- Falso
- Não é verdade que o homem que aparece em fotos ao lado da ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB), do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL), no dia da facada, seja a mesma pessoa, como sugere uma imagem postada no Facebook. Nos comentários do post, o autor da publicação ainda dá a entender que um policial federal “esquerdista”, que aparece nas fotos, teria facilitado o ataque a Bolsonaro, o que também não é verdade.
Onde foi publicado: Facebook.
Conclusão do Comprova: É falso que o mesmo policial federal esteja nas fotos ao lado da ex-deputada federal Manuela D’Ávila, do ex-presidente Lula e do presidente Jair Bolsonaro, no dia em que ele levou uma facada durante a campanha eleitoral, em setembro de 2018. As três imagens mostram pessoas diferentes. A montagem sugere falsamente que uma mesma pessoa, ligada a Manuela e Lula, estaria envolvida no atentado a Bolsonaro. Além disso, não há evidências de que algum policial federal tenha participação no crime contra o presidente. Até o momento, as investigações apontam que o autor da facada, Adélio Bispo do Santos, agiu sozinho, sem ajuda ou colaboração de qualquer outra pessoa para planejar ou executar o atentado.
Leia mais:Nas imagens, quem aparece ao lado de Manuela D’Ávila é o vereador do município de Lontra (SC), Valdemar Ignaczuk (PL); quem acompanha Lula é o policial federal Danilo César Campetti; e ao lado de Bolsonaro quem aparece é o policial federal Flávio Antônio Gomes.
Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: Até o dia 15 de julho a postagem contava com mais de 1,1 mil compartilhamentos, 54 comentários e 102 reações.
O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor da postagem por mensagem no Facebook, mas não houve retorno até a publicação desta verificação.
Como verificamos: Para fazer a verificação, começamos pesquisando no Google por “policial federal”, “atentado Bolsonaro” e “facada”. Os resultados só mostraram reportagens sobre a investigação do crime e também uma notícia da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) de uma homenagem prestada aos policiais que socorreram Bolsonaro no dia do atentado. Pesquisando pelo nome dos agentes que participaram do evento, foi possível encontrar a primeira foto, de Lula sendo escoltado por um policial, no perfil de Danilo César Campetti. Nesse perfil também foi possível ver a mesma montagem, postada em 2020, com uma explicação do próprio Campetti para esclarecer quem seriam as outras pessoas em cada foto.
Em seguida, para confirmar quem eram os outros dois e baseado na explicação dada pelo próprio Campetti no Instagram, procuramos por “Manuela D’Ávila trolada em Curitiba”. O resultado trouxe um vídeo publicado pelo UOL que mostra o homem da foto ao lado da ex-deputada. Também encontramos um vídeo em que Manuela comenta o episódio.
Procuramos pelo perfil nas redes sociais de Flávio Antônio Gomes, onde a terceira foto foi encontrada, e por fotos na internet do dia da facada. O perfil de Instagram de Valdemar Ignaczuk também foi consultado.
Além disso, pesquisamos reportagens já publicadas por veículos de comunicação sobre as conclusões da investigação sobre a facada em Bolsonaro. Os nomes dos policiais federais envolvidos também foram pesquisados no portal da transparência do governo federal e na ferramenta de busca do Diário Oficial da União.
Por fim, entramos em contato com o perfil que postou a montagem e com a Polícia Federal.
Foto com Manuela D’Ávila
O homem ao lado de Manuela D’Ávila na foto é o vereador do município de Lontra (SC) Valdemar Ignaczuk, conhecido como “Rabugento”. A foto em questão é um print de um vídeo divulgado pelo próprio Ignaczuk em sua conta no Instagram, em 2018, gravado na sede da Polícia Federal em Curitiba (PR).
Na ocasião, Manuela D’Ávila cumprimentava manifestantes de esquerda que estavam em vigília em apoio ao ex-presidente Lula, que estava preso no local. O homem parece se aproximar dela para tirar uma foto, quando grita: “É Bolsonaro”. Na época, Ignaczuk ainda não era vereador e, em reportagens sobre o episódio, foi identificado apenas como “caminhoneiro” e “apoiador de Bolsonaro”. Já Manuela D’Ávila era pré-candidata à presidência nas eleições daquele ano pelo PCdoB, assim como Bolsonaro, pelo PSL.
Foto com Lula
Na foto com Lula, o homem de barba e óculos escuros é o então policial federal Danilo César Campetti. O registro foi feito pelo fotógrafo do PT, Ricardo Stuckert, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, em 2 de março de 2019, dia do velório do neto de Lula, Arthur Araújo Lula da Silva.
Na época, Lula estava preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba onde cumpria pena depois de ter sido condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, no âmbito da Operação Lava Jato. Ele foi liberado pela Justiça para assistir ao velório do neto. Além da Polícia Federal, pelo menos 275 policiais militares participaram da operação de escolta.
