Correio de Carajás

Sexta edição do FIA Cinefront estreia em plataforma de streaming nesta quinta

A programação tem duração de um mês com filmes, debates, mesas redondas, sessões especiais, oficinas e exposição fotográfica

Com exibição em plataforma de streaming própria, a abertura oficial do 6º Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira, o FIA Cinefront, ocorre às 17 horas desta quinta-feira (15), contando com a apresentação musical do grupo HanPan Amazônico. O festival nasceu na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e neste ano é realizado por várias instituições parceiras, sendo financiado pela lei estadual Aldir Blanc de Emergência Cultural.

Às 19 horas, haverá uma homenagem à Pureza Lopes de Loyola, trabalhadora rural que passou três anos à procura do filho desaparecido e, durante a trajetória, se deparou com inúmeras vítimas de maus-tratos e em situação semelhante à escravidão. No cinema, foi interpretada por Dira Paes, no filme Pureza (2019), dirigido pelo cineasta Renato Barbiere, que participa da homenagem e apresenta, às 20 horas, a exibição do trabalho que tem boa parte filmada em Marabá.

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Ao longo da programação, com duração de um mês, serão exibidos filmes e realizados debates, mesas redondas e sessões especiais com participação de homenageados, além de oficinas e a exposição fotográfica “Amazônia, Adeus”, de Miguel Chikaoka, com curadoria de Cinthya Marques, apresentando uma parte do acervo de imagens produzidas durante as décadas de 1980 e 1990 nas regiões do sul e sudeste do Pará.

“A exposição traz à tona denúncias sobre as condições de vida das populações locais, pois Chikaoka dispõe de imagens da luta camponesa pela terra, dos impactos da exploração mineral na região e da resistência dos povos indígenas no combate à invasão de suas reservas. Fotografias produzidas em contextos marcados historicamente por intensos conflitos, violência e massacres, não muito diferentes de um cenário de guerra. Em registros do cotidiano nas trincheiras contra violações de direitos e desigualdade social, em meio ao agravamento da expropriação dos recursos naturais e a destruição da Amazônia, Chikaoka captou a tônica do processo de ocupação da região do final do século XX”, destaca Cinthya Marques.

O Curador do FIA Cinefront, Evandro Medeiros, ressalta que o festival é apresentado em um cenário de lutas, contradições e reinvenções – necessárias em tempos de pandemia e de governos da necropolítica. “É aqui, bem aqui, onde nascem revoluções em defesa da vida todos os dias, denunciando atrocidades e anunciando possibilidades à humanidade, que fazemos e celebramos nosso cinema como uma arma de todas as Lutas Amazônicas”, afirma.

Ele acrescenta que o processo de contínua usurpação, subjugação e destruição da Amazônia se justifica a partir do que muitos consideram enquanto fronteira, tendo em mente uma região onde não habitam os progressos da modernidade, de vazio social, de riquezas naturais não exploradas e enquanto limbo de existências destituídas de humanidade.

Destaca que a conquista deste espaço, historicamente, é justificada pela necessidade de ampliar as possibilidades da sociedade considerada centro do desenvolvimento e, assim, as vidas da fronteira têm sido drasticamente impactadas, expropriadas, arruinadas e dizimadas de todas as formas.

Mesmo diante disso, lembra, nesse mesmo local existem aqueles que criam formas de re-existência, cotidianamente e com diversas lutas, seja pela terra, pelos rios, pela floresta, por trabalho e renda e por direitos humanos.

“São indígenas, camponeses, quilombolas, extrativistas, trabalhadores urbanos, comunidade LGBTQI+ e populações de periferias urbanas que, para além da afirmação da fronteira como front de suas batalhas, auto organizados politicamente, vivenciam práticas solidária, de empoderamento mútuo e emancipação coletiva e defendem relações não predatória com a floresta, os rios e a terra, como produtores de conhecimentos, tecnologias, economias, artes e culturas que afirmam esse lugar como território de vida e justificam a urgência de todas as lutas por uma Amazônia viva”, declara.

EXIBIÇÕES

O FIA Cinefront ainda não está com a programação totalmente fechada para os próximos 30 dias, mas já há datas para oficinas e minicursos que serão ofertados e também para algumas das exibições, estas realizadas sempre a partir das 20 horas.

No dia 17 de abril será exibido Chão (2019), de Camila Freitas, documentário que explora, a despeito da estagnação jurídica e da aridez do agronegócio no sul de Goiás, a ocupação de uma usina de cana-de-açúcar em processo de falência.

