- Enganoso
- É enganosa a publicação em um site conservador brasileiro afirmando que “Anvisa confessa ineficácia de máscaras e diz se basear apenas na OMS”. O texto se baseou em um ofício do órgão que trata de máscaras de tecido e que foi descontextualizado. Além disso, publicações da agência utilizam outras fontes, além da OMS, como referência desde o início da pandemia do novo coronavírus.
- Conteúdo verificado: Texto em site afirma que a Anvisa confessou ineficácia de máscaras e disse se basear apenas na OMS para recomendar o equipamento, sem levar a ciência em conta.
É enganoso que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenha “confessado” que máscaras sejam ineficazes para a proteção contra a covid-19, segundo afirma o título e o subtítulo de texto publicado em um site conservador brasileiro e fechado para não assinantes, que foi compartilhado em redes sociais. Outro artigo, veiculado no dia seguinte e sem bloqueio, muda levemente o tom, afirmando que a Anvisa confessou falta de evidências de eficácia de máscaras.
No Twitter, onde o link postado teve grande interação, pessoas comentaram a postagem fazendo coro à afirmação que consta no título e concordando com ela. Como o conteúdo é liberado apenas para assinantes, muitos usuários da rede social não tiveram acesso ao texto completo.
Em ofício utilizado como base para o conteúdo, a chefe de gabinete da agência, Karin Schuck Hemesath Mendes, afirma ter sido mantida, em nota técnica do órgão, a recomendação para o uso da proteção “apesar de não existir evidências robustas sobre a eficácia do uso de máscaras de tecido como controle de fonte para a transmissão da covid-19”.
Leia mais:O documento diz, ainda, que a recomendação é baseada no princípio da precaução e alinhada com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O ofício trata apenas de máscaras de tecido e em nenhum momento a funcionária da Anvisa diz que elas são ineficazes. O título do texto verificado, entretanto, não faz essa identificação dos equipamentos e leva à interpretação de que nenhum deles protege contra o vírus.
Diversos documentos consultados pelo Comprova demonstram que a Anvisa recomenda a utilização das máscaras para a proteção desde 2020, assim como estudos, médicos e outros órgãos de saúde. A agência também utiliza outras fontes, além da OMS, para as orientações.
A reportagem entrou em contato com o site que publicou o conteúdo e a equipe afirmou ter construído o título de forma a resumir o conteúdo da publicação e chamar a atenção, alegando ser impossível inserir nele todas as informações do texto. Justificou, ainda, que o trecho do ofício em que se baseou está na abertura e que o parágrafo seguinte esclarece que se tratam de máscaras de pano.
Como verificamos?
O Comprova acessou e leu o ofício citado no conteúdo publicado no site. Em seguida, consultou diversas publicações da Anvisa desde o início da pandemia do novo coronavírus e entrou em contato com o órgão, por e-mail.
Também consultou estudos relacionados ao uso de máscaras na proteção contra a covid-19 e entrevistou o clínico geral Vitor Key Assada, que atende na linha de frente contra a covid-19 no Hospital Santa Casa de Londrina.
Por fim, entrou em contato com os responsáveis pela publicação verificada.
O Comprova fez esta verificação baseada em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 29 de julho de 2021.
Verificação
Anvisa não “confessa a ineficácia de máscaras” contra a covid-19
O texto publicado afirma que a Anvisa confessou a ineficácia de máscaras e que se baseia apenas na OMS, não levando em conta a ciência para recomendar o uso do equipamento. O conteúdo foi baseado em um ofício assinado por Karin Schuck Hemesath Mendes, chefe de gabinete da Anvisa, no dia 7 de abril de 2021, em resposta a questionamentos do defensor público federal João Frederico Bertran Wirth Chaibub, que atua em Goiânia (GO).
No documento, ela esclarece que as orientações para prevenção e controle da disseminação de doenças na população em geral, incluindo a recomendação do uso de máscara facial de tecido, competem ao Ministério da Saúde e que cabe à Gerência Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde (GGTES) da Anvisa emitir orientações sobre prevenção e controle da disseminação da covid-19 apenas dentro dos serviços de saúde.
Destaca, ainda, que para este público o órgão atualiza frequentemente notas técnicas levando em consideração a situação epidemiológica do país e a disponibilização de novas evidências nacionais e internacionais.
