Nesta quarta-feira (05), Dia Nacional do Uso Racional de Medicamento, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), por meio do Departamento de Assistência Farmacêutica (Deaf), chama a atenção para a importância de a população seguir a orientação do profissional de Saúde habilitado para prescrição, antes de ingerir qualquer tipo de remédio.
O conceito de uso racional de medicamento foi criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1985, em Nairóbi, com o intuito de assegurar que o paciente receba o medicamento apropriado para suas necessidades clínicas, nas doses individualmente requeridas para um adequado período de tempo e a um baixo custo para ele e sua comunidade.
Segundo a farmacêutica do Deaf, Jocileide de Sousa Gomes, doutora em Desenvolvimento Socioambiental, enquanto, por um lado, a OMS promove o uso racional de medicamentos, por outro, a população brasileira ainda pratica muito a automedicação, que é a seleção e o uso de medicamentos (incluindo os chás e produtos tradicionais) para tratar doenças autodiagnosticadas.
Leia mais:Conforme Jocileide Gomes, a automedicação ainda é uma prática comportamental comum em vários países, o que vem causando preocupação global entre os profissionais e instituições nacionais e internacionais responsáveis por políticas públicas em saúde, em especial, as voltadas para a promoção do uso correto de medicamentos.
Para se ter uma ideia da situação no Brasil, Jocileide Gomes apresentou o resultado de um estudo publicado em maio de 2020 intitulado “Perfil das Intoxicações Medicamentosas por Automedicação no Brasil”, que foi feito por um grupo de farmacêuticos pesquisadores. Conforme os dados retirados do Sistema de Agravos de Notificação (Sinan) do SUS, de 2010 a 2017, foram notificados 565.271 casos de intoxicação no país, dos quais 298.976 tiveram medicamento como agente tóxico mais frequente, o que corresponde a 52,8% do total das ocorrências.
Riscos – Como consequências desse uso indevido de medicamentos, segundo a farmacêutica, pode haver reações adversas, inclusive fatais não previstas porque foi indicado por pessoa não habilitada para isso. “Se eu estou fazendo uso de vários medicamentos em que eu mesma decido e escolho que medicamento eu vou utilizar para uma doença que eu autodiagnostiquei, eu corro muitos riscos tais como ter reações alérgicas, dependência, intoxicação, resistência aos remédios e mascaramento de outras doenças”, detalhou Jocileide Gomes.
A farmacêutica disse também que a automedicação não é uma prática exclusiva de pessoas leigas, pois muitos profissionais e acadêmicos da área de saúde também vêm fazendo isso, apesar de serem detentores de um conhecimento pré-estabelecido sobre doenças e sobre medicamentos.
Jocileide Gomes esclareceu, ainda, que a automedicação não é responsabilidade apenas do consumidor, pois há outras condicionantes, fatores e atores que contribuem direta ou indiretamente para essa prática, como é o caso das mídias sociais. “O vizinho de antigamente foi substituído pelas mídias sociais, agora são vários vizinhos, digamos assim, que acabam exercendo uma influência significativa para essas escolhas e sem o devido acompanhamento de profissional de saúde habilitado”, observou.
Mais procurados – Quanto aos medicamentos mais usados para a prática da automedicação, destacam-se os analgésicos, segundo estudos realizados e encomendados por instituições de pesquisa e do comércio varejista, respectivamente. “Tal fato pode ser justificado pela grande demanda de pacientes que recorrem às farmácias em busca de tratamentos que venham minimizar a queixa mais comum entre os brasileiros: a dor”, comentou. Além desses, os relaxantes musculares e os anti-inflamatórios também ocupam posição privilegiada no pódio de medicamentos mais usados na automedicação, há anos
De acordo com Jocileide Gomes, o acesso facilitado à informação vem acelerando ainda mais a automedicação. É cada vez mais crescente o perfil de paciente que vai até a farmácia já munido de informações sobre o tratamento que deseja ter acesso e, infelizmente, em muitos casos, eles não recorrem ao profissional farmacêutico que está disponível para identificar e atender às suas necessidades de saúde. “Então, mais uma vez, reforço o quanto que pode ser prejudicial ao indivíduo o consumo de medicamentos diversos, sem prescrição de profissional de saúde habilitado para tal função”, enfatizou.
Ações da Sespa – Para promover o uso racional de medicamentos, o farmacêutico e diretor do Deaf, Henriue Vogado, informou que a Sespa realiza capacitações e elaboração de documentos técnicos que visam a melhor organização do Serviço de Farmácia na rede estadual, assim como, objetivam subsidiar a prescrição do tratamento correto, com informações necessárias aos prescritores, farmacêuticos e usuários, baseadas em aspectos técnicos e científicos.
“O departamento também garante a logística adequada de distribuição de medicamentos e monitoramento das farmácias do estado, de modo que o usuário tenha acesso ao medicamento de qualidade, em quantidade suficiente e no tempo oportuno”, disse o farmacêutico.
Ele ressaltou que nem todo problema de saúde requer a utilização de medicamentos e que a população deve evitar a automedicação. Porém, ao utilizá-los, é importante que isso seja feito de forma correta e segura. “A atitude do usuário perante o uso do medicamento irá contribuir diretamente para a eficácia do tratamento, além da prevenção de riscos para o indivíduo e sua família. Se tiver dúvidas quanto ao uso correto de medicamentos, peça orientação a um farmacêutico”, concluiu. (Agência Pará)