De Marabá, sudeste do Pará, com intercâmbio no Maranhão e de peito aberto para o mundo, AQNO lança seu primeiro álbum “O Retorno de Saturno” nesta quarta-feira, dia 27 de outubro. Aos 33 anos de idade, sendo seis vivendo com HIV, o artista se agarra a suas descobertas, processos e aprendizados ao desengavetar onze composições próprias, sendo dez delas inéditas, feitas na última década e que constroem este disco que ressignifica suas diversas vivências. Com referências no brega paraense, reggae do Maranhão e pop universal, com toques de ritmos latinoamericanos, o compilado tem produção musical de Sandoval Filho.
Com faixas que dialogam entre si e representam essas reflexões, o artista trabalha a partir dos símbolos do planeta saturno e da cigarra, como referenciais para a construção de sua obra. “É sobre respeitar os nossos processos, nosso tempo para resolver conflitos internos, mesmo que seja lento. Saturno leva cerca de 30 anos para dar uma volta inteira ao redor do sol e a cigarra vive aproximadamente 17 anos embaixo da terra, se alimentando da seiva das árvores, até emergir, romper a carapaça e soltar seu canto reprodutivo. E esse sou eu: AQNO, um homem gay, que vive com HIV e, aos 33 anos, reconfiguro meu modus operandi afetivo. Me resolvi em processos lentos, subterrâneos, solitários e agora me sinto pronto para romper e soltar meu canto”, comenta.
Mesmo criadas ao longo de dez anos, as onze faixas se interligam para contar o processo do artista dentro de relações vividas, como uma “colcha de retalhos afetiva”, segundo o que ele define. “Na maioria das vezes eu me sabotava ao me entender vivendo com o HIV. Havia muita carência, medo de ficar sozinho, ser julgado, culpa, raiva. Mas chegou a hora de ter esperança, vontade de amar, me jogar nos afetos com leveza e liberdade”, completa.
Leia mais:Para a criação do álbum, AQNO e Sandoval Filho passaram por uma verdadeira imersão, morando por sete meses em São Luís, capital maranhense, onde o trabalho foi produzido. O resultado foi a mistura regional de ritmos como o brega do Pará com o reggae do Maranhão, que já pôde ser conferida em “Desaglomerô”, o carro-chefe do álbum, lançado em agosto. “Esse intercâmbio impulsionou ainda mais a troca entre nós dois, que foi extremamente fluida. Eu e Sandoval nos demos muito bem musicalmente. O fluxo foi intenso, leve e produtivo. É muito desafiador o produtor entrar no seu mundo, na sua cabeça, visualizar o que está ali e criar em cima do que ele interpretou. E esse foi o ponto chave: ele teve muita liberdade e autonomia”, explica o artista.
Natural de Gurupi – Tocantins, Diego Aquino, o AQNO, vive em Marabá há 17 anos. Sua relação com a música começou desde cedo, mas está na cena local desde 2013, quando passou a participar de festivais de música autoral. Sua maior inspiração para compor é Lenine: “sempre fui fã de sua musicalidade e a forma como canta e escreve”, explica. Também instrumentista com teclado e violão, tem como principais referências Elis Regina, Clara Nunes, Maria Bethânia, Ângela Ro Ro e Ney Matogrosso. Reforça também a importância do movimento tropicalista com Caetano, Gil e os Novos Baianos, artistas paraenses como Fafá de Belém, Wanderley Andrade, Companhia do Calypso, Banda Fruto Sensual e artistas internacionais como A-ha, Queen e Michael Jackson para sua trajetória.
Faixa a Faixa
“Mapa Astral” abre o álbum com um “lamento sertanejo”, inspirado em Luiz Gonzaga e João do Valle, com base em sons psicodélicos para dar a impressão de viajante do espaço que chega na lua de Saturno e que vai contar essa história do disco em diálogo com a identidade visual. A letra brinca com os signos do horóscopo e já sinaliza que as demais faixas contemplam todo e qualquer ser do universo.
