Em Parauapebas, após muita angústia, o calendário de vacinação contra a covid-19 alcançou a população de adultos com mais de 30 anos sem comorbidades, mas continua excluindo as mulheres grávidas que entraram na fila para receber uma dose do imunizante nesta quarta-feira (14), mesmo havendo disponibilidade da vacina da Pfizer, que não possui contraindicações da própria fabricante ou do Ministério da Saúde para aplicação em gestantes.
Uma dessas mulheres é Gabrielle Neves Leite, professora de química na rede particular do município, que saiu frustrada do posto de saúde e continua sentindo a intranquilidade de expor ela e o filho que aguarda à ação do perigoso coronavírus.
Em entrevista ao Correio de Carajás, a gestante explica que desde o ciclo que vacinou profissionais da educação ela não consegue receber a dose. “Na época, estavam dando uma vacina contraindicada para gestantes [AstraZeneca] e explicaram teríamos um grupo prioritário depois, então eu compreendi, mas quando houve a segunda chamada para profissionais da educação, já havia disponível uma vacina sem contraindicações para grávidas”.
Leia mais:Mesmo assim, relata, ela recebeu a informação de que as vacinas tinham sido destinadas a outro grupo, que não a incluía. “Agora, a vacina foi distribuída para a minha faixa etária, voltei a ir atrás dela e não consegui novamente sob a mesma justificativa”, declarou a professora de 33 anos.
“Não só eu, mas também vi muitas grávidas recebendo a mesma explicação, de que haverá um grupo exclusivo para nossa vacinação. O que não entendo é o seguinte: se não há contraindicações para que uma vacina seja aplicada e eu me encaixo em um grupo prioritário, por que não posso recebê-la logo?”
Gabrielle e o marido, Walmi Costa e Silva, que inclusive já foi vacinado por ser professor de matemática, continuam atrás da vacina antes que Noah chegue ao mundo. A gestação da professora de química já está no oitavo mês e o casal permanece amedrontado.
SEMSA É DESMENTIDA POR SESPA
Após ouvir Gabrielle, o Correio de Carajás procurou a Secretaria Municipal de Saúde de Parauapebas (Semsa) para entender o que está acontecendo. A pasta reafirmou à reportagem que o ciclo de vacinação atual, com adultos de 30 a 39 anos, não contempla, de fato, mulheres gestantes.
A justificativa é de que a Semsa “segue o plano de imunização de acordo com o que o Ministério da Saúde preconiza, assim como destina as doses recebidas pelo Estado de acordo com o público estabelecido”.
Acontece que em Nota Técnica emitida pelo Ministério da Saúde, através da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, no dia 6 de julho, o Plano Nacional de Imunização passou a recomendar a vacinação em gestantes e puérperas — mulheres que deram à luz em até 45 dias) com as vacinas Pfizer (administrada em Parauapebas) e Coronavac, desencorajando o uso de vacinas que contenham o vetor viral, como AstraZeneca e Janssen. A Nota Técnica também pontua que a vacinação pode acontecer em qualquer período da gestação.
A Secretaria de Saúde de Parauapebas sustentou, ainda, que a 11ª Regional de Saúde do Estado do Pará, que é responsável pela dispensação de vacinas municípios paraenses, não disponibilizou doses para o público estabelecido – nesse caso, as gestantes.
O Portal procurou, então, a Secretaria Estadual de Saúde (Sespa) para questionar se a informação procede. O órgão, entretanto, desmentiu a nota da prefeitura, afirmando que “orienta todos os municípios, que são os responsáveis pela execução da vacinação, a realizarem a imunização de grávidas e puérperas com as vacinas da Pfizer e Coronavac, conforme estabelecido pelo Ministério da Saúde”.
MAIS CONTRADIÇÕES
Outro ponto a ser evidenciado na nota oficial da Secretaria Municipal é quando o órgão afirma que no estado do Pará, até o momento, “não houve a vacinação para as mulheres gestantes sem comorbidades”, concluindo que “assim que essas doses estiverem disponíveis para esse público, a SEMSA montará a melhor estratégia de vacinação, consequentemente a convocação desse público”.
A informação, porém, não se sustenta. A terapeuta ocupacional Gabriella Guimarães, por exemplo, é moradora de Belém e informou ao Correio de Carajás ter recebido a vacina Pfizer na capital do estado no dia 12 de maio. Na ocasião, ela estava próxima de completar o primeiro trimestre de gestação. No município, houve vacinação com grupo prioritário de grávidas e puérperas com 18 anos ou mais, na mesma semana em que foram vacinados adultos entre 43 e 51 anos.
Gabriella ainda atesta que quando o ciclo de vacinação para grávidas foi anunciado, ela procurou recomendações médicas. “Duas médicas de confiança falaram a importância de tomar a vacina, o quanto era importante uma grávida ter esse acompanhamento, e que se o governo disponibilizasse a vacina não era pra gente ter medo, porque na gravidez a mulher fica com riscos de saúde muito sérios e o coronavírus pode levar ao óbito tanto a mãe quanto o bebê. Então a vacina iria ajudar a reduzir drasticamente esse risco e eu fui tomar”, relatou.
Em Marabá, município localizado na mesma região que Parauapebas, a Prefeitura Municipal anunciou que fará uma campanha direcionada às gestantes sem comorbidades assim que receber a nova remessa de imunizantes. Para a vacinação, bastará apresentar prescrição médica indicando a vacinação. (Juliano Corrêa)