É óbvio que o respeito e a colaboração entre as polícias Civil e Militar continua. Mas está nítido que há um certo mal-estar entre as duas instituições depois da prisão de três policiais militares acusados de dar fuga a três membros da quadrilha que assaltou o Banpará de Bom Jesus do Tocantins.
Pelo lado da PM, dois representantes da instituição, que são vereadores em Marabá e Belém, fizeram graves acusações aos policiais civis que fizeram as prisões. Já pelo lado da Civil, a instituição apenas divulgou uma nota assegurando que todo o procedimento ocorreu dentro da legalidade.
Para a Imprensa de Marabá, o vereador Sargento Silvano, de Belém, disse que não questiona a investigação tocada pela Polícia Civil, mas critica a forma como os três militares, que estavam de serviço, foram tratados. Segundo ele, os policiais retiraram os PMs da viatura, os torturaram, os agrediram e os algemaram. “Não posso concordar com ato arbitrário dessa equipe de policiais civis que não respeitaram a Polícia Militar”, vociferou.
Leia mais:Na visão dele, se houve algum erro da guarnição o procedimento seria comunicar o oficial de dia. “Agrediram, espancaram e humilharam três pais de família”, acusou novamente, acrescentando que os policiais civis agiram “de forma cruel e desumana”. Acrescentou ainda que até prova em contrário, os militares são inocentes.
Por sua vez, o Cabo Rodrigo, que é vereador em Marabá, deu a seguinte explicação: “Nossa lei específica fala que nós temos superiores, então se a Polícia Civil estava investigando e tinha elementos contundentes para autuar esses policiais em flagrante, eles tinham que acionar o comanda do 4º BPM, a Corregedoria, o oficial de dia e localizar os policias”, explica.
Ele vai mais longe e lembra que os pais de família têm residência fixa, emprego público e jamais iriam fugir. “Foi um ato covarde, de torturar os policias de serviço numa viatura do Estado”, acrescenta, ao dizer ainda que os policiais garantiram a ele que não devem nada no caso.
CIVIL EMITE NOTA
No site da Polícia Civil, foi publicado, ainda na quinta-feira (12), uma nota sobre a prisão dos policiais militares acusados de envolvimento com o grupo criminoso que assaltou uma agência bancária em Bom Jesus do Tocantins. “Todos os procedimentos adotados pelas equipes de policiais civis, desde a prisão dos acusados até a formalização dos procedimentos policiais foram realizados dentro da legalidade e sem cometimento de quaisquer atos arbitrários”, diz a nota.
Ainda de acordo com o documento, a Polícia Civil esclarece que, de imediato, após as prisões dos policiais militares, a Corregedoria da Polícia Militar, bem como o comandante regional da PM, foram comunicados e acompanharam os procedimentos tomados pela Polícia Civil. Os policiais militares ficaram custodiados em local separado e foram submetidos a exames de corpo de delito na própria sede da Polícia Civil de Marabá, para onde foram levados inicialmente.
A Polícia Civil ressalta que a investigação de crimes é impessoal e isenta de interesses particulares visando unicamente identificar os responsáveis pelos atos criminosos com vistas à punição dos culpados, sem macular a imagem de quem quer que seja.
“A Polícia Civil salienta que atua sempre com a fundamental integração com a Polícia Militar nas ações de enfrentamento à violência no Estado, parceria essa que está acima de qualquer manifestação de cunho político”, diz o trecho final da nota.
Policiais estão presos em Santa Izabel
Os três policiais militares presos em flagrante, acusados de auxiliar na fuga dos suspeitos, se encontram recolhidos no Presídio “Coronel Anastácio das Neves”, em Santa Izabel do Pará, informou a Polícia Civil, por meio de seu site oficial.
De acordo com o delegado-geral, Claudio Galeno, durante a revista da viatura dos PMs, foram encontradas duas carabinas Magal calibre ponto 30 e dois fuzis Mosquefal calibre 762, além de munição de calibres 762 e ponto 30; as três pistolas dos PMs também foram apreendidas. Na mochila de um dos presos, foram encontrados ainda: um rádio comunicador, um capuz tipo balaclava e luvas.
Em depoimento, os três presos confessaram participação no assalto e disseram que os PMs estavam no local para resgatá-los; as armas e munições apreendidas pertencem à PM. As investigações continuam para identificar e prender os demais envolvidos no assalto. O delegado Claudio Galeno enfatizou que as corporações policiais não toleram qualquer desvio de conduta por parte de seus agentes.
O cabo Rusimuller Souza, oficial da Corregedoria da PM, explica que, a partir das investigações realizadas pela Polícia Civil e a prisão de policiais militares, o órgão correcional da Polícia Militar passou a acompanhar a apuração do assalto ao banco.
Dessa forma, os PMs irão responder a um processo administrativo na Corregedoria, além do processo criminal que já estão respondendo. Eles estão passíveis de possível exclusão da PM. O processo administrativo vai tramitar por 30 dias, que podem ser renovados por mais 20 dias e, ao final, um Conselho de Disciplina irá fazer o julgamento do processo. (Fonte: Ascom/Polícia Civil)
Comandante mantém postura de isenção
Também ouvido pelo jornal, o coronel Franklin Roosevelt, comandante do 4º Batalhão de Polícia Militar, tratou o caso da maneira mais serena possível. Segundo ele, a postura do comando – nesses casos – é de isenção, de lisura. Mas sempre lembrando que os militares, como qualquer cidadão, terão direito à ampla defesa e ao contraditório, enquanto a Polícia Militar instaurará processo no Conselho de Disciplina para verificar se eles têm ou não condições de permanecer na corporação.
O comandante disse que fica triste com essa situação, constrangido de ter policiais que, em tese, são acusados de envolvimento em coisas erradas. Mas garante dar todo apoio para os órgãos correcionais para que façam todos os trabalhos e, ao final das apurações, quem tiver culpa que pague pelo seu erro. Mas todos terão direito de provar sua inocência. (Chagas Filho)
SAIBA MAIS
Os policiais militares presos na operação foram os sargentos Valdenilson Rodrigues da Silva e Giomar Sampaio de Oliveira, e o cabo Moisés Lourenço Pereira, lotados em Nova Ipixuna. Já os três homens acusados de participação no assalto foram identificados com Marcos Roberto de Morais Araújo, 28 anos, o Neguinho; Marco Antonio Freitas de Souza, 37, o Professor; e Pedro Henrique de Carvalho Oliveira, 31