Há um dito popular antiquíssimo e que já virou lugar comum: “uma imagem vale mais de mil palavras”. Essa máxima pode ser usada para confrontar a versão do soldado Adonias Sadda, da PM do Maranhão, que alegou ter dado um tiro acidental no jovem médico Bruno Calaça Barbosa, de 24 anos, na madrugada de segunda-feira (26), em Imperatriz (MA). O problema da narrativa do PM é que ela esbarra nas imagens da câmera de segurança do bar na Beira Rio, onde tudo aconteceu.
O policial foi preso no dia seguinte na casa de um advogado e foi encaminhado para uma das celas do 3º Batalhão de Polícia Militar de Imperatriz.
Como a Imprensa não teve acesso ao acusado, a versão dele chegou até os meios de comunicação pelo coronel Claudiney, comandante do 14º BPM, onde o soldado é lotado. Em conversa com jornalistas do Maranhão, o oficial se limitou a dizer que o tiro “foi de forma acidental”. Ainda conforme o oficial, o soldado foi apresentado por volta das 17h.
Leia mais:Coronel Claudiney confirmou também que as pessoas que estavam na festa no momento em que o crime foi cometido estão sendo identificadas e devem prestar depoimento para a polícia.
Por outro lado, o secretário estadual de Segurança Pública, Jefferson Portela, disse que as investigações agora vão tentar apurar a motivação do crime e se o soldado contou com ajuda para fugir do local e se esconder. Além disso, também serão investigadas as circunstâncias da realização da festa que, segundo o secretário, era considerada ilegal.
O crime
O vídeo captado por câmeras de segurança registrou o momento em que o médico Bruno Calaça foi baleado e morto. Uma das imagens, de 48 segundos, mostra praticamente toda a cena do crime.
No meio da multidão, há três homens conversando, um advogado, um empresário e o policial Adonias. Eles apontam na direção do palco, onde estão Bruno e amigos. Um dos homens que está com o policial praticamente pega o PM pelo braço, levando-o até onde está Bruno.
No meio do caminho, o policial ainda para, mas após 3 segundos de conversa ele coloca a garrafa de cerveja numa mesa, põe a mão na arma, que está na cintura, e segue em direção ao médico. O homem fala alguma coisa rapidamente para Bruno, dá um empurrão no ombro dele, que também lhe empurra, para que este se afaste. Nesse momento, o policial que está do lado do outro agressor não conta conversa: saca a arma e atira no peito de Bruno, a meio metro de distância, sem que a vítima tenha chance alguma. O rapaz ainda fica em pé, com a mão no peito, enquanto os criminosos se afastam. Mas seis segundos depois do tiro ele cai no chão, já sem vida.
É claro que haverá um longo processo até que o policial e os outros envolvidos sejam julgados, mas as imagens do circuito interno deixam claro que o tiro não foi acidental.
De acordo com informação do “Jornal Pequeno” (MA), a confusão entre os criminosos e o médico começou por que um dos homens que estavam com o PM teria assediado uma das moças que estava com os amigos de Bruno. Criou-se uma treta no loca e nenhum dos dois grupos foi embora pra casa quando a música ao vivo acabou.
O mesmo jornal apurou também que o proprietário do bar teria interferido entre os dois grupos, momentos antes do baleamento. Autoridades policiais teriam também tentado fechar o estabelecimento, porque já passava das 2h da manhã (horário limite). Mesmo fora de horário e com um clima tenso, a festa continuou e deu no que deu.
Mais informações
O velório de Bruno Calaça Barbosa foi realizado na manhã de terça-feira no salão de uma funerária, em Porto Nacional (TO). O sepultamento ocorreu às 14h no cemitério São Pedro, no mesmo município.
Bruno Calaça estava recém-formado em Medicina. Ele fez faculdade em uma instituição privada, localizada em Porto Nacional, a 66 km de Palmas, capital do Tocantins.
Nas redes sociais, os irmãos de Bruno, que também fazem faculdade de medicina no Tocantins, lamentaram a morte e contaram o quanto ele estava feliz com a formatura, há cerca de 10 dias. “Você estava tão feliz com a sua formatura, quem te via, sentia sua felicidade, transbordar”, escreveu Caio Calaça, em postagem no Instagram.
A Associação dos Estudantes de Medicina do Tocantins emitiu nota de pesar sobre a morte e destacou as qualidades do estudante recém-formado. “Bruno era incrivelmente inteligente, era amigo de tantos, era irmão e filho. Um rapaz carinhoso que nunca brigava. Estava sentado antes de ser atingido no peito, por um disparo efetuado por um profissional militar que, aparentemente, não estava em serviço oficial. […] Estava comemorando a sua formatura, empolgado com o futuro que tinha pela frente”.
O Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos (ITPAC), onde Bruno estudou também lamentou a morte. “Neste momento, nos unimos em oração à sua família e amigos para que essa perda possa ser compreendida com a esperança do conforto de Deus”. (Chagas Filho, com informações do Jornal Pequeno e G1-MA)