A Polícia Civil do RJ concluiu o laudo da reprodução simulada do acidente que matou a menina Raquel Antunes da Silva, imprensada por um carro alegórico da Em Cima da Hora no desfile da Série Ouro deste ano.
Com a reconstituição, peritos apontaram as seguintes falhas:
- A alegoria teve problemas no motor e precisou ser rebocada, mas o acoplamento foi feito de forma irregular, com correntes e parafusos. Isso impediu que o veículo balançasse para a direita e para a esquerda.
- No momento em que o reboque guinchava o carro alegórico para fora da Apoteose, havia apenas dois guias para a saída: um à frente e outro à esquerda do caminhão. Não tinha ninguém à direita — justamente onde Raquel estava —, para avisar, por exemplo, que um poste estava no caminho.
- No lado direito do caminhão, a luminosidade também era muito baixa.
- O poste onde a alegoria resvalou foi erguido em desacordo com as normas da ABNT e não devia estar lá. Além disso, não estava iluminado.
- Não houve isolamento adequado da Rua Frei Caneca, via de escoamento das alegorias, permitindo a circulação desordenada de transeuntes.
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Como foi o acidente
A tragédia foi na noite de 22 de abril de 2022, durante o desfile da Série Ouro, a divisão de acesso ao Grupo Especial.
Algumas testemunhas contaram que Raquel subiu no carro alegórico da Em cima da Hora, que estava parado na rua. Já uma amiga da família disse que a menina estava apenas perto do conjunto.
Quando o veículo começou a ser empurrado, a 200 metros do portão de saída da Apoteose, já na Rua Frei Caneca, Raquel acabou imprensada contra um poste.
O que disseram os interrogados
Antônio Francisco dos Santos, mecânico do carro alegórico
- A estrutura metálica à frente do carro para acoplamento não foi alterada e consistia num anexo treliçado.
Carlos Eduardo Pereira Cruz, motorista do reboque da empresa Carvalhão
- Dois guias o auxiliaram no reboque: um à frente, um à esquerda.
- Da sua cabine, pelos retrovisores, era possível enxergar os “queijos” — plataformas para destaques — nas laterais da alegoria.
- Antes do acidente, havia parado o conjunto (carro alegórico e reboque) após sinalização dos guias de que havia crianças e adultos acessando as laterais do carro alegórico.
Reinaldo dos Santos de Oliveira, motorista do carro alegórico
- O motor do carro alegórico morreu, comprometendo os sistemas de direção hidráulica e de freio.
- O acoplamento ao reboque foi feito com correntes.
- Ao ser rebocada, a alegoria oscilava para as laterais e para frente e para trás, e ele não tinha controle por causa da falha do motor.
- Ele percebeu o impacto contra uma estrutura rígida, pelo barulho e pelo solavanco.
- Ele escutou transeuntes falando: “Respira, respira”.
Rodney Dionizio dos Santos Melo, guia frontal do reboque
- Disse ter acompanhado o conjunto (carro alegórico e reboque) desde o seu acoplamento até o local do acidente.
- Informou que não poderia precisar a posição da alegoria, porque a sua função era manter o reboque alinhado.
- Não havia ninguém no lado direito do carro durante o acidente.
- Durante a trajetória na pista, o conjunto fez uma parada por conta de crianças subindo e descendo do carro alegórico.
José Crispim da Silva Neto, coordenador da dispersão e guia esquerdo do reboque
- O acoplamento foi realizado através de correntes fixadas por parafusos.
- Informou que preferiu essa solução a um cambão — peça usada para guinchos.
(Fonte:G1)