Neste contexto, a chefe de gabinete afirma que “apesar de não existir evidências robustas sobre a eficácia do uso de máscaras de tecido como controle de fonte para a transmissão da covid-19, considerando o cenário epidemiológico atual, com vasta disseminação do vírus, incluindo cepas com tendência de maior transmissibilidade e virulência, pelo princípio da precaução e alinhado com as orientações da Organização Mundial da Saúde, a GGTES manteve na última atualização da nota técnica Nº 04/2020 (25/02/2021), a orientação para o uso de máscara de tecido para o controle de fonte por: pacientes, acompanhantes e visitantes (se estiverem assintomáticos) e profissionais do serviço de saúde que executam atividades exclusivamente administrativas e não tem nenhum contato com pacientes ou áreas de internação de pacientes”.
O ofício, entretanto, trata apenas de máscaras de tecido e, em nenhum momento, Karin diz que elas são ineficazes, ao contrário do que afirma um segundo texto publicado no site, que só cita se tratar de máscaras de tecido quando reproduz literalmente, entre aspas, trechos do documento.
Procurada pelo Comprova, a assessoria de comunicação da agência encaminhou posicionamento afirmando que o trecho sobre não existirem “evidências robustas” foi retirado de contexto. “O fragmento deve ser lido à luz do conhecimento científico produzido no transcorrer do enfrentamento à pandemia no Brasil e no mundo”, diz a nota. O Comprova verificou que, por não terem padronização na fabricação, a eficácia de máscaras de tecido varia. Já outros modelos, como o cirúrgico e o PFF2, têm eficácia comprovada em impedir a transmissão.
A agência acrescenta que a nota técnica a que se refere o ofício elenca entre as medidas de prevenção e controle de novos casos de infecção pelo Sars-CoV-2 o uso de máscaras adequadas pelos profissionais que atuam nos serviços de saúde. “Com o avanço da pandemia e considerando o acúmulo de evidências sobre a transmissão do novo coronavírus, a Anvisa vem implementando diversas atualizações em suas publicações. Em todas elas o uso de máscaras faciais adequadas às necessidades e aos profissionais de saúde foi reforçado”, afirma.
Assim como consta no ofício, a assessoria de comunicação afirma que as definições sobre o uso de máscaras pela população devem partir do Ministério da Saúde, mas explicou que a agência elaborou diversas orientações sobre máscaras faciais para uso não profissional com a finalidade de apoiar as ações para a saúde pública.
“Máscaras faciais não hospitalares não oferecem total proteção contra infecções, mas reduzem sua incidência. Especialistas apontam que mesmo pequenas medidas para reduzir transmissões têm grande impacto na atual pandemia, especialmente quando combinadas com medidas preventivas adicionais. Por esse motivo, a Agência sempre reforçou que máscaras de tecido íntegras, limpas, secas e usadas de forma correta são eficazes para evitar que gotículas contaminadas sejam expelidas sobre produtos, equipamentos e outras pessoas”.
O vírus pode se espalhar pela boca ou nariz de uma pessoa infectada, ao tossir, espirrar, falar, cantar ou respirar, por gotículas respiratórias maiores e aerossóis menores. A evidência atual sugere que a doença se espalha principalmente entre pessoas que estão em contato próximo umas com as outras, normalmente dentro de um metro. Uma pessoa pode ser infectada quando aerossóis ou gotículas contendo o vírus são inalados ou entram em contato direto com os olhos, nariz ou boca.
O que a Anvisa diz sobre o uso de máscaras?
Em janeiro deste ano, a Anvisa publicou um longo material em texto esclarecendo dúvidas sobre o uso de máscaras faciais e alertando as pessoas para que não se deixem “enganar pelas fake news”. O conteúdo, em formato de perguntas e respostas, explica, por exemplo, quais são os diferentes tipos de máscaras, para que servem e quais tipos de equipamentos têm sido utilizados pela população e pelos profissionais de saúde.
Em uma questão específica, afirma que as máscaras de proteção de uso não profissional são aquelas confeccionadas artesanalmente com tecidos e utilizadas para cobrir o nariz e a boca em espaços públicos durante a pandemia. “Essas máscaras atuam como barreiras físicas, reduzindo a propagação do vírus e, consequentemente, a exposição e o risco de infecções”, diz o texto.
Em seguida, o material educativo destaca que a utilização é uma importante medida de saúde pública que as pessoas devem adotar no combate à covid-19, além do distanciamento social e da limpeza frequente das mãos.
