A segunda onda vem aí? Se sim, Marabá não parecer estar muito preparado para esse evento. Ao longo desta semana, muitas informações começaram a circular pela cidade, de que não haveria testes rápidos para covid-19 no Hospital Municipal de Marabá (HMM), o único local atualmente para tratar a doença. Curiosamente, há quatro dias o boletim epidemiológico não é divulgado nem no site e nem nas redes sociais da Prefeitura, o que levou o Portal Correio a investigar o caso.
Na manhã desta sexta-feira (4), a Reportagem foi até a casa de saúde e conversou com algumas pessoas que aguardavam na portaria, cada uma pelos seus motivos individuais. Duas mulheres que aguardavam por um paciente, foram abordadas pelo repórter e questionadas se ouviram falar da falta dos testes rápidos, e o relato foi preocupante.
“Estamos apenas aguardando um amigo que foi para consulta, mas, do tempo em que estamos aqui, já vimos várias pessoas chegarem e retornarem porque o porteiro informou que não há materiais [testes rápidos]”, contou uma delas.
Leia mais:O repórter foi até a entrada do HMM e perguntou se estavam sendo feitos testes rápidos para covid-19, e fomos informados que no momento só estavam realizando consultas com o médico, pois, de fato, os exames estavam em falta.
“Antes de ontem [quarta-feira] até estava tendo, ontem [quinta-feira] eu já não sei porque estava de folga. Aqui os pacientes estão só aguardando consulta médica, para o doutor passar os medicamentos e eles pegarem na farmácia [no trailer de distribuição]. Temos a previsão de que esses testes cheguem amanhã [sábado], se não, só segunda-feira”, informou um servidor do HMM.
O distribuidor de gás Carlos Henrique Leite reside no Núcleo São Félix, e estava entre as pessoas que aguardavam na entrada do HMM. Ele esperava pela esposa, que iria se consultar com o médico, pois apresentava febre, dor no corpo, perda de paladar, olfato e enjoo, todos sintomas da covid-19. “Ela está assim há uma semana, e fomos primeiro no Posto de Saúde Amadeu Vivacqua, onde eles nos encaminharam para cá”, acrescentou.
Carlos e a esposa já haviam sido informados sobre a falta dos testes rápidos, com previsão para ser realizado na segunda-feira (7) ou na terça-feira (8) e que nesta sexta seria realizada apenas a consulta. “Todos os jornais falam que a segunda onda está vindo e parece que ninguém está preparado”, criticou Carlos.
Uma senhora de 63 anos, que se identificou apenas como Iolanda, foi abordada pela Reportagem assim que saiu do HMM, e confirmou que havia comparecido para realizar o teste rápido, porém, voltou para casa sem nada. “Eu moro na Velha Marabá, então fui primeiro no Demósthenes Azevedo [UBS] dia 23 de novembro, por estar com falta de ar e uns ‘nervosos’ que me dava. Eles me pediram para vir aqui realizar o teste, mas não tem”, disse a aposentada.
Ela mostrou a receita dos remédios do dia 23, com azitromicina e ivermectina, e precisou comprá-los em uma farmácia, por não serem distribuídos na unidade básica de saúde. “O teste só farei na segunda-feira, porque não tem. É uma situação difícil, vi muitas pessoas na mesma situação que eu”, lamentou Iolanda.
Enquanto a Reportagem conversava com a aposentada, os presentes na portaria sinalizaram que mais um paciente estava indo embora sem ter feito o teste rápido. Ele já estava na parada de ônibus quando foi alcançado, e se identificou como Edvaldo Xavier, residente do Bairro da Paz e autônomo. Disse que está há um mês sem paladar e que achava isso muito estranho. Por isso, deslocou-se nove quilômetros até o HMM para realizar o teste rápido, mas ouviu a mesma história. “Como o Governo diz que está mandando verbas se não há testes no hospital? Acho um absurdo”, reclama Edvaldo.
BOLETINS ATRASADOS
No site da Prefeitura de Marabá foi constatado que o último boletim publicado data de 29 de novembro, mostrando que o ultimo óbito por covid-19 foi registrado no dia 26 de novembro. Nesse intervalo, 101 novos casos de pacientes infectados foram catalogados.
Por outro lado, houve uma recuperação de 120 pacientes, aumentando o percentual de 96,7% para 97%. Mas, a taxa de letalidade se mantém nos 2,2%. Até o dia 29, no último boletim, a taxa de ocupação de leitos era de 15,15%, o que aumentou para 100% após o desligamento do Hospital de Campanha, levando o HMM a concentrar todos os pacientes da região.
Sobre o assunto, a Reportagem procurou o secretário Municipal de Saúde, Valmir Moura, levando os questionamentos da falta de testes rápidos e da não publicação dos boletins epidemiológicos. Inicialmente, ele iria receber a Reportagem, porém, menos de 10 minutos depois o secretário de comunicação da Prefeitura, Alessandro Viana, informou que uma nota seria emitida sobre o assunto.
Às 10h38, a resposta chega dizendo que os testes “foram adquiridos pela SMS, e já passaram pela análise técnica e auditoria, já estando sendo feitos no HMM”, fato diferente do constatado no hospital durante a manhã, onde o servidor e outras pessoas relataram a ausência do exame.
Ainda segundo a nota, os testes rápidos estão sendo feitos “seguindo os protocolos de medicação no primeiro atendimento e agendamento do teste para oito dias após os primeiros sintomas”.
Em relação a não divulgação dos boletins epidemiológicos, a Prefeitura respondeu que eles estavam “passando por revisões e atualização de números com relação aos casos de covid-19 na cidade”, e que “assim que este estudo estiver concluído, o boletim será retomado”.
Ainda pela manhã, a Secretaria de Comunicação informou que, por determinação do prefeito Tião Miranda, os boletins voltam a ser publicados no final do dia desta sexta-feira, 4.
Procurada pela Reportagem do CORREIO, a diretora de Vigilância em Saúde do 11º Centro Regional de Saúde da Sespa, em Marabá, enfermeira Ana Raquel Santos Miranda, confirmou que nas últimas semanas aumentaram os casos confirmados de pessoas com covid-19 nas regiões de Carajás e Lago de Tucuruí. Segundo ela, os municípios da região voltaram a informar óbito diariamente, o que já tinha parado.
Todavia, questionada sobre a possibilidade de estarmos em uma segunda onda da doença na região, ela foi cautelosa, observando que o que se tem, neste momento, é elevação do número de casos confirmados, o que sinaliza para a possibilidade de instalação de uma nova onda da pandemia. “Precisamos de um tempo maior para avaliar. Se continuar subindo o número de casos, certamente podemos assinalar essa segunda onda”.
Por outro lado, a enfermeira ressalta que os municípios precisam dar uma resposta urgente para esse aumento no número de casos de covid-19. Ao serem questionados pela Sespa, garantiram que vão reunir suas equipes técnicas para discutir as estratégias a serem adotadas. “Percebemos que os decretos municipais já permitem quase tudo e única forma de conter o avanço da doença é a adoção de medidas de isolamento e distanciamento social, proibindo funcionamento de casas de shows, bares e demais eventos que vêm sendo realizados”, diz.
Junto à Prefeitura, a Reportagem levantou que o Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus em Marabá está sem se reunir há, pelo menos, três semanas. (Zeus Bandeira)