Vinte e oito anos, viúva, cinco filhos. E nenhum presente ou ceia de Natal para oferecer aos seus rebentos. Miséria e grandeza se mistura naquela casa de número 04 da rua Ypê, no Bairro Araguaia (Invasão da Fanta, como é popularmente conhecida a comunidade).
Moradora de uma pequena quitinete (alugada) localizada no Bairro Araguaia, em Marabá, Lucilene Monteiro Nascimento é daquelas mulheres que a gente cruza no caminho e fica até com vergonha de reclamar da vida.
Mãe de Ana Vitória, 13 anos; Luís Otávio, 10 anos; João Pedro, 9 anos; Marcela, 3 anos; e Lavine, 1 ano e 4 meses, Luciene sobrevive apenas com o dinheiro da aposentadoria do filho João Pedro.
Leia mais:Ele, quando tinha dois anos de idade, foi vítima de um incêndio que assolou a casa em que a família morava na Folha 29, no Núcleo Nova Marabá. Com cerca de 80% do corpo queimado e diversos tratamentos, João Pedro, hoje com 9 anos, carrega as marcas pelo corpo.
As cicatrizes de João são de cortar o coração e encher os olhos de lágrimas. Tão pequeno e tantas marcas. Essas, aliás, que garantem o sustento da família, através do benefício que o menino recebe.
João fala com dificuldade, perdeu os dedos dos pés e das mãos no incêndio, mas é um menino alegre, que gosta de brincar na rua com coleguinhas e é apaixonado pela disciplina de ciências. Estuda a 3ª série do Ensino Fundamental.
A mãe, também, carrega marcas vitais da luta diária para sobreviver. Há pouco mais de um ano, viu o marido tirar a própria vida, justamente por não saber lidar com as dificuldades que a vida, muitas vezes, impunha. “A gente vai vivendo como Deus permite. Com ajuda de um aqui, de outro ali. O dinheiro da pensão do meu filho dá mal para comprar um pouco de comida e pagar o aluguel”, diz a mulher.
Ela fala pouco do esposo, as lágrimas aparecem logo e prefere não encompridar a conversa sobre o episódio macabro na frente dos filhos. Baixa a voz ou para de falar. “Meu marido era jardineiro, fazia bico. Não tinha emprego fixo. Ele não deu sinal e nem falou nada”, relembra, afirmando que na época do incidente, a família morava em Goiânia.
Com um aluguel de R$ 350, Lucilene tenta se virar com o restante do dinheiro, dando o básico e o mínimo aos filhos.
Sobre o Natal? A Reportagem do CORREIO entrou na residência e via a situação de miséria. Não há cama suficiente para todos os filhos. São dois quartos e uma sala grande, apenas. Com pouco espaço, o jeito é os meninos se juntarem no quintal.
Mãe e filhos estarão juntos, como sempre estiveram. Comida e presentes não terão na casa número 04.
COMO AJUDAR
Quem puder ajudar a família de Lucilene com alimentos, roupas ou de outra forma, pode entrar em contato pelo telefone 98423-8633. (Ulisses Pompeu, Ana Mangas e Henrique Garcia)