Utilizando a tribuna da Câmara Municipal de Parauapebas, durante a sessão desta terça-feira (23), o vereador Joel Pedro Alves, Joel do Sindicato (PDT), afirmou que as empresas terceirizadas da mineradora Vale não estão contratando motoristas acima dos 50 anos e, ainda mais grave, que estariam dispensando pessoas acima dos 60 anos que precisaram ser afastadas do trabalho em decorrência da pandemia de covid-19.
Apesar do transporte ser terceirizado, o vereador culpa diretamente a Vale pela situação e cobra dos colegas que a Casa de Leis enfrente a gigante do minério em defesa dos trabalhadores. “É responsabilidade desse Parlamento jogar a Vale nos trilhos (…). O pessoal não vai aposentar mais se continuar nesse modelo, por tempo de trabalho, porque se passa dos 50 anos não tem mais oportunidade de serviço”, diz.
Na última semana, o escritório regional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos divulgou balanço da geração de empregos formais em 2020, no Estado do Pará, para trabalhadores com mais de 50 anos. A conclusão é preocupante. Conforme o levantamento, o desemprego atingiu fortemente essa categoria e no ano passado foram extintos cerca de 5 mil postos de trabalho nesta faixa em território paraense. A maior perda de postos de trabalhos ocorreu no setor de serviços, seguido de comércio, indústria, construção e agropecuária.
Leia mais:“Tem pai de família da minha categoria (motorista) que chega pra mim e chora porque faz teste, todos os exames e dá indeferido porque tem 57 anos, tem 55 anos, os melhores profissionais”, lamenta Joel, pedindo à Mesa Diretora que se posicione junto à mineradora. “Temos que tomar providência para mostrar pra Vale que ela não manda nesse município, ela é prestadora de serviço, ela não é a dona dessa cidade”.
Em relação aos trabalhadores na faixa dos 60 anos, supostamente dispensados, o vereador acredita que a Vale deveria se responsabilizar. “Pelo programa do Governo Federal esse pagava 70% dos salários e as empresas estavam pagando 30%, mas isso foi encerrado e as empresas com certeza não vão pagar o salário em 100% contratando outros para fazer a substituição. Se a Vale está proibindo que esses trabalhadores voltem ao trabalho que faça um programa e assuma os salários destes trabalhadores. Se vai proibir, que ela assuma e pague a conta”, sugere.
O presidente da Casa, Ivanaldo Braz (PDT), pediu a palavra para apoiar o colega e informar que a Mesa Diretora mandará ofício à mineradora solicitando reunião. “Pra Vale descer (da Serra de Carajás) pra gente iniciar debate e acabar com essa molecagem, acabei de me sentir o homem mais velho do mundo… 55 anos… se eu tivesse que seguir a função de motorista…”, ironizou.
Braz destacou que os problemas da Vale junto a trabalhadores sempre batem às portas da Prefeitura de Parauapebas e da Câmara de Vereadores. “É um problema de ordem pública que vai desaguar na gente. A Vale, quando for tomar uma decisão dessas, precisa pensar que aqui embaixo também tem poder constituído pelo povo”.
Ele aproveitou o momento para criticar a cobrança de dois anos de experiência para a contratação de novos motoristas. “Acho absurdo a Vale cobrar dois anos de experiência para motorista de ônibus, com tanto profissional aqui. Por que não dá treinamento e coloca pra trabalhar o motorista? Se fosse nesse modelo ninguém poderia operar aqueles caminhões deles lá em cima (Serra de Carajás), porque para aqueles caminhões ninguém tem experiência”, garante.
O vereador Zacarias Marques (PP) também solicitou a palavra. “A gente precisa continuar mostrando pra Vale e pra qualquer outra empresa que aqui não é terra sem lei. A vale está dentro da maior província de minério a céu aberto do mundo, mas aqui tem Câmara de vereadores, tem gestor e uma sociedade que vai se unir e lutar contra ela em todos os momentos em que ela tentar passar a perna na gente”, afirma.
Os edis Israel Pereira Barros, o Miquinha (PT), e Aurelio Ramos de Oliveira Neto, o Aurelio Goiano (PSD), também se manifestaram. “Tocaram em ponto fundamental pro nosso município, os pais de família tem reclamado que estão ficando desempregado depois que criaram na Vale e nas terceirizadas que não pode trabalhar acima dos 50 anos lá em cima, estão passando fome na nossa cidade, enquanto uma lata de óleo é 10 reais”, observou Miquinha. “A vale devolve sequer 10% do que carrega embora, eu mesmo não sei quantos milhões eles carregam ali e vão ficando só as mazelas em torno dessas ferrovias”, completou Aurelio Goiano.
O Correio de Carajás procurou a assessoria de comunicação da Vale nesta terça, a qual emitiu nota afirmando que em virtude da pandemia houve aumento no número de motoristas contratados para a prestação de serviço de transporte da Vale. “A frota de ônibus foi ampliada para atender o protocolo de prevenção da covid-19, reduzindo o número de pessoas por veículos e aumentando o espaçamento entre os assentos”.
O posicionamento acrescenta, ainda, que a Vale cumpre a legislação trabalhista e faz a mesma recomendação a todas as suas prestadoras de serviço. As terceirizadas não foram citadas nominalmente pelos legisladores. (Luciana Marschall)