Com um sorriso incessante de orelha a orelha e com os olhos brilhando na mesma intensidade de quando foi fotografado com uma árvore de Natal que encontrou no lixão de Piçarreira, no Maranhão, Gabriel Silva, de 13 anos, exibe a nova casa conquistada pela família após sua história repercutir mundo afora. A transformação de vida, que começou em dezembro do ano passado, se materializou há três semanas, momento em que o menino deixou a antiga residência de barro para realizar o sonho de morar em uma feita de tijolos.
Em um vídeo gravado para agradecer às mais de 2 mil pessoas que ajudaram a família a arrecadar cerca de R$ 80 mil através do site Só Vaquinha Boa, Gabriel mostra seu novo lar, composto por três quartos, uma sala e uma cozinha americana, um banheiro com azulejo em xadrez e um quintal para brincar. Ao mostrar cada canto da residência, a cara de felicidade acompanha a câmera. Um dos utensílios simples que duplicou a alegria do menino foi ter um chuveiro.
Leia mais:Nem nos melhores sonhos, Maria Francisca Brecho Silva, mãe de Gabriel, imaginaria que a foto tirada pelo fotógrafo João Paulo Guimarães ajudaria a família a realizar o maior desejo da vida: morar em uma casa digna e mais distante do lixão. Apesar de o local ainda não estar completamente finalizado, a catadora de recicláveis conta que o fato de poder chamar de “seu” já é uma vitória.
— Está tudo ótimo, graças a Deus, é uma alegria que não cabe no peito. Tudo o que eu queria era a minha casa para não sofrer mais humilhação dos outros, o resto eu batalho para conseguir. Estamos felizes porque o dinheiro deu para comprar um espaço mais longe do lixão. Lá era muito ruim de acessar a cidade, era tudo de barro, e aqui é muito melhor para mim e para os meus filhos — relata Maria Francisca, que usará o resto do dinheiro da vaquinha para realizar o acabamento da casa.
A foto que viralizou de Gabriel foi tirada no dia 8 de novembro do ano passado, no lixão de Piçarreira, no município de Pinheiros, a 333 km de São Luís. Ele estava catando lixo desde 7h e ficou muito feliz ao encontrar, no meio da sujeira, uma árvore de Natal. Vendo os olhos fixados do menino no símbolo natalino, o fotógrafo Guimarães, que se tornou o anjo da guarda da família, fez o registro. A proposta de Gabriel era consertar a “relíquia” para decorar a casa em dezembro, e assim o fez.
De acordo com Maria Francisca, as únicas coisas que ela e os filhos precisam agora são de móveis. Por enquanto, ela está dormindo em um colchão no chão, que foi encontrado no lixão, porque cedeu as camas que tinha para os filhos. A residência ainda não possui sofá, guarda-roupa e máquina de lavar. O fogão é emprestado, e a TV foi comprada por R$ 100 em uma loja de eletrodomésticos usados.
— Sabe como é mãe… a gente prefere ficar no ruim para dar conforto para os filhos. Mas não tem problema. Agora para completar o sonho é só ter os móveis da nossa casinha — afirma a catadora de recicláveis.
Toda a mobilização em torno da história de Gabriel e sua família, que sobrevivem da venda de recicláveis do lixão de Piçarreira, despertou atenção do poder público para a necessidade de criar a Associação de Catadores de Pinheiro. Atualmente, a prefeitura fornece uma renda de R$ 100 por mês e uma cesta básica para catadores associados.
A família de Gabriel é uma das beneficiadas pelo programa. No entanto, apesar das conquistas, a situação dentro de casa ainda é precária. Mensalmente, a família sobrevive com cerca de R$ 400 para sustentar cinco pessoas.
— Eu vou permanecer trabalhando no lixão porque é de onde eu tiro nosso sustento. Estou tentando ver um trabalho de gari, mas ainda não deu certo. Enquanto isso, a gente vai levando a vida. Não quero ficar mexendo no dinheiro que sobrou da vaquinha porque é para a gente investir na nossa casa, que depois vai ficar para os meus filhos morarem e construírem as famílias deles — diz Maria Francisca.
Um recente acontecimento que, de certa forma, trouxe alívio a Maria Francisca, é que agora o filho Gabriel pode se dedicar exclusivamente à escola, após um corte no pé impossibilitar o menino de ajudar a mãe. Para preservar a saúde dele, especialmente porque agora a família tem uma casa para chamar de sua, Gabriel pode apenas estudar e brincar, como deve ser a vida de uma criança.
(Fonte:G1)