Correio de Carajás

60% do meu secretariado serão de concursados, revela Aurélio Goiano

Em entrevista exclusiva ao CORREIO, prefeito eleito de Parauapebas fala da seleção de seu time de secretários e garante que vai continuar combativo, mesmo no Executivo

“Me acusaram de tudo, só não conseguiram me chamar de ladrão e nem de corrupto”

Aurélio Ramos de Oliveira Neto. Para o povão da cidade de Parauapebas, apenas Aurélio Goiano, o Fiscal do Povo. E foi com essa antonomásia ou apelido que o vereador enfrentou as maiores forças políticas do município, inclusive sendo cassado duas vezes do Parlamento. Voltou por determinação judicial e se fortaleceu no meio da população, principalmente a parcela mais carente da cidade.

Sabe que muitos os chamam de “louco” por seus posicionamentos radicais, mas garante que não recua. Nesta terça-feira, dia 29, após sessão na Câmara de Parauapebas, ele recebeu a equipe do CORREIO DE CARAJÁS em seu gabinete para um bate-papo sobre passado, presente e futuro.

Ele, que varreu os adversários logo no primeiro turno das eleições de 6 de outubro, agora avisa que pretende “varrer” algumas secretarias do mapa da prefeitura da cidade para diminuir gastos.

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CORREIO – Você já anunciou que vai “varrer” a Segov de seu governo a partir de 2025. Há outras secretarias que poderão ser aglutinadas em sua gestão?

AURÉLIO GOIANO – Nós estamos vendo uma cidade que perdeu a sua essência por causa desse lamaçal de corrupção entranhado em todos os lugares. A gente viu nas últimas semanas, no final da eleição, um secretário de governo que é ligado a um deputado aliciando empresários para gastar o dinheiro na campanha. Tenho vários áudios de denúncias, inclusive fizemos essa denúncia no Ministério Público e essa Segov foi criada exclusivamente para dar poder político para algumas pessoas no município. E é questão de honra a proposta de governo para extinção dessa secretaria.

Aliás, a Segov, infelizmente, só quebrou a nossa cidade. Usaram essa secretaria com os milhões que ela tinha em caixa para eleger dois deputados, um a estadual e um a federal com o dinheiro que era para investir na saúde, na educação, na infraestrutura e a gente tem entre secretarias e coordenadorias 33 autarquias.

Vamos avaliar que há aqui 33 pastas que envolvem política e assessorias. E a gente vai diminuir isso para menos de 20. Eu acho que no máximo 16 ou 17, e vamos cortar na carne, mesmo porque Parauapebas tem hoje uma folha de pagamento de R$ 117 milhões e as pessoas não estão conseguindo lá na ponta da linha receber os benefícios de um governo, que é servir a população.

 

CORREIO – O Aurélio Goiano que mostrou força e sangue nos olhos durante o mandato de vereador e candidato a prefeito está assustado com o que está vendo na transição?

AURÉLIO GOIANO – Eu acho que a gente tem que diminuir drasticamente essa força da máquina. Esse cabide de emprego que tem Parauapebas, isso é proposta de governo. As pessoas aqui votaram na esperança de que a gente realmente moralize algumas coisas e vamos diminuir para menos de 20. Ou seja, vai dar quase 50%, porque são 33 pastas atualmente e a gente vai diminuir o máximo que puder eu acho que ficam entre 16 a 17, tirando cabide de emprego de assessorias e de gente que nem trabalha.

Aqui em Parauapebas, os concursados estão ficando para trás, deixaram muitas pessoas técnicas lá no fundo da sala e exaltaram agentes políticos que não entendem nada de nada e humilharam os concursados, que são técnicos. Eu quero valorizar o servidor técnico que passou no concurso na raça, estudou para aquilo, é técnico na sua respectiva área e que está aqui para prestar o serviço realmente. Os verdadeiros donos deste município são os servidores concursados.

CORREIO – Que papel o vice, Chico das Cortinas, terá em seu governo? Ele será secretário de alguma área?

AURÉLIO GOIANO – Tenho um carinho enorme pelo seu Chico das Cortinas. Ele é um cara que, na época em que foi prefeito, o chamavam de doido também. Mas o saneamento básico que nós temos aqui, o tratamento de água, algumas coisas que a cidade tem são de 1992, quando ele foi prefeito, ou seja, ele tem uma história muito forte em Parauapebas.

