Correio de Carajás

Empresa alega que vídeo denunciando condições é antigo, mas barra vereadores

A empresa Komatsu nega serem atuais imagens denunciando as condições de trabalho da empresa em Parauapebas. Os vídeos circularam via redes sociais nesta quarta-feira (17), após um acidente de trabalho tirar a vida do soldador Mauricelio Lopes Veloso no Centro de Reparos.

Conforme apurado pelo Correio de Carajás, ele sofreu descarga elétrica ao tentar puxar os cabos de uma máquina de solda enquanto esta sofria um curto circuito que provocou um incêndio. Logo em seguida surgiram os vídeos que mostram máquinas entre muita lama e cabos espalhados no chão úmido.

“Como é que soldador trabalha na komatsu… olha a situação disso aqui, a situação que o soldador trabalha num negócio desse daqui…uma empresa de um porte desses”, comenta o responsável pelas imagens.

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Em nota, a Komatsu alega que as atividades de manutenção ocorrem em áreas cobertas e, mesmo assim, quando há episódios de chuva, a norma é suspendê-las. Garante, também, que o acidente sofrido por Mauricelio não tem relação com o local ou condições retratadas no vídeo.

Após ter acesso às imagens e sabendo que outros funcionários da empresa já morreram por acidente de trabalho, os vereadores Miquinha, Joel do Sindicato, Rafael Ribeiro e Zé do Bode decidiram ir ao local na tarde de terça, conversar com representantes da empresa e pedir para ver o setor onde ocorreu a morte, mas não foram recebidos.

De lá, seguiram para a 20ª Seccional Urbana de Polícia Civil, onde registraram boletim de ocorrência relatando terem sido barrados. À Reportagem do Correio de Carajás, o vereador Miquinha, presidente da Comissão de Direitos Humanos, relatou nesta quinta (18) que os legisladores foram, inclusive, enganados por um funcionário da empresa.

Miquinha: “Não dá para o trabalhador, porque está precisando de emprego, trabalhar dentro dum lamaçal”

Conforme ele, o grupo foi atendido por uma pessoa e informou a intenção de conversar com a empresa e ver como era, de fato, o local de trabalho. Essa pessoa então teria feito algumas ligações e dito que a empresa estava fechada, mas que os vereadores poderiam dar a volta até outro portão, onde seriam recepcionados por um engenheiro que conversaria com eles.

“Quando chegamos lá, para nossa surpresa, o cara (que os atendeu) foi embora com o carro. Tinha um outro guarda, explicamos que teria um engenheiro nos aguardando e ele negou, disse que não tinha ninguém lá”, conta. De acordo com o vereador, apesar deste argumento, era possível observar vários carros estacionados na empresa.

Os vereadores ainda solicitaram ao segurança dar uma olhada no pátio, o que foi negado. Após a situação ser exposta nas redes sociais pelos próprios vereadores, informa Miquinha, diretores da Komatsu telefonaram para o presidente da Câmara Municipal, Ivanaldo Braz, solicitando reunião entre os representantes do povo e advogados da empresa, além de pedirem desculpas, alegando que o impedimento não foi ordem da direção. O encontro está agendado para esta sexta-feira (19).

“Queremos ver a situação porque, se não tem condições, tem que arrumar outro local para funcionar. Nós não queremos fechar empresa, nós queremos que a empresa trabalhe e ajude o município gerando emprego, mas em um lugar que tenha decência e segurança para os trabalhadores”, diz, lembrando, inclusive, que existe legislação trabalhista sobre isso. “A escravidão, costumo dizer, acabou há muito tempo. Não dá para o trabalhador, porque está precisando de emprego, trabalhar dentro dum lamaçal. Tem que ter o mínimo de respeito uma empresa de renome mundial”, conclui. (Luciana Marschall)