Cercado por dois rios generosos, o marabaense foi criado com o mito da água em abundância, dando a impressão de que é um bem infinito. Principalmente a geração mais velha, sempre presenciou muitas enchentes e avaliou que o produto nunca acabará.
Por aqui, nunca imaginamos que a seca seria um problema crônico somente no semiárido do Nordeste. Porém, este recurso natural, tem mostrado a cada dia que sofre com as intervenções humanas no meio ambiente e às mudanças climáticas e pode não subsistir. Enquanto não fica escassa, a água dos rios – e até as subterrâneas – tem sua qualidade questionável.
A enchente deste ano escancara uma realidade estranha em Marabá. Foram três enchentes em uma neste inverno e o nível do rio não dá sinais de que vai baixar. A gangorra do sobe e desce é incomum e pode apontar para o fato de que as muitas hidrelétricas no Rio Tocantins tenham influência sobre esse fenômeno.
Leia mais:Enquanto isso, milhares de famílias amargam quase três meses vivendo em cubículos dos abrigos improvisados pela Prefeitura em diversos pontos da cidade.
Garantir o acesso à água de qualidade a todos os brasileiros é um dos principais desafios para os próximos gestores do país. Culturalmente tratado como um bem infinito, a água é um dos recursos naturais que mais tem dado sinais de que não subsistirá por muito tempo às intervenções humanas no meio ambiente e às mudanças do clima.
Em várias regiões do país, já são sentidos diferentes impactos, como escassez, desaparecimento de nascentes e rios, aumento da poluição da água. Os especialistas alertam que os problemas podem se agravar se não forem tomadas medidas urgentes e se a sociedade não mudar sua percepção e comportamento em relação aos recursos naturais.
Criado pela Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) em 1993, o Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, convida os países signatários da Agenda 21, o plano global de metas ambientais da entidade, a registrar atividades concretas em prol da conscientização do uso e consumo da água.
No Brasil, a celebração ao Dia Mundial da Água vem acompanhada dos primeiros avanços do Marco Nacional do Saneamento, aprovado pelo Congresso em 2020, que prevê a universalização dos serviços de saneamento básico no país até 2033, com 99% da população brasileira assistida com água potável e 90% de tratamento de água e esgoto.
O acesso a água tratada e coleta de esgoto é um direito universal, tanto que ele é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, mas milhões de brasileiros ainda não contam com esse serviço. Segundo dados da Trata Brasil, Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) formada por empresas com interesse nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país, atualmente 46% da população brasileira não tem acesso à coleta de esgoto adequada.
Para atingir as metas previstas pelo Marco do Saneamento, o governo federal prevê realizar investimentos de R$ 70 bilhões em saneamento básico dentro 13 anos. A expectativa é que o investimento privado acompanhe a escalada. “O Novo Marco do Saneamento deve atrair investimentos estimados entre R$ 500 e R$ 700 bilhões até 2033. Para isso, o país vai demandar 700 mil toneladas adicionais de cloro por ano, um volume 40% superior à produção de 1,57 milhão de toneladas no ano passado”, diz Maurício Russomano, CEO da Unipar, empresa líder na produção de cloro e soda na América do Sul e a segunda na produção de PVC na região.
Com a participação de investimentos da iniciativa privada os recursos aplicados no setor cresceram quase 1.000% em um ano. Desde a sanção do Marco Legal do Saneamento já foram realizados oito leilões para concessões do serviço de saneamento básico. Somados, esses processos angariaram investimentos de R$ 37,5 bilhões, que resultaram em 137 obras entregues para atender cerca de 7,5 milhões de pessoas.