O Chico é um cara que agregou para mim toda a massa evangélica. Ele lembra muito do meu avô, de quem herdei o nome “Aurélio”, que também era crente da Igreja Assembleia de Deus Ministério Videira. Tenho as minhas raízes na igreja, e o Chico me traz. Ele está aqui não é devido ao tamanho da força do dinheiro, porque na campanha todo mundo fala que o vice tem que ter voto ou dinheiro e eu acho que o Chico teve muito voto, sim? Ele está afastado da política há muito tempo, mas ele agregou, trouxe a calmaria e a experiência e eu sinto pelo Chico um amor de filho.

No meu governo ele estará no gabinete dele, mas atuando em praticamente todas as secretarias. A gente vai trabalhar incansavelmente para não deixar o nome do Chico morrer também. Quem sabe uma candidatura (a deputado) daqui a dois anos?

CORREIO – A partir de 1º de janeiro de 2025 você vai sair da condição de atirador de pedras para vidraça, perdendo o seu colete de “Fiscal do Povo”. Como pretende minimizar esse impacto?

AURÉLIO GOIANO – Aqui me acusaram de tudo, me chamaram de estuprador, de agressor, de homofóbico, de machista. Só não conseguiram me chamar de ladrão e nem de corrupto. Eu costumo dizer que briga só presta grande e eu não quero brigar, não vim aqui para fazer isso. O nosso governo é o governo para servir as pessoas. Mas se tiver de brigar, digo que só é boa se for briga grande.

Colete de “Fiscal do Povo” deu a Aurélio Goiano maior legitimidade para lhe representar na Câmara

CORREIO – Ao passo que você se prepara para começar a governar, sua equipe técnica e política está trabalhando na transição. Você já tem todos os nomes de secretários definidos? Quando pretende anunciar? Será no conta-gotas, como o prefeito de Marabá?

AURÉLIO GOIANO – Na realidade, eu sou um cara que veio da mídia. E o cantor famoso, quando chega no show, fica trancado dentro do ônibus e só sai na hora do start, de dar o show. Eu não sou um técnico, eu não tenho formação acadêmica, eu não sou advogado, administrador, eu sou um pequeno empresário e que escolheu Parauapebas para viver, que trabalhou quatro anos como vereador mostrando para as pessoas que elas merecem mais.

Nós estamos em um local que tinha que entregar mais para as pessoas, qualidade de vida, saúde, educação, infraestrutura, desenvolvimento econômico e irei fazer isso como prefeito. Eu irei mostrar que não vai ser o meu amigo motorista que vai ser secretário de saúde, por exemplo, como o Darci Lemen fez.

Ele indicou pessoas desqualificadíssimas para assumir uma secretaria tão importante quanto a de saúde. O meu secretário de saúde será um médico renomado e com grande experiência nessa área. A minha secretária de Administração será uma advogada técnica nessa área, ou seja, o meu secretariado desde a campanha será técnico e qualificado. iremos entregar para nossa população um serviço público feito por uma gestão qualificada e eficiente.

CORREIO – Ainda falando em formação de time de secretários, você vai formar sua equipe com pessoas da cidade ou pretende trazer técnicos de fora?

AURÉLIO GOIANO – Creio que não terá ninguém de fora. Parauapebas é um celeiro de gente boa. Na nossa campanha tinha muita gente que foi humilhada pela atual gestão. E aviso que 60% do secretariado será composto por servidores efetivos. Eu apresentei várias vezes essa fala e quero cumpri-la. Tenho 1 bilhão de defeitos, mas quando eu trato eu cumpro. E as pessoas estão esquecendo disso.

O meu avô dizia que o cabra tinha que arrancar um fio do bigode e fazer o compromisso e, hoje em dia, não fazem mais isso, mas eu gosto de cumprir minha palavra: 60% do meu secretariado será efetivo, as pessoas de Parauapebas, concursados, técnicos, empresários pessoas que trabalham para a Vale há muito tempo estarão comigo em uma seleção de pessoas para nós jogarmos esse futebol. Eu só serei o técnico, que vai cobrar e encher o saco. Que vou dizer que precisamos trabalhar os quatro anos sem parar.

CORREIO – A Folha de Pagamento da Prefeitura de Parauapebas é inchada. Você terá o desafio do concurso e de realizar PSS para poder contratar servidores. Não há risco de travar o governo no início de sua gestão antes de realizar esses o seletivo e o concurso?

AURÉLIO GOIANO – A atual gestão não conseguiu solucionar problemas como o concurso público e o excesso de PSS (Processo Seletivo Simplificado) e eu vou moralizar o serviço público, valorizar servidores concursados e diminuir as assessorias políticas. Mas o trabalho não vai ficar engessado.

