“Muitos homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir da leitura de um livro”. A frase dita por Henry David Thoreau pode ser usada para parafrasear (com muito louvor) Thalyta Yasmin Gouveia, de 14 anos. A estudante no 9º ano da Escola Municipal Inácio de Sousa Moita, que é apaixonada pelos livros, principalmente os de ficção científica, é um exemplo de que os estudos e a leitura são capazes de mudar – para melhor – sua vida.
Moradora do Bairro Araguaia, no Núcleo Nova Marabá, em Marabá, Thalyta divide uma pequena casa com a mãe e a irmã. Com piso grosso, paredes rebocadas sem pintura e um telhado sem o forro, aquela casinha simples e quase sem móveis é um local que abriga força, união e determinação de três grandes mulheres, que mesmo com as dificuldades lutam por um futuro melhor.
“Eu quero ir o mais alto que eu puder chegar. Gostaria de ser alguém na vida e, além de dar orgulho pra minha família, quero poder ajuda-los”, diz a jovem leitora.
Leia mais:Possuindo um acervo de mais ou menos 50 livros, Thalyta conta que tinha muito mais, mas que acabaram se perdendo com o tempo, já que ela não possui um local apropriado para guardá-los.
“Eu tinha uma grade de ferro que colocava, mas ficou tão pesado que caiu tudo. Aí coloquei em cima da mesa da sala. Mas, às vezesm respiga água da chuva, molha, suja… muitos foram se perdendo por eu não ter uma estante”, lamenta.
Com o sonho de guardar os livros que ganhou dos pais e de doações, Thalyta sabe da importância de cada livro e de cada página. Aliás, a paixão pelos livros iniciou aos 9 anos de idade, durante uma competição de leitura na escola. “Quem ficasse nos três primeiros lugares ganhava alguma coisa. Na época meus pais me incentivaram muito. E em duas vezes eu fiquei em segundo lugar”, relembra.
Depois disso, Thalyta não ficou mais sem ler. Tomou gosto pela leitura e percebeu que com o tempo até suas notas na escola foram melhorando.
Durante esse período, a menina serviu de inspiração para a mãe. Sem saber, foi uma grande incentivadora para que a mãe retornasse aos estudos. “Só fui saber disso depois. Ela me disse que foi vendo que fui pegando gosto pelos livros, ficando com as notas melhores e ela pensou: ‘preciso ajudar minha filha quando ela precisar de mim’, e então ela foi estudar. Lembro que minha mãe passava a noite toda estudando sozinha vendo vídeos no Youtube. Ela conseguiu finalizar o ensino fundamental, depois o ensino médio, e passou na Universidade Estadual do Pará para o curso de Engenharia Ambiental”, orgulha-se.
Sobre o futuro, Thalyta afirma que ano que vem inicia uma nova etapa: o ensino médio. A jovem espera continuar com boas notas e gostaria de começar a trabalhar. “Quero conseguir experiência e qualificação profissional, conhecer novas pessoas e adquirir responsabilidade”, diz a estudante, que sonha em cursar medicina e prestar concurso para perito criminal. Isso mesmo. Quer ser perita criminal.
Professora emocionada e surpresa
Há 14 anos, Luciana Furtado é professora da rede municipal de Marabá e sabe do papel fundamental que o professor tem em orientar e incentivar os alunos para o hábito da leitura.
Responsável por lecionar Língua Portuguesa, Luciana conta que Thalyta começou a chamar sua atenção durante as aulas remotas. “Ela sempre foi muito tímida, mas de vez em quando vinha no privado conversar comigo e pedir ajuda em alguma tarefa, ou então pedia sugestão de leitura. Eu passei nomes de livros que achava interessante, falei pra ela de algumas formas de leitura pela internet e de livros em pdf”.
Mesmo tímida e muito quieta, Thalyta sempre foi muito participativa. A docente afirma que a aluna nunca deixou de entregar nenhum exercício, não falta às aulas e sempre é uma das primeiras a entregar as atividades escolares.
“Não é comum ver adolescentes, aos 14 anos, apaixonados por livros como a Thalyta. E nós, professores, principalmente os de português, estamos sempre destacando a importância dos livros e da leitura. Hoje está muito mais fácil ter acesso, antes pra você ter o mínimo precisava ter dinheiro, porque os livros são caros. Mas, infelizmente, a maioria dos alunos tem muita preguiça de ler”, lamenta.
Sobre Thalyta
“Ela é realmente surpreendente. Ela é diferente porque as dificuldades que encontrou não foram empecilhos para que desistisse. E é isso que a gente coloca em sala de aula, nada deve ser obstáculo quando você quer algo. A escola pública promove muitas oportunidades”, se emociona a professora, afirmando que tudo o que tem hoje é graças a escola.
Por fim, a educadora deixa uma mensagem de esperança para a menina que no próximo ano não será mais sua aluna: “Você tem um grande potencial. Continue acreditando nos seus sonhos e em você mesma”.
Os pais se separaram e agora a mãe de Thalyta trancou a faculdade de Engenharia Ambiental na UEPA para poder ir atrás de um emprego e prover alimentos para ela e as duas filhas. Quem quiser entrar em contato com a mãe de Thalyta para doar uma estante (ou até alimentos) para a jovem leitora pode ligar para o número 94-99134-2631. (Ana Mangas e Ulisses Pompeu)