Correio de Carajás

Coletivo realiza ato em Marabá pelo Dia Internacional de Não-Violência Contra a Mulher

Desde o ano de 1999, 25 de novembro é mundialmente conhecido como o Dia Internacional de Não-Violência Contra a Mulher. Uma data emblemática para as mulheres que lutam e incitam a reflexão, prevenção e eliminação da violência contra mulheres.
Há 22 anos, a Organização das Nações Unidas instituiu a dada em homenagem às irmãs “Mariposas”, como eram conhecidas as irmãs, Pátria, Minerva e Maria Teresa.
No dia 25 de novembro de 1960 elas foram brutalmente assassinadas pelo ditador Rafael Leônidas, da República Dominicana. As irmãs combatiam fortemente a ditadura na época e pagaram com a própria vida. De acordo com relatos, seus corpos foram encontrados no fundo de um precipício, estrangulados e com os ossos quebrados. As mortes repercutiram causando grande comoção no país. Pouco tempo depois, o ditador foi assassinado.

Coletivo de Mulheres realizou ato em frente do INSS de Marabá para protestar contra a violência – Foto: Evangelista Rocha

Em Marabá, a data foi marcada por diversas atividades promovidas por grupos relacionados aos diretos das mulheres. Uma delas ocorreu na manhã desta quinta-feira (25) em frente ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), localizado na Rodovia Transamazônica, no Núcleo da Cidade Nova.
A fotógrafa Lara Borges, representando o Instituto Hosana Lopes de Abreu, a Ouvidoria Popular Mulher Conte Comigo e o Fórum de Mulheres de Marabá, esteve no local e falou sobre a importância do dia.
“Esse é um ato de um coletivo de mulheres para que juntas a gente possa protestar e dar um basta na violência contra a mulher, seja a violência familiar, seja no âmbito do trabalho, saúde. Estamos aqui para fazer o ato da paz e da reflexão para a sociedade”, destaca.
Ela ressalta que existe muito homens bons, parceiros e que abraçam a causa da não violência. Por isso pede que homens e mulheres, juntos, fortaleçam o grito de bata.
“Eu trouxe um pouco da exposição Gritos do Silêncio, para mostrar o quanto a violência dói. Queremos mostrar nas ruas que a violência muitas vezes é silenciosa. Queremos dar um basta na violência contra as mulheres, meninas e idosas, seja qual for o tipo de violência”.

“Estamos aqui para fazer o ato da paz e da reflexão para a sociedade”, destaca Lara Borges – Foto: Evangelista Rocha

Representando o Sindicato dos Bancários, Heidiane Moreno participou do ato e conversou com o Portal Correio de Carajás sobre esse dia tão emblemático. Para a reportagem, ela exemplificou sobre a violência obstétrica, que é um tema pouco visto nas grandes mídias, mas que acontece diariamente dentro dos hospitais do Brasil.
“Ano passado, 114 mulheres e 57 crianças morreram de morte materna em Marabá ou infantil. É um índice muito alto para o tamanho da nossa cidade. A violência obstétrica mata, maltrata e mutila mulheres que entram no hospital para ter seus filhos. São intervenções desnecessárias, cortes sem necessidade, empurrões na barriga que faz com que ela passe dois, três dias dolorida e roxa”, fala Heidiane.
A representante ressalta que é preciso discutir e chamar a atenção para essa pauta. Heidiane afirma que as mulheres podem contar com a rede de apoio que Marabá possui, fazer denúncias, levar a Defensoria Pública ou ao Ministério Público.
“Na nossa cidade não aceitam acompanhante no Hospital Materno Infantil. É fundamental que a mulher na hora do parto tenha esse apoio emocional e esse direito é negado. Não pode”.

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“Ano passado 114 mulheres e 57 crianças morreram de morte materna em Marabá”, fala Heidiane Moreno – Foto: Evangelista Rocha

Dentre tantas mulheres presente e dando um grito de basta, a professora Rosemari Bezerra faz parte do grupo Conte Comigo. Com estatísticas do último ano, Rose conta que no ano de 2020 17 milhões de mulheres denunciaram algum tipo de violência sofrida.
“A realidade é trágica. Com a pandemia piorou. As mulheres foram as que mais sofreram com o desemprego, trabalho informal, fome e violência. São múltiplas formas de violência, não é só a física e a psicológica. Em Marabá temos uma Delegacia da Mulher, mas que hoje não tem uma estrutura para fazer um atendimento humanizado. Ainda não pessoal suficiente e ambiente adequado. A mulher chega vitimizada e as políticas públicas são mal estruturadas”, lamenta Rose.

Em Marabá diversas redes de apoio dão um suporte para que mulheres vítimas de qualquer tipo de violência se encorajem e tomem força para denunciar. Prestando um papel social, grupos fazem um acompanhamento e orientações às mulheres.
“A Ouvidoria Popular apoia as mulheres e acolhem de forma humanizada todas as vítimas”, finaliza.
De acordo com a ONU 70% de todas as mulheres do planeta já sofreram ou sofrerão algum tipo de violência em, pelo menos, um momento de suas vidas, independente de nacionalidade, cultura, religião ou condição social.

NOTA DA REDAÇÃO:
Diferente do informado por Heidiane, dados do DataSus dão conta que em 2020, Marabá contabilizou 10 óbitos maternos e não 114; no caso de óbitos infantis foram 248 e não 57 crianças. Segundo Heidiane, sua fonte de pesquisa foi o Painel de Monitoramento da Mortalidade Infantil e Fetal do Ministério da Saúde, uma base de dados diferente do DataSus.

(Ana Mangas)