Em março deste ano, o órgão também publicou um documento de perguntas e respostas sobre o uso de máscaras de proteção facial em aeroportos e aeronaves, esclarecendo quais os tipos permitidos nesses locais, como usá-las e em quais situações é permitido retirá-las.
Em maio, uma nota técnica atualizou as medidas sanitárias a serem adotadas em portos e embarcações para resposta à Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) e Internacional (ESPII) pelo novo coronavírus, também reforçando a obrigatoriedade do uso das máscaras. “Entre as exigências aos viajantes, a Anvisa determinou que as máscaras de tecido confeccionadas artesanal ou industrialmente com material como algodão e tricoline devem possuir mais de uma camada de proteção e ajuste adequado ao rosto”, disse o órgão em nota encaminhada ao Comprova.
No início da pandemia no Brasil, em abril de 2020, a Anvisa já havia lançado uma cartilha com as orientações gerais relacionadas às máscaras faciais de uso não profissional. Nas referências, consta que o órgão se baseou em orientações do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) – o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos; da Association Française de Normalisation (AFNOR) – conjunto de normas francesas, como a ABNT no Brasil; da National Center for Biotechnology Information (NBCI) – que é o Centro Nacional de Informação Biotecnológica, uma seção da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos; em artigos científicos, entre outras.
Na ocasião, a OMS somente foi citada com a recomendação de que se respeitasse a distância entre as pessoas preconizada pela entidade e pelo Ministério da Saúde.
No dia 23 de julho de 2021, há menos de uma semana, a Anvisa publicou uma revisão da nota técnica nº 07/2020 com orientações para prevenção e vigilância epidemiológica das infecções por Sars-CoV-2 dentro dos serviços de saúde. Nela, o órgão destaca que a vacinação protege o indivíduo de infecção ou da forma grave da infecção, mas esta proteção não é absoluta e que estudos mais recentes relatam eficácia reduzida das vacinas contra a infecção por variantes do vírus.
Desta forma, o órgão orienta que mesmo o profissional do serviço de saúde totalmente vacinado – que recebeu a segunda dose em uma série de duas doses há mais de duas semanas ou uma dose de uma vacina de dose única há mais de duas semanas – deve continuar a usar os equipamentos de proteção individual, incluindo a máscara.
O texto também distribui orientações para pacientes, acompanhantes e visitantes, destacando que pessoas assintomáticas devem fazer uso de máscara de tecido e sintomáticas de máscara cirúrgica durante toda a permanência no serviço de saúde.
“Ressalta-se que por ainda estarmos com elevada transmissão comunitária do Sars-CoV-2 e que a vacinação não reduz 100% a possibilidade de infecção por esse vírus, todos dentro do serviços de saúde (profissionais, pacientes, visitantes e acompanhantes) devem continuar utilizando máscara facial como controle de fonte, independente de já estarem vacinados contra covid-19 ou não”, diz a nota técnica.
Conforme a Anvisa informou ao Comprova, nos primeiros meses da pandemia, diante de um possível cenário de desabastecimento de máscaras profissionais no mercado nacional, que poderia atingir trabalhadores que atuam na linha de frente com pacientes com covid-19, o órgão publicou material com orientações sobre confecção e uso de máscaras artesanais. “O objetivo era estimular a população a buscar uma solução de baixo custo e de mais fácil acesso para reforçar a proteção”.
A agência também lembra que, embora o uso de máscara de proteção facial seja uma medida fundamental no combate à propagação do novo coronavírus, para que haja prevenção efetiva o equipamento precisa fazer parte de um conjunto de medidas que inclui distanciamento social e higiene das mãos com água e sabonete ou preparações alcoólicas. Além disso, é necessário evitar aglomerações e permanecer em locais limpos e bem ventilados.
Estudos comprovam a eficácia do equipamento de proteção
Estudos científicos comprovam a eficácia das máscaras na proteção contra a contaminação pelo novo coronavírus. Em maio deste ano, por exemplo, a Agência Brasil publicou o resultado de um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), que constatou que máscaras de algodão, as mais comumente usadas pela população na prevenção da covid-19, têm eficiência de filtração de 20% a 60%. A pesquisa foi publicada na revista Aerosol Science & Technology e analisou 300 máscaras usadas pela população brasileira.