CORREIO – Na Câmara, você foi um calo no sapato do prefeito atual. Você anunciou que vereador não terá secretaria em seu governo. Acha que esse posicionamento vai afetar a relação com o Poder Legislativo?

AURÉLIO GOIANO – Acredito que muitas pessoas vão parar na cadeia. Minha função não é perseguir, mas tenho compromisso com a transparência e a justiça. Não sou preguiçoso. Já trabalhei no rádio por 14 anos, acordando cedo e me dedicando. Terei uma relação harmônica com o Legislativo, de onde estou saindo no final deste ano. Ajudei agora a garantir as emendas impositivas para o próximo ano, para que os vereadores apontem onde essas emendas serão aplicadas.

CORREIO – Vasculhando suas redes sociais, as palavras mais ditas em suas postagens foram: “Vamos reconstruir Parauapebas”. A cidade está tão acabada assim que mereça a palavra “reconstruir” ou você acha que usou apenas uma hipérbole para melhorar o que já existe?

AURÉLIO GOIANO – A cidade está literalmente dentro do buraco. Parauapebas é uma cidade de quase R$ 3 bilhões de orçamento anual, mas não temos um paracetamol no posto de saúde. Na sessão desta terça-feira (29) a galera da cultura estava presente porque não consegue receber desde junho do ano passado pela participação no Festival Jeca Tatu. A galera do carro pipa está há 15 dias parada, e isso chega a ser ridículo, porque também não recebe. É vergonhoso para um governo que atuou por 16 anos ter 63% da cidade atendida com um carro pipa apenas. Os condutores deles estavam aqui na Câmara fazendo manifestação mais uma vez porque não receberam. O asfalto daqui, parece que quando chove derrete igual ao Sonrisal e a infraestrutura não está funcionando.

Temos no SAAEP (Serviço de Água e Esgoto) uma autarquia que não entrega o que lhe foi proposto ao se tornar referência para essa área. Ela tinha que entregar água tratada, mas não o faz, mas a conta de água chegam aos moradores todos os meses. A gente tem um município literalmente dentro do buraco e precisamos, sim, reconstruir essa cidade para que as pessoas possam ter de novo um sorriso no rosto e tenham orgulho de dizer que moram em Parauapebas.

Além disso, Parauapebas não tem rodoviária. O prefeito atual queria, dias para trás, construir uma tirolesa, trazer para cá uma grande força turística. Que bom, mas vamos começar fazendo o dever de casa. Nossa cidade não tem rodoviária e a queremos transformar em uma cidade turística? A nossa cidade é não tem é transporte escolar, não tem transporte público e a gente quer fazer virar uma cidade turística? Precisamos primeiro fazer o básico, entregar à população serviços qualificados nas áreas de saúde, saneamento básico, infraestrutura e educação.

CORREIO – Você pretende fazer uma perícia nas contas do Prosap ou acredita que o projeto está bem encaminhado?

AURÉLIO GOIANO – Eu acho que o que fizeram com o Prosap foi um serviço meia boca e enganarão a população. Tem até desapropriações ainda que nem pagaram. A população continua brigando na justiça. E o Prosap está sendo gerido por pessoas ligadas ao prefeito por meio de um empréstimo que quem vai pagar é a população.

São 86 milhões de dólares que vão judiar muito com esse município no futuro na hora de pagar a conta. Creio que vamos começar a pagar esse empréstimo a partir de 2026 e infelizmente por causa da corrupção entranhada, herdaremos muitos problemas. O que foi entregue com os milhões que já gastaram nessa obra foi quase nada.

CORREIO – A propósito, a sede da Prefeitura está sendo praticamente reconstruída. Você já tem ideia de quando deverá começar a governar do prédio sede do governo municipal?

AURÉLIO GOIANO – A sede da prefeitura pegou fogo, mas foi no setor de licitação, acabaram destruindo tudo para esconder provas de possíveis crimes.

Eu acho que a gente precisa também ir atrás do Governo do Estado para parceria. Eu não sou esquerdista, tenho a minha linha política voltada para a direita. Como eu digo, o meu carro até a seta da esquerda é queimada, mas acho que a gente precisa fazer com que o Estado entenda a importância que é Parauapebas para o Pará e para o Brasil. Precisamos dar suporte na saúde, na média e alta complexidade. O Estado peca muito em não potencializar a Diretoria Regional de Educação instalada em Parauapebas, em não ajudar o nosso ensino médio. O que tenho que fazer é bater na porta desses dois entes para que consigamos realizar o melhor por nossa gente.

(Ulisses Pompeu, Theíza Cristhine e Thays Araujo)