuada, as medidas adotadas no atendimento na área da saúde materna o município de Marabá. O documento foi expedido pela promotora de Justiça Mayanna Queiroz.
A Recomendação foi encaminhada ao prefeito de Marabá, à Secretária Municipal de Saúde e à Direção do Hospital Materno Infantil. Além dessa iniciativa, o Ministério Público vem fiscalizando a política pública de saúde Hospital Materno Infantil desde 2021, por meio do Procedimento Administrativo 000507-940/2021, com o objetivo de garantir o parto humanizado.
Dentre as medidas recomendadas, estão: o cumprimento do direito da parturiente ao acompanhante, previsto na Lei n° 11.108/2015; o apoio e manutenção dos programas desenvolvidos para melhoraria dos cuidados da saúde materna; a publicidade dos direitos das mulheres a uma assistência digna e respeitosa durante toda a gravidez e parto; a adoção de ações positivas dispostas na “Declaração de prevenção e Eliminação de Abusos, Desrespeito e Maus-tratos durante o parto em instituições de saúde”, que reconhece a ocorrência de violência física, verbal e maus tratos durante o parto; e adotem sistemas de responsabilização e apoio aos profissionais a fim de reprimir e prevenir violência obstétrica.
O não atendimento da Recomendação, sem justificativa, acarretará na responsabilização e no ajuizamento das medidas judiciais cabíveis, incluindo a responsabilização dos envolvidos, para garantia dos direitos fundamentais tratados. No prazo de 10 dias, devem ser prestadas as informações acerca da recomendação.
NOTA DA PREFEITURA
A Reportagem do CORREIO procurou a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Marabá, que enviou a seguinte nota:
“A paciente foi internada no sábado (16), grávida de primeira gestação de 24 anos, com 41 semanas, com pré-natal completo sem intercorrências, segundo a paciente, sem comorbidades. Logo ela foi internada para indução do parto normal segundo o protocolo médico. Os exames e ultrassonografia – realizada ainda no dia 14.07- indicavam boa vitalidade com o peso fetal estimado em 3, 7 kg. No domingo por volta de meio dia a paciente iniciou o trabalho de parto apresentando dilatação de 6 centímetros e os batimentos do bebê se mantinham entre 110 e 160 dentro da normalidade. Após o início de trabalho a paciente passou a ser acompanhada pela equipe médica com todo acompanhamento protocolar e neste período não apresentou nenhum sinal de sofrimento fetal.
Por volta de 21h30 do domingo (17) a paciente estava em período expulsivo e foi otimizado o parto em função deste período ter sido prolongado. Após a saída da cabeça do bebê foi observado pela equipe médica uma distocia de ombro em função do peso do bebê e um nó verdadeiro de cordão umbilical. Foram realizadas manobras para o desprendimento do feto com finalização do parto nascimento as 22h22.
Após o nascimento, foi constatado pelo pediatra que o bebê não apresentava mais batimentos. A equipe médica começou o processo reanimação com massagens e aplicação de medicamentos próprios para a reanimação durante 20 minutos sem sucesso.
O hospital informa que durante o tempo desde a entrada até o pós parto a paciente foi acompanhada pela equipe do hospital, em nenhum momento o parto eminente apresentava qualquer anomalia. Ainda assim a equipe do HMI vai investigar internamente e rever todos os procedimentos feitos desde a entrada da paciente até o pós parto para esclarecer melhor o ocorrido.
O hospital Materno Infantil, está prestando toda assistência a família pelo fato ocorrido e a equipe está consternada e está à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos”.
(Da Redação)