Em seguida, “Cigana”, uma mistura do brega nordestino de Reginaldo Rossi com um toque de acordeon, traz referência direta à “Libertango” da Grace Jones. Como uma continuidade da canção anterior, a lírica entrega mais ceticismo, com a figura sarcástica de uma cigana que se recusa a trazer o amor de volta caso ele seja um “boy lixo”.
A terceira faixa do álbum é “Treta”, um “forrock” – mistura de rock dos anos 70, que bebe da fonte de Raul Seixas, com órgãos muito expressivos, caixa de bateria mais seca, misturado ao forró das antigas, de bandas como “Magníficos”, “Limão com Mel”, com metais bem extravagantes. A música conta com alguns elementos de piseiro também. “A letra é curta e grossa: é uma denúncia contra o desamor”, dispara.
Nessa toada, AQNO entrega logo depois “Boy Lixo”, uma bachata clássica com beats eletrônicos, com base no violão e solos de guitarra divididos com bandolim. A canção ganha uma crescente com presença de metais no último refrão, com forte tom mexicano.
“Desaglomerô”, o hit pop do álbum que foi lançado previamente com videoclipe que ultrapassa 26 mil visualizações no Youtube, é o “breggae” já citado, que faz uma referência direta a esse intercâmbio cultural realizado na criação do disco. A letra é uma inquietação sobre o cenário que vivemos de caos político, sanitário, emocional que caminha junto com questionamento de quando tudo isso vai passar para retomarmos o afeto.
Em seguida, “Eu Não Sou Pra Casar”, questiona o sistema de afeto normativo. “É a canção mais antiga do projeto, escrevi em 2011 e é bem conhecida em rodas que me apresento. Já passou por salsa, reggaeton, carimbó, mas ainda não tinha encontrado a musicalidade dela”, comenta o artista que, junto ao produtor, transformou a música em uma cumbia, com beats eletrônicos, guitarradas e metais.
“Tô Em Outra”, uma balada soul romântica é definida como a música de novela do álbum. Inspirada em Shade, envolvente e sexy, explora a voz do artista nessa letra que traz a continuidade: “se não quer, a fila anda”.
A oitava faixa é “Devagar”, um blues sensual, que mistura beats eletrônicos com base harmônica vocal e evolui para um instrumental com órgão, piano e baixo muito presentes. “Ela foi composta em meio a muito caos emocional, o desejo de um coração cansado de amores agitados por uma viagem emocional mais madura e atenta à trajetória”, comenta.
Já o funk/disco/latino “Incubus” apresenta metais expressivos, backing vocal que faz cama para o groove escrito em 2011, mas que foi revisitado e finalizado durante a pandemia. Sua história é sobre o alívio e desejo por um amor leve e tranquilo, com reflexão sobre a cicatrização de feridas antigas.
A divertida “Sanguessuga” faz o diálogo entre o pop anos 80 com uma pegada country que chega em um tecnomelody: “É o que define o nosso pop amazônico. A letra traz um amor que volta achando que vai abalar tudo, mas a gente coloca o boy no lugar dele. É o grito pop do meu disco, onde dou o meu nome”.
“Don’t Say Goodbye” fecha o disco com inspirações em Letrux, Lady Gaga e bebe da vibe da música anterior, que dilui o disco e encerra com uma pegada mais eletrônica, com muito sintetizador, mistura de textura vocal que conclui a mensagem final do disco: causa emocional, se revolver para dar os próximos passos.
Ficha Técnica
PRODUÇÃO MUSICAL: Sandoval Filho
GUITARARRA, BAIXO, TECLADO, BATERIA, ACORDEON, BANDOLIM, VIOLÃO: Sandoval Filho
TROMBONE: Derkian Monteiro
SAXOFONE: Sarah Byancci
TROMPETE: Thalysson Nicolas
PERCUSSÃO: Dark Brandão
BACKING VOCAL: AQNO
Gravado, mixado e masterizado por Sandoval Filho no Blackroom Estúdio em São Luís do Maranhão
Viabilizado pelo Governo Federal por meio da lei Aldir Blanc e da Secretaria de Cultura do Estado do Pará.
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Fernando Assunção
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