Em abril de 2020, uma reportagem do UOL já citava outra pesquisa científica que atestou a eficácia de máscaras cirúrgicas contra a disseminação do coronavírus. O estudo publicado na revista Nature Medicine comprovou que o aparato reduz a quantidade do agente infeccioso no ar expirado por pessoas contaminadas com coronavírus sazonais, que integram a família do Sars-CoV-2, causador da pandemia, ou com o vírus da influenza, que provoca a gripe.
Em 5 de julho de 2021, especialistas em medicina, baseados em evidências científicas, divulgaram a carta “Choosing Wisely” na revista Nature Medicine, com 10 dicas para enfrentamento da covid-19. Dentre elas, a primeira é usar máscaras sempre que estiver em público. De acordo com os especialistas, uma revisão sistemática e meta-análise de 10 estudos observacionais ajustados e 29 não ajustados mostraram que o risco de infecção foi significativamente reduzido com o uso de máscaras faciais. As máscaras N95 (PFF2 no Brasil) foram citadas como as que mais protegem.
Em março deste ano, no momento mais grave da pandemia no Brasil, a Associação Médica Brasileira chegou a divulgar carta pedindo vacinas, isolamento e uso de máscaras para combater pandemia: “Nosso diagnóstico é de que apenas a obediência às regras de proteção – como confinamento, uso de máscara e outras –, as iniciativas contínuas de testagem e rastreio de contactantes, juntamente com a vacinação em larga escala, são capazes de oferecer melhor prognóstico à população brasileira”.
Em dezembro de 2020, um ano após o início da pandemia, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, gravou uma mensagem na qual afirmava que a vacinação de todos contra a covid-19 levaria tempo e a população deveria “continuar a aderir às medidas testadas e comprovadas que mantêm todos e cada um de nós seguros”, o que significa, destacou, “manter distância física, usar máscaras faciais, praticar a higiene das mãos e respiratória, evitar locais fechados lotados e encontrar pessoas em ambientes abertos”.
Em junho deste ano, Mariângela Simão, diretora-geral assistente da OMS, elogiou a produção de vacinas no Brasil, mas destacou que a vacinação por si só não é suficiente no país e reforçou a importância do uso da máscara. “Eu sei que há uma controvérsia recente no Brasil sobre o uso consistente de máscaras. Continua sendo uma orientação da OMS o uso consistente de máscaras onde não há possibilidade de distanciamento social, a higienização das mãos, etiqueta respiratória, ambientes ventilados, evitar aglomerações”, afirmou.
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da OMS nas Américas, mantém uma folha informativa sobre a covid-19 com as orientações das duas entidades sobre o uso de máscaras, afirmando que as evidências científicas mais recentes mostram que elas são uma medida fundamental para suprimir a transmissão da doença e salvar vidas. O texto orienta a utilização das máscaras de tecido, especificamente, pelo público em geral com idade inferior a 60 anos e que não apresente problemas de saúde subjacentes.
Tipos de máscara e a eficácia
O Comprova entrevistou o clínico geral Vitor Key Assada, que atende na linha de frente contra a covid-19 no Hospital Santa Casa de Londrina. O profissional ressaltou a importância do uso das máscaras para evitar a propagação do vírus. “Essas postagens afirmando que [as máscaras] são ineficazes são completamente errôneas. São várias publicações desde o início da pandemia que confirmam a eficácia do uso das máscaras. Quando a gente coloca a máscara, entendemos subjetivamente que estamos nos protegendo, que vamos colocar a máscara para não nos contaminar, mas não é só isso. Muitos artigos evidenciam o quanto a máscara, principalmente para os assintomáticos, ajuda a não transmitir o vírus para outras pessoas”, esclarece.
Ele destaca a existência de três modelos principais de máscara: as de pano, as cirúrgicas e aquelas com modelos “bico de pato”, como N95 e PFF2. As duas últimas, afirma, são as mais recomendadas para quem está em ambientes com alta carga viral, como hospitais, apresentando eficácia maior que 90%.
Quanto às máscaras de tecido, ele observa haver alguns problemas. “Não quer dizer que todas são ineficazes, mas não há um padrão. Por mais que a OMS cite que elas devem ter pelo menos dois tecidos, que seriam as camadas da máscara, sabemos que as empresas estão mais ligadas em estética e conforto do que propriamente na filtragem das partículas. Os estudos apontam uma variabilidade de eficácia muito grande de proteção [das máscaras de tecido], justamente porque não há controle de qualidade”.