O próprio Campetti compartilhou a foto nas redes sociais dele e também uma explicação de quem seriam as pessoas na montagem, em 2020.
| Reprodução Instagram
Danilo César Campetti também fazia a segurança de Bolsonaro no dia em que o político levou a facada em Juiz de Fora, Minas Gerais, em setembro de 2018, apesar de não ser ele que aparece próximo a Bolsonaro na foto aqui verificada. Por conta do socorro prestado a Bolsonaro após a facada, ele foi homenageado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
Nas redes sociais, Campetti demonstra apoio ao presidente Bolsonaro. Devido a isso, o PT chegou a acionar a corregedoria da Polícia Federal e o Ministério Público Federal contra Campetti após ele ter feito a escolta de Lula. A sigla argumentou que “além de ser um ativista pró-Bolsonaro, [Campetti] mantém manifestações hostis ao PT e a Lula nas redes sociais, o que compromete seu desempenho como profissional de segurança”.
Após o ocorrido, Danilo Campetti foi cedido ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento onde foi nomeado, em fevereiro de 2020, para o cargo de assessor Especial de Assuntos Fundiários, do qual foi exonerado em dezembro de 2021. Em seguida, foi nomeado para o cargo de Assessor Especial da Secretaria-Executiva do Ministério da Infraestrutura, do qual foi exonerado em 6 de junho deste ano, conforme mostra o Diário Oficial da União (DOU).
Danilo Campetti teve que sair do cargo para poder concorrer nas eleições de outubro deste ano, nas quais é pré-candidato a deputado estadual de São Paulo pelo Republicanos.
Foto com Bolsonaro
O homem que aparece ao lado de Bolsonaro no dia do atentado em Juiz de Fora é o então policial federal Flávio Antônio Gomes. Ele também foi um dos destacados da PF para fazer a segurança do ato de campanha de Bolsonaro na cidade mineira. Assim como Campetti, Gomes foi homenageado pela Alesp por sua atuação no dia em que Bolsonaro levou a facada.
Em setembro de 2019, Gomes foi requisitado pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) para exercer cargo junto à Superintendência da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em São Paulo.
A foto que está na montagem aqui investigada foi capa da edição da revista Veja de 12 de setembro de 2018. A mesma imagem foi compartilhada pelo perfil do Twitter de Jair Bolsonaro em dezembro de 2018.
Autor da facada agiu sozinho
O autor da facada em Bolsonaro é Adélio Bispo do Santos, que foi preso em flagrante no dia do episódio. As investigações sobre o atentado foram realizadas pela Polícia Federal, que já abriu até o momento dois inquéritos para apurar o caso, o primeiro deles encerrado ainda em setembro de 2018 e o outro em maio de 2020. Nos dois inquéritos, a PF confirmou que Adélio agiu sozinho, sem qualquer ajuda para planejar ou executar a ação.
Em novembro de 2021, o Tribunal Regional da 1ª Região autorizou a reabertura das investigações da facada em Bolsonaro. Após a reabertura, o comando da investigação também foi alterado, já que o antigo delegado responsável, Rodrigo Morais, foi transferido para os Estados Unidos. O atual responsável pelas investigações é o delegado Martin Botaro Pupper e até o momento não há nenhuma informação de que houve o envolvimento de algum agente da Polícia Federal para “facilitar” o crime, como sugere a postagem, ou de qualquer outra pessoa.
Por que investigamos: A cerca de três meses das eleições, o post tenta induzir as pessoas a pensarem que o pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo PT, Lula, e um policial federal tiveram alguma relação com o ataque a Bolsonaro em 2018. O eleitor tem direito de escolher em quem votar, e essa decisão deve ser tomada levando em consideração informações verdadeiras.
Outras checagens sobre o tema: Em 2019 o e-Farsas já havia feito uma checagem sobre a mesma montagem com as três fotos. O conteúdo também foi checado pela Reuters. A respeito do atentado sofrido por Bolsonaro em Juiz de Fora, diversas agências de checagem (como Lupa, Aos Fatos e Estadão Verifica) já demonstraram que não há qualquer indício de envolvimento de partidos de oposição, ou que Adélio seria próximo de pessoas ligadas ao PT. O Comprova também já confirmou ser falsa uma postagem que insinuava que o ex-presidente Lula e o Supremo Tribunal Federal (STF) tinham um acordo para matar o presidente Jair Bolsonaro.
Desde 2020 o Correio de Carajás integra o Projeto Comprova, que reúne jornalistas de 41 diferentes veículos de comunicação brasileiros para investigar conteúdos enganosos, inventados e deliberadamente falsos sobre políticas públicas, eleições e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.