Esta quarta-feira (20) foi marcada por um protesto de estudantes universitários em Marabá. Eles foram às ruas para denunciar um descaso de décadas: a precarização do transporte público. A manifestação se concentrou em frente à Unidade I da Unifesspa, na Folha 31, região central da Nova Marabá. De lá, eles foram até a sede da Prefeitura e montaram um verdadeiro piquete na antessala do Gabinete do Prefeito, onde pressionaram representantes do Executivo Municipal e ficou definido que na semana que vem haverá uma reunião sobre o assunto.
Dessa reunião, devem participar integrantes da Comissão Municipal de Transporte, secretários de Infraestrutura e também de Segurança Institucional, além de representantes da empresa de ônibus e do Ministério Público.
Os estudantes fizeram relatos sobre o problema que estão enfrentando para chegar à escola, devido à falta de mobilidade urbana, sobretudo porque a Unidade III da Unifesspa fica na Cidade Jardim, cujo acesso se dá pela BR-230 em um trecho inabitado, onde o transporte coletivo é escasso.
Leia mais:A realidade de grande parte dos estudantes é sair de casa às 5h da madrugada e chegar às 10h da noite, o que os coloca em situação de risco, sobretudo para as mulheres, que andam com medo de assalto e também de assédios.
Mas os estudantes fizeram questão de deixar bem claro que o protesto não se limita a atender às reivindicações deles e sim de todos os usuários do precário sistema.
De acordo com Yukari Moreira, estudante de Ciências Sociais, os estudantes, assim como os trabalhadores, precisam se unir em torno dessa causa, para que os moradores dos bairros periféricos geograficamente não continuem sendo excluídos. “Todos nós queremos um transporte de qualidade, que é prometido há muito tempo e não é atendido”.
A Prefeitura repassa mais de R$ 800 mil por mês para o transporte privado e isso não é justo com os trabalhadores”, reclama, acrescentando que os estudantes precisam lutar também por passe livre.
Tião é alvo de críticas
O prefeito Tião Miranda foi citado nominalmente, várias vezes, pelos estudantes que fizeram uso do microfone. As críticas foram direcionadas a ele. “Como é que uma prefeitura de uma cidade que comporta quase 300 mil estudantes ainda não estruturou e não consolidou uma política de mobilidade urbana?”, questiona Caede Alves, acadêmico de Letras, que integra o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Unifesspa.
Ele destacou ainda que o prefeito deveria dar mais atenção à universidade e honrar os estudantes que trabalham e estudam, enfrentando a precariedade do sistema de transporte.
O ativista alerta que há estudantes que estão desistindo dos seus cursos “justamente porque essa porcaria de mobilidade urbana aqui em Marabá não está dando garantia de futuro pra nenhuma juventude”.
Caede observou ainda que governar uma cidade “não é somente tapar buracos, não é somente fazer pracinha, nem pegar na mão do governador quando ele vem aqui”.
Maísa Carvalho, também estudante de Letras e integrante do DCE, observou que a cidade é muita rica, mas “o prefeito e os vereadores não se importam com a população que depende do transporte público”. A universitária lembra que nenhuma dessas autoridades faz uso do transporte coletivo, talvez por isso estejam tratando a situação com tanto descaso.
Sindicato apoia estudantes
A manifestação dos estudantes recebeu apoio do Sindicato dos Docentes da Unifesspa. Os professores estão preocupados com um possível aumento da taxa de evasão escolar por causa dessa precariedade na mobilidade urbana. O SindUnifesspa entende que os empresários do setor e a prefeitura precisam ser cobrados a apresentar um sistema que atenda a esse público.
Ainda de acordo com o SindUnifesspa, a educação vem sofrendo cortes em nível federal, pelo atual governo, e em nível local a situação também é complicada, sobretudo porque falta um projeto de mobilidade urbana que enfrente as dificuldades geográficas da cidade, cujos núcleos habitacionais são muito esparramados, fazendo com que os estudantes percorram grandes distâncias em busca de um ônibus, que, via de regra, demora a passar.
Um dos professores que esteve ladeado com os estudantes durante o protesto foi Wanderley Padilha. Segundo ele, é dever da prefeitura disponibilizar o direito à mobilidade urbana em Marabá e isso precisa ser um compromisso do prefeito com a empresa de ônibus, porque está claro que o modelo existente não atende à demanda dos estudantes.
O outro lado
Por telefone, o secretário municipal de Segurança Institucional, Jair Guimarães, confirmou uma reunião na semana que vem para tratar sobre a reivindicação dos estudantes, que refletem também um anseio de grande parte da população local.
(Chagas Filho)