A morte de um bebê em Marabá na virada do ano ganhou um novo capítulo na última semana. Ofício encaminhado pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) solicita a instauração de uma sindicância para apurar a morte de Lorenzo no prazo máximo de 30 dias. Além disso, a Promotoria também oficiou a Delegacia do Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) a fim de que apure o ocorrido na maternidade. Os pais da criança culpam erros do Hospital Materno Infantil (HMI) pela morte do feto.
Sarah Maria Peixoto esteve na Redação do CORREIO acompanhada do marido, Claudenor Peixoto, para trazer os documentos expedidos pela instituição fiscalizadora, comemorando a diligência ministerial. Os ofícios são da 6ª Promotoria de Justiça de Direitos Constitucionais Fundamentais, Ações Constitucionais, Fazenda Pública, Família e Sucessão, pela qual responde Mayanna Silva de Souza Queiroz.
Sindicância é o procedimento administrativo pelo qual o sindicante, aquele que é encarregado de realizar a investigação administrativa, reúne em um caderno processual as informações obtidas, com a finalidade de esclarecer determinado ato ou fato. Assim, o Ministério Público Estadual se coloca na posição de interessado na apuração dos fatos narrados pelos pais em denúncia por suposta negligência médica cometida por aquele hospital.
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Na madrugada de 31 de dezembro último, a parturiente Sarah Maria deu entrada no HMI com dores estomacais e lá passou por triagem, ocasião em que uma enfermeira mediu apenas pressão dela, quando também deveria ter realizado o exame do destro para aferição da glicose sanguínea. Em seguida, ela foi atendida por dois médicos, que só então pediram exames para avaliar o nível de glicose, bem como – e principalmente – a saúde do coração do bebê. https://correiodecarajas.com.br/maraba-apos-morte-de-bebe-no-utero-pai-questiona-hmi/.
Os médicos também receitaram medicações para que Sarah melhorasse do problema no estômago. Ao tomar soro junto com a medicação regulada, Sarah foi informada pela enfermeira de que não poderia ser liberada da maternidade antes de passar novamente por avaliação médica, posto que o destro resultou em hipoglicemia por 65 miligramas por decilitro.
Sarah chegou a comunicar que estava fraca e com fome e até requereu a presença do médico para receber orientações de como proceder diante da baixa na glicose, entretanto, já não havia médicos que pudessem atender a gestante por volta das 7h daquele dia. A enfermeira tão somente informou que ela teria de aguardar até as 9h, horário em que o médico chegaria para assumir o plantão. Sarah precisaria aguardar no mínimo mais duas horas para que, só então, recebesse atendimento médico, o que se provaria fatal.
Sem possibilidade de intervenção, ambos foram para o lado externo do hospital. Sarah pediu ao esposo que comprasse bolo e café com leite no intuito de que o nível da glicose estabilizasse. Debilitada, dentro do carro, ela comeu. O casal conta que voltou para casa, mesmo com a orientação da enfermeira. Chegando lá, Sarah foi acometida por uma moleza, sentiu sono e dormiu, deduzindo que seria por efeito da medicação administrada.
O marido foi ao quarto do casal diversas vezes ao longo do dia para saber se a esposa passava bem e se o bebê estava mexendo na barriga. Era orientação da médica que acompanhou o pré-natal. Já na manhã de 1º de janeiro, em torno das 10h30, notando que os movimentos do bebê diminuíram consideravelmente, o marido resolveu levar Sarah mais uma vez ao HMI. Lá, a parturiente recebeu a triste notícia de que o filho estava morto na barriga.
O casal, então, culpa a falta de profissionais na unidade naquele ínterim pelo desfecho lastimável. Isso porque, conforme narrado na denúncia protocolada no Ministério Público e, antes disso, repercutida neste Jornal, uma enfermeira comunicou ao casal que teriam de aguardar mais duas horas para o atendimento médico.
Aliado a isso está o fato de que o prontuário médico de Sarah Maria foi preenchido inadequadamente, na visão do casal, pelos profissionais do HMI, com uma sequência curiosa de erros: dificuldade de interpretar informações médicas pontuais contidas no prontuário, lauda de classificação de risco em obstetrícia em branco, negligência médica em compensar o quadro glicêmico da paciente, inconsistência na classificação de alta médica e alteração no exame de cardiotocografia fetal. https://correiodecarajas.com.br/pai-rebate-hmi-e-aponta-erros-em-prontuario-medico/.
OUTRA PERSPECTIVA
Fábio Costa, diretor clínico do HMI, em relato a repórter do veículo de comunicação, alega que a paciente assumiu o risco da morte do bebê. Conforme o médico, Sarah esteve no hospital no dia 30 de dezembro com dores estomacais e enjoo, o que prontamente foi solucionado pela equipe de plantão no momento. “Só que como ela possuía 37 semanas e cinco dias [de gestação] e é diabética descompensada, nós decidimos realizar também um exame chamado cardiotocografia para verificar a vitalidade do feto e avaliar se poderíamos aguardar o momento mais adequado para a realização do parto, que é com 39 semanas no caso da cirurgia cesariana”. https://correiodecarajas.com.br/hmi-rompe-silencio-e-contesta-morte-de-bebe-na-virada-do-ano/ .
Neste sentido, o diretor clínico ponderou que Sarah teria de aguardar o resultado do diagnóstico – que costuma ser conhecido em até 15 minutos – e a análise médica, o que não aconteceu. “Esse exame teria que ser avaliado pelo médico de plantão. O médico, então, seria o responsável por liberar ou não a paciente. Se o bebê estivesse bem, ela poderia retornar para casa e aguardar um melhor momento para a extração, com o bebê mais amadurecido. Se o bebê não estivesse bem, faríamos o procedimento cirúrgico no mesmo dia, mesmo antes do tempo ideal. E o resultado desse exame não foi satisfatório, ou seja, o bebê não estava bem”.
Fábio aproveitou o ensejo para registrar suas condolências, em nome da maternidade, pela triste perda do casal. “Era para a paciente ter aguardado um médico para avaliação do exame de cardiotocografia. Naquele momento, toda a equipe plantonista estava trabalhando. Muitas gestantes eram atendidas no horário em que os fatos se sucederam, e não só naquele horário. Como falei, o Hospital Materno Infantil atende 24 horas por dia. Só que a paciente não aguardou e só voltou no dia seguinte, o que agravou ainda mais a situação”, finalizou. (Da Redação)