Em relação às cirúrgicas, afirma que possuem proteção de 80% para cima. “Obviamente, cada uma delas tem um período de uso, ou seja, você tem que estar trocando elas e conservá-las. Tudo isso pode afetar diretamente a eficácia das máscaras”.
Por fim, o profissional opina pela manutenção do uso das máscaras mesmo diante do avanço da vacinação. “Como sabemos, a vacina por si só não significa que estamos acabando com a doença de uma hora para outra, ainda mais que nenhuma vacina tem proteção de 100%. Não dá para falar: olha, temos 70% da população vacinada, abre a porteira, todo mundo está livre do uso de máscara. Eu acho que não é por aí. Acho que é muito importante continuar usando a máscara mesmo com o avanço da vacinação. A vacina não significa que não podemos pegar e nem transmitir para quem não foi vacinado”.
Quem publicou o texto
O texto com título e subtítulo enganosos foi publicado no site Brasil sem Medo, que se identifica como “o maior jornal conservador do Brasil” e tem, entre os colunistas, o escritor bolsonarista Olavo de Carvalho.
Procurada, a equipe do site afirmou que “o título é construído de forma a resumir o conteúdo da publicação e, também, chamar a atenção, sendo impossível inserir nele todas as informações do texto”, acrescentando que aqueles que leram a matéria completa “sabem que esse trecho do ofício está no próprio lead e que, no parágrafo seguinte, também é esclarecido que se tratam de máscaras de pano, que são as utilizadas pela maior parte da população”.
Declarou, também, que a intenção do site ao publicar o texto foi “informar a população sobre um aspecto importante da pandemia, que é a possível ineficácia das máscaras de pano”, acrescentando que a imprensa tradicional não o faz “por razões ideológicas e financeiras”.
Dentre os colunistas do site também está Bernardo P. Kuster, que se apresenta como jornalista, palestrante, tradutor e diretor de opinião do Brasil sem Medo. O link com o conteúdo que ele compartilhou nas próprias redes sociais gerou, apenas no Twitter, 6.892 interações. Ele foi procurado, mas não respondeu.
No Instagram, ele teve o conteúdo publicado no dia 26 de julho removido sob alegação, por parte da plataforma, de ir contra as diretrizes da comunidade. No dia seguinte, 27 de julho, foi publicado novo artigo sobre o assunto no site, desta vez liberado para a leitura de não assinantes, acusando o Instagram de censura. O site ainda aproveitou o teor postado em uma coluna que faz “giro de notícias”.
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições e pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. Em julho de 2021, os participantes decidiram também iniciar a verificação da desinformação envolvendo possíveis candidatos à presidência da República. Desde então, o projeto tem monitorado nomes que vêm sendo incluídos em pesquisas dos principais institutos.
O compartilhamento da primeira publicação aqui verificada teve 8.822 interações apenas no Twitter, segundo a ferramenta CrowdTangle. Uma conta do Instagram que postou o print da coluna do site onde foi utilizado o teor do texto somou mais de 700 curtidas na plataforma.
O uso de máscaras faciais é apontado como uma das medidas de prevenção à covid-19, sendo incentivado pela Organização Mundial da Saúde desde o ano passado, somado a outras ações, como a higienização frequente das mãos e o distanciamento social.
Enquanto não há medicamentos eficazes contra o vírus e sem a cobertura vacinal adequada, esta segue sendo a recomendação, principalmente no Brasil, onde já foram registradas mais de 550 mil mortes pela doença. O país tem hoje pouco mais de 38,04 milhões de pessoas completamente vacinadas, o que equivale a 18,6% da população brasileira.
Desde o ano passado, o uso de máscaras faciais têm sido alvo de afirmações falsas ou enganosas. O Comprova já verificou, por exemplo, que um estudo não comprova a ineficácia do uso do equipamento; que as máscaras são eficientes no combate ao novo coronavírus; que o uso correto delas reduz as chances de contaminação e não torna o sangue ácido; e que as elas não causam acúmulo de líquido nos pulmões, tampouco intoxicação.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; bem como aquele que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Desde 2020 o Correio de Carajás integra o Projeto Comprova, que reúne jornalistas de 33 diferentes veículos de comunicação brasileiros para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas sobre políticas públicas e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.