Durante o domingo de Páscoa (17), flagelados que estavam no abrigo localizado em uma praça na entrada da Marabá Pioneira, em Marabá, tomaram a decisão de voltar para as suas casas. Com a baixa do rio, que chegou a 9,45 metros acima do normal nesta segunda-feira (18) – abaixo dos 10 metros de alerta – os moradores decidiram ser um bom momento para retornar às residências.
Em conversa com o CORREIO, Priscila Matos da Silva compartilhou o sentimento de estar voltando para seu lar. “A volta para casa é muito maravilhosa porque aqui não é nada fácil. Está sendo difícil, pegaram os fios da minha casa, eu vou mudar sem ter energia elétrica, a instalação foi toda roubada. Então, assim, para mim tá bom, fazer o que? A vida é assim, né?”.
Ela, que mora na Rua São Pedro, revelou que não se sente totalmente segura em fazer a mudança, pois em outras ocasiões já teve que sair de casa durante o mês de maio. O que motivou sua decisão foi o fato de a maioria das famílias instaladas no abrigo já terem se mudando, restando apenas ela e mais três outras, que também estão no processo de saída do local. “Não tinha mais como ficarmos aqui, porque ninguém ia se sentir seguro”.
Leia mais:Priscila relatou também que os quase quatro meses que permaneceu no abrigo foram difíceis, mas que a assistência dada pela prefeitura foi boa.
“Todo mundo está saindo, ficando só nós, estão retirando as coisas, derrubando os barracos. Aí tem que ir embora, né?” falou Italo, outro flagelado que até então estava abrigado no local.
Ao refletir sobre o que incentivou as pessoas a se retirarem do abrigo, ele diz que o fator determinante foi o nível do rio ter baixado para os 9 metros. Morador da Avenida Silvino Santis, Italo informou que esse foi o quinto ano que precisou ser amparado por uma moradia pública provisória.
Apesar de se sentir seguro para voltar para casa, ainda fica um certo receio de um novo repique – que é quando o rio volta a subir. Ele compartilhou que, embora sinta vontade de mudar da Velha Marabá para um local onde não haja alagamentos, a atual condição de desemprego é um dos fatores que impossibilitam a troca de residência.
Em conversa por telefone com Marcos Andrade, assessor da Defesa Civil, a Reportagem apurou que a ação dos abrigados de se retirarem do local não foi coordenada junto ao órgão. “A orientação era para quando o rio baixasse para oito metros, o que diminui o risco de uma chuva causar uma nova enchente”.
Marcos relatou que o ato foi realizado pelos flagelados durante o feriado, devido à pouca fiscalização, e que não foi apenas no abrigo da entrada do bairro Pioneiro, mas em todos os 23 abrigos da cidade.
Até o dia 11 de abril, data em que foram entregues as últimas cestas, colchões, águas e botijões de gás, havia cerca de 700 famílias alojadas. Já na manhã desta segunda-feira (18), uma média de quatro famílias permaneciam nos locais. A previsão é de que até o próximo feriado as acomodações já estejam vazias.
“A defesa civil entende que o conforto de casa é muito importante, mas também que não é certo levar a estrutura do abrigo, pois é um bem público, que é necessário prestarmos contas depois”, desabafou ele sobre a ação que algumas famílias tiveram, de retirar telhas e madeiras das estruturas e levarem consigo.
Considerando isso, Marcos explica que caso o rio volte a subir e um novo alagamento aconteça, a prefeitura terá de refazer os abrigos, ocasionando mais tempo para que as pessoas sejam retiradas dos locais de risco.
Por conta do abandono dos abrigos e das estruturas saqueadas, equipes já foram mobilizadas para realizarem a limpeza dos locais, retirando os materiais que ficaram para trás.
No pico da enchente, os barracões alojaram 1.151 famílias, de um total de oito mil atingidas. (Luciana Araújo)