Cada dia mais o café de açaí tem sido procurado por hipertensos, diabéticos e pessoas com colesterol alto. O motivo são estudos recentes, como o do farmacólogo Roberto Soares de Moura, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, sobre os efeitos benéficos do caroço do açaí, do qual o café é feito. As análises apontam para propriedades como ser anti-hipertensivo, reduzir o nível de colesterol do sangue e a resistência insulínica e prevenir ou restringir danos resultantes do enfisema pulmonar.
Notícia boa para aqueles que sofrem desses problemas e também para Roberto Carlos Cunha, agricultor da Vila Paulo Fonteles, na zona rural de Parauapebas. O homem de 54 anos vive na colônia há 34 anos e há mais de 20 anos produz o café de açaí, em conjunto com a esposa. A produção ainda é pequena e envolve apenas cinco pessoas, mas faz uma grande diferença no bolso, gerando de quatro a cinco mil reais em renda bruta por mês.
Roberto conta que a ideia foi da esposa, Perina Rodrigues Silva, que por conta da distância de onde vivem para a zona urbana da cidade sugeriu fazer o café em casa a partir do caroço do açaí, visto que a polpa era extraída das sementes em pequenas produções da Paulo Fonteles. Mensalmente, são produzidos e comercializados cerca de 500 pacotes de café de açaí com 250 gramas cada, totalizando 125 quilos do produto.
Leia mais:“Os caroços de açaí são adquiridos em um local que trabalha com a extração da polpa de açaí. Posteriormente à retirada da polpa, nós trazemos os caroços de açaí para o sítio, onde são lavados em água corrente para atestar a total retiradas de resíduos. E assim segue para os processamentos seguintes de secagem, torrefação, moagem e embalagem”, relatou Roberto.
A produção de pequeno porte funciona por encomenda e atualmente busca o selo municipal de comercialização legal para se regularizar, o que permitiria a expansão do negócio de Roberto e Perina. Eles afirmam que a procura é grande tanto pelas propriedades benéficas à saúde quanto pela curiosidade dos consumidores em provar o café de açaí.
Apesar do tamanho diminuto da produção e de a regularização não ter sido finalizada ainda, eles contam que seguem regras sanitárias rígidas para garantir a qualidade e a higiene do produto. “Ano passado, nós pagamos para fazer analises bromatológicas e microbiológicas do nosso café de açaí para atestar quanto à qualidade e fazer o monitoramento da presença de possíveis organismos que poderiam conter no café (de imediato a até meses após a embalagem aberta) que não fariam bem ao consumo. Nosso café se mostrou adequado, sem presença de Salmonella, cloriforme, bolores e leveduras de imediato, sendo adequado para consumo em até 6 meses após aberto”, informou Roberto.
Outro benefício causado pelo café é para os próprios produtores de açaí, que muitas vezes não conseguem descartar quilos e mais quilos de sementes pós-extração da polpa. Com 12 latas de caroços (aproximadamente 216 quilos) é possível produzir de 200 a 250 pacotes do café, o que corresponde à metade da produção mensal de Roberto e sua família. Ele acredita que “se o café de açaí se difundir de forma abrangente, pelo menos de forma local, aqui mesmo na nossa cidade, seria a solução para muitos batedores de açaí”.
A família de Roberto gosta muito de produzir o café de açaí e de todos os benefícios que ele gera, tanto aos consumidores quanto às partes envolvidas na produção. “Não só na parte material, mas como pessoas, o café de açaí nos trouxe grande felicidade por ver um produto nosso impactando positivamente a vida de outras pessoas”, diz Roberto, que afirma investir a maior parte do lucro gerado pelo café de açaí na própria produção, melhorando a qualidade dos materiais de embalagem e da logística de escoamento da produção. (Juliano Corrêa)