Correio de Carajás

Chacreamentos na região do São Félix causam alerta em Marabá

Expansão desordenada no entorno do Núcleo São Félix expõe omissão de fazendeiros e deixa herança de problemas para o município

Marabá, atualmente, possui uma população estimada em quase 300 mil habitantes. Com o crescimento, de certa forma desordenado, nos últimos anos, com novos perímetros urbanos, a cidade expandiu em todas as direções.

Um dos núcleos que mais vem chamando a atenção para novos empreendimentos, seja no setor de moradia ou comércio, é o São Félix, que sozinho já é maior do que muitas cidades da região, como Nova Ipixuna e Bom Jesus do Tocantins, por exemplo.

Com mais de 90 anos de existência, o bairro está localizado do outro lado do Rio Tocantins, com acesso pela ponte rodoferroviária, e tem crescido de forma vertiginosa, principalmente depois que residenciais populares foram instalados no entorno.

Leia mais:

No início, o núcleo era composto pela população, em sua maioria, de trabalhadores rurais e pouco vinculados à vida urbana de Marabá. Contudo, com a expansão e o crescimento da cidade, o lugar se tornou um dos pontos mais procurados para investimentos.

Como tudo não são flores, o bairro passa por muitas dificuldades, como a má qualidade no serviço de transporte público, a falta de energia elétrica constante e, agora, os famosos chacreamentos, que surgem de forma desordenada e acarretando muitos problemas para os clientes-moradores e também para o poder público municipal.

O povoamento de imóveis rurais que estão sendo transformados em pequenos sítios está chamando a atenção pela sua popularidade. O chacreamento é um empreendimento que tem se tornado cada vez mais presente no cotidiano dos marabaenses, que buscam por um “pedaço de chão” e tranquilidade longe do barulho da cidade.

De acordo com Márcio do São Félix, esse assunto tem gerado preocupação, por conta de problemas com energia elétrica e falta de saneamento. “Muitas pessoas adquiriram pequenas chácaras pela facilidade de pagamento e pelo sonho de ter um espaço na roça para ir aos finais de semana. “Não há transporte coletivo para aqueles lugares. Não conseguimos atender nem a área urbana. O município está implantando escolas em todos os chacreamentos que estão sendo criados, mas tem que ter transporte escolar para a criança, e já vêm mais desafios para a Prefeitura atender tudo isso”, fala.

Márcio do São Félix explica que Plano Diretor Municipal precisa disciplinar os chacreamentos

O vereador ressalta que os moradores dos chacreamentos não são invasores nem posseiros, são clientes. “Tenho amigos que são empreendedores desse segmento. Eles simplesmente pegam a área, fracionam e entregam. Ocorrem alguns crimes ambientais, mas aí é outra área a ser discutida. Eles não fazem nenhum levantamento georreferencial. Quem compra no verão, só no inverno vai descobrir que a sua área vira um alagado e a estrada não permite chegar. Aí vem procurar o Poder Público, e eu sou muito transparente em dizer que o governo tem sua responsabilidade. Porém, existem obrigações que são do investidor, que vende essas áreas”, adverte Márcio.

Ele ressalta que, sem nenhum tipo de recolhimento de impostos, a área não tem documentação e avalia que os donos das fazendas deveriam ir ao Incra fazer o fracionamento da área, o que invariavelmente não ocorre.

“A realidade é que os clientes que adquirem os chacreamentos estão sendo lesados e querem que o Poder Público intervenha com rede elétrica, saneamento, estrada. Os consumidores devem reclamar seus direitos com o investidor e não transferir para o Poder Público o que é obrigação do empreendedor, que está aferindo lucros exorbitantes sem recolher um centavo de imposto”, finaliza, indignado.

Dilema do Magalhães

Para o vereador Márcio do São Félix, a falta de aparato dos serviços básicos, como transporte, energia elétrica e estradas em vias de trafegabilidade, não acompanha o ritmo acelerado do Núcleo São Félix. E o retrato mais recente desse dilema é o Residencial Magalhães, onde foram construídas casas populares pelo governo federal, e invadidas posteriormente por milhares de famílias.

“Mesmo a privatização da companhia elétrica (Equatorial), não foi o suficiente para acompanhar as demandas do bairro. Temos esse problema que é emblemático no São Félix e o loteamento Novo Progresso está sendo prejudicado por tabela. Me compadeço dos moradores de lá porque eu acompanho e faço parte do grupo de Whatsapp de moradores”, explica o parlamentar.

Segundo ele, os moradores já solicitaram a regularização da energia elétrica do local. “Eles não estão satisfeitos. Usam ligação clandestina. A rede foi dimensionada para atender o Novo Progresso. Quando foi criado o Magalhães, que hoje tem cerca de 2 mil famílias, a rede de energia foi pra lá. Todos têm seus eletrodomésticos, alguns centrais de ar, e isso tem acarretado uma série de problemas. A distribuição que seria para um local, está sendo utilizada por outro, causando prejuízo nos dois, Novo Progresso e Residencial Magalhães”, lamenta.

De acordo com o vereador, a Equatorial Energia já foi informada, e esta por sua vez pediu autorização à Justiça Federal para resolver o problema de forma emergencial, mas ainda não recebeu liberação.

“O poder público não pode investir, e como as concessionárias não podem oferecer esse serviço, nós temos que entrar nessa questão do bom senso”, ressalta.

(Ulisses Pompeu e Ana Mangas)