O delegado Ivan Pinto da Silva, do Departamento de Homicídios de Marabá, concluiu a investigação sobre a morte do detento Yago Teixeira de Araújo, de 19 anos, que foi encontrado enforcado dentro de uma das celas da Central de Triagem Masculina de Marabá (CTMM) no último dia 9. Yago não cometeu suicídio, ele foi morto pelo colega de cela Webert Taylon Ribeiro Sirqueira, porque os dois tiveram uma desavença antes de serem presos, mas agora na cadeia, a cela ficou pequena demais para eles. Há, porém, outro fato preocupante que envolve esse caso: a força das facções Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) dentro das cadeias de Marabá.
Yago era inicialmente membro do CV, desde o ano de 2017, mas depois se revoltou com a facção e migrou para o PCC. Em um vídeo gravado pouco antes de morrer, Yago diz que entrou no Comando Vermelho porque teria recebido arma e drogas, mas agora estaria sendo ameaçado de morte. No final do vídeo, ele rasga uma camisa vermelha que estava usando e promete matar os membros do CV, a quem ele denomina de “facção imunda”.
Mas, mesmo estando na cela com os membros da sua facção, Yago tinha problemas pessoais com Webert. Este, por sua vez, era humilhado pelos outros presos, sendo obrigado a dormir no chão e fazer todas as tarefas de limpeza. Talvez por isso e por serem todos do PCC, Yago imaginou estar a salvo, mas não estava. Webert o surpreendeu durante a madrugada do dia 19 e o enforcou com uma toalha molhada, segundo relatou o próprio acusado ao delegado Ivan da Silva.
Leia mais:O delegado explicou que todos os detentos que estavam na cela da vítima foram interrogados e Webert acabou confessando. Após isso, o detento foi indiciado e a denúncia será remetida ao Ministério Público, que, por sua vez, deve comunicar o fato ao Poder Judiciário para que Webert responda também pelo crime de homicídio.
Sobre a situação nas casas penais de Marabá, uma outra fonte informou à reportagem que quando os detentos dão entrada no Centro de Recuperação Agrícola Mariano Antunes (Crama) ou na CTM, eles são questionados se são membros de alguma facção. Caso sejam, já são colocados na ala onde ficam os outros membros, para não se misturarem e correr o risco de acontecerem assassinatos no cárcere.
O procedimento pode ser visto com bons olhos porque é uma precaução dos agentes prisionais, que tentam garantir a integridade física dos detentos e deles próprios, pois uma briga generalizada poderia resultar em morte de algum agente também. Mas, por outro lado, todo esse cuidado revela também o poder das facções, que são capazes até mesmo de interferir no procedimento dos agentes penais.
A Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe-PA) foi procurada, por e-mail eletrônico, para falar sobre o assunto, mas a Assessoria de Comunicação Social da instituição explicou que não comenta informações relacionadas a procedimentos de rotina operacional dentro das unidades prisionais do Estado, por questões de segurança institucional.
Saiba mais
Yago Teixeira foi preso no dia 6 de junho, acusado de assaltar um estudante em via pública na Nova Marabá, à luz do dia. Para seu azar, o assaltante foi reconhecido por uma testemunha que o denunciou à Polícia Militar e Yago foi preso em flagrante, ainda com o celular da vítima. Ele durou apenas 33 dias na cadeia.
(Chagas Filho)