Correio de Carajás

UEPA forma primeiros profissionais graduados em Letras-Libras em Marabá

Nesta quarta-feira (27), aconteceu a formatura da primeira turma do curso de Licenciatura Plena em Letras-Libras, do Campus da Universidade do Estado do Pará, em Marabá.

A turma foi iniciada em agosto de 2017, para a qual foram ofertadas 20 vagas para alunos ouvintes e 20 vagas para alunos surdos. A classe iniciou com 30 alunos, entre eles seis surdos.  “Foi uma caminhada com muitas dificuldades, principalmente pela falta de intérprete no início. Mas conseguimos. Foi uma experiência muito gratificante, uma troca muito boa e um grande aprendizado, tanto para o professor como para o aluno”, resume a professora Raissa da Silva, docente da UEPA que trabalha diretamente no curso de Letras-Libras e é coordenadora do Núcleo de Acessibilidade em Educação e Saúde (NAES).

Professora Raissa da Silva afirma que foi um grande aprendizado a turma de Libras

Assim que o curso foi aprovado, Raissa conta que o próximo passo era a respeito da comunicação. Foi, então, que a coordenação da universidade optou para que todos do ambiente institucional – alunos e colaboradores – pudessem se comunicar com a turma aprendendo a língua.

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“Foram feitos cursos e oficinas para os servidores e para a sociedade. Buscamos parcerias com outras instituições e tivemos mais de 7 turmas, com 20 alunos cada”, relembra.

Com o andamento e o sucesso da turma, a previsão é que uma nova turma seja iniciada ainda em dezembro de 2021. “A comunicação surgiu naturalmente na instituição, como forma de ampliar a nova linguagem. O desafio da língua portuguesa e das libras é o mesmo, tanto para o ouvinte como para o surdo”, garante Raissa.

O Portal Correio de Carajás esteve no Campus VIII da UEPA e conversou com Hugo de Araújo Freire, 39 anos, um dos alunos surdos formandos. Com a ajuda da intérprete Mircelane Moreira, ele falou sobre a felicidade de pegar o diploma após 4 anos de muito estudo. “Estava ansioso por esse momento. Foi um prazer estudar na UEPA”.

Hugo ressaltou que no início do curso teve muita dificuldade, por conta da falta de intérprete na instituição. “Foi complicado. A gente se organizava, outros amigos que já sabiam um pouquinho ajudavam também. Mas no começo eu ficava só olhando eles falarem. Aos poucos fui fazendo amizades e foi tendo uma troca, eu ensinando libras e eles me ensinando português”, detalha Hugo.

Hugo Freire deseja que as pessoas sejam estimuladas ao ensino das libras

Formando em Pedagogia e Educação Física, Hugo deu início a um mestrado na Unifesspa e hoje, conclui a formação em Letras-Libras.

Sobre o futuro, ele só deseja coisas boas. “Vou ser professor de língua portuguesa para surdos. Vai ser maravilhoso. Quatro anos de estudo, quero colocar em prática. Agora é a formatura e agradeço a Deus. Espero ajudar a sociedade”, fala emocionado.

Mesmo com as formações e o trabalho como servidor público na Prefeitura Municipal de Marabá, Hugo ainda lida com o preconceito de todos os lados. “Eu percebo. Tem preconceito. A sociedade é assim, tem preconceito com os deficientes. Os ouvintes são preconceituosos. Mas vamos quebrar barreiras. A UEPA está mudando a visão das pessoas”.

Ao Correio de Carajás, o futuro professor de língua portuguesa em libras finaliza a entrevista deixando uma reflexão para a sociedade:

“Cadê a acessibilidade? As pessoas precisam ser estimuladas ao ensino das libras. A gente vai em diversos lugares e não tem. Ficam olhando porque são surdos e não sabem como falar. É pela escrita? Não. Surdo tem sua língua, a sociedade tem que aprender”. (Ana Mangas)