Três dias depois, em 20 de abril, “Tiempos de Lucha, aciones de una comuna (2020)”, de Jesús Reyes, Jesús García e Víctor Hugo Rivera, preenche a tela trazendo um ano de registro audiovisual das estratégias geradas pela “Comuna Altos de Lídice” para conquistar o bem-estar social de todos os integrantes. A comunidade foi formada por Sete Conselhos Comunais localizados na Paroquia Sucre, no noroeste de Caracas-Venezuela.

Em 23 de abril o público assiste à “Mokambo: Nguzo Malunda Bantu (Força da Tradição Bantu-2018)”, de Soraya Públio Mesquita, que apresenta a vasta herança cultural trazida pelos povos de origem Bantu, que tiveram o maior número de escravizados no Brasil entre os séculos XVI e XVIII.

Em 26 de abril serão transmitidos os documentários “Caiçaras – Às margens do Brasil (2017)”, de Guilherme Rodrigues, e “Pedral do Caminho (2019)”, com direção de Fiama Rodrigues Silva.

O primeiro aborda a vida e a cultura da população caiçara, cujas tradições estão em risco e sofrem a ameaça da indústria petrolífera a partir da exploração dos campos de pré-sal. O segundo apresenta diversas perspectivas dos moradores acerca de como é viver em Itupiranga, no sudeste do Pará, e sobre a derrocada do Pedral do Lourenção.

Em 30 de abril estará nas telas o documentário “Servidão (2019)”, de Renato Barbieri, que através do testemunho de abolicionistas modernos e de trabalhadores rurais que foram vítimas da escravidão contemporânea, investiga a mentalidade escravagista da sociedade brasileira que remonta a cinco séculos.

No mês de maio, dia 6, serão apresentados os documentários “Encantadas – Mulheres e suas lutas na Amazônia (2018)”, de Taís Lobo e Milena Argenta, e “Transamazônia (2019)”, de  Renata Taylor, Débora McDowell e Bea Morbach.

Encantadas retrata a resistência das mulheres defensoras de direitos humanos em diversos territórios da Amazônia e Transamazônia acompanha duas vidas complicadas: a de Melissa, mãe de 21 anos, universitária e que vive no sudeste paraense, e a de Marcelly, de 35 anos, que está desempregada e mora com a família no interior do Amazonas. Ambas são mulheres trans que vivem em pontos distintos da Rodovia Transamazônica.

No dia 12 de maio serão exibidos mais três documentários, dentre eles, “Atordoado, eu permaneço atento (2019)”, de Henrique Amud e Lucas H. Rossi dos Santos, que apresenta depoimentos do jornalista Dermi Azevedo, ativista pelos direitos humanos que agora assiste ao retorno de práticas da ditadura. Na mesma noite será apresentado “Depois do vendaval (2019)”, de  José Carlos Asbeg, Luiz Arnaldo Campos e Sérgio Péo, que trata do início do fim da ditadura militar no Brasil, a partir do esforço para restabelecer a democracia.

A data ainda abre espaço para “Labirinto de papel (2014)”, de  André Araújo e Roberto Giovannetti, que apresenta relatos e documentos que comprovam mortes e desaparecimentos de militantes na região do então norte de Goiás. O filme foi premiado no Edital Marcas da Memória, do Ministério da Justiça.

OFICINAS

O festival oferta quatro atividades de formação em audiovisual, ministradas por realizadores na temática, em salas do google meet e com certificação individualizada. Entre os dias 16 e 26 de abril acontece o minicurso “Documentário de Criação” e de 3 a 8 de maio a oficina “Curta Metragem: do roteiro à tela”.

Entre os dias 23 e 30 de abril a oficina é de “Interpretação para Audiovisual” e entre 3 e 7 de maio sobre “A criação de imagens e o mundo da internet: em busca do selfie perdido”. As inscrições devem ser feitas no site da Unifesspa.

STREAMING

Já o restante o evento poderá ser acompanhado pelo endereço www.cinefront.org, cuja plataforma foi produzida com a ajuda dos colaboradores do software livre Libreflix, um programa aberto que auxilia na criação e disponibilização de acervos nessa nova era de streamings. A equipe atuou na adaptação do programa para o festival e está cuidando dos servidores para que tudo ocorra como planejado na exibição de todas as obras. (Luciana Marschall)