Correio de Carajás

Do tradicional ao moderno, Marabá é referência em festa junina

Entre brincadeiras, decorações e pequenas festas, clima junino não passa despercebido mesmo em meio à pandemia e quarentena

Membros da Junina Fogo no Rabo com servidores da FCCM ao final da apresentação restrita na Casa da Cultura

Fogueira, bandeirinhas, quadrilhas e roupas xadrez e floridas. Pelo segundo ano consecutivo o tradicional festejo junino que acontece por todo o Brasil está silencioso.

Em Marabá, a festa, que é considerada a maior da região, virou referência no assunto, tendo um público diário de aproximadamente 2 mil pessoas.

Há quem diga que o São João – como é popularmente chamada a festa junina – não é mais como antigamente. Os festejos acabaram sofrendo modificações e modernizações, que foram se transformando com o tempo, recebendo influências do mercado e da indústria cultural.

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Nesta quarta-feira, a Fundação Casa da Cultura de Marabá celebrou antecipadamente o São João com a participação da Quadrilha Fogo no Rabo e do Boi-bumbá Flor do Campo, respeitando o distanciamento social, com uso de máscaras e poucos integrantes.

Ademar Dias, coordenador da Junina Fogo no Rabo há 33 anos, concorda que muita coisa mudou. “Antigamente, a gente ensaiava dez dias antes do festejo. Hoje, as juninas começam a ensaiar seis meses antes. Antes os vestidos eram feitos de chitão e usava-se sandália de couro. Agora é organza cristal, renda, muita pedra. As juninas agora possuem figurinista, marcador, coreógrafo, produção, apoio, carpinteiro, soldador, costureiras. Tudo evoluiu muito”.

Ademar da Santa Rosa: “Sou totalmente contra tirar o tradicional das quadrilhas, independente do tema”
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Com isso, Ademar explica que os investimentos também mudaram, já que os custos elevados da produção dispararam nos últimos anos. Com o surgimento dos concursos, as quadrilhas juninas começaram a se profissionalizar. A cada ano, os grupos surgem com propostas diferentes e um tanto quanto ousadas, seja no enredo, no figurino ou nas músicas.

Mesmo com as mudanças, o tradicional tem permanecido diante da modernização dos grupos de quadrilhas. “Assim que definimos o tema, começamos a trabalhar de que forma vamos abordar, executar e as cores que serão utilizadas. Eu sou totalmente contra tirar o tradicional das quadrilhas, independente do tema. Tem que ter a grande roda, o túnel, o caminho da roça. Tem que existir. Alguns grupos estão se estilizando muito e esquecendo o tradicional”, lamenta.

Ademar afirma que os temas da Fogo no Rabo, na maioria das vezes, são voltados ao regional. Eles já falaram sobre a castanheira, seringueira, pescadores e Serra Pelada. “Procuramos mostrar os ciclos de desenvolvimento da nossa região”, sintetiza.

DIFICULDADES

Há seis anos foi criada a Liga Cultural de Marabá para aumentar a representatividade das companhias junto ao poder público e aos empresários do município. “Gostaríamos de ser vistos de uma forma diferente. Precisamos muito da colaboração de todos para que a festa se mantenha com esse padrão. Nós viramos referência em festejo junino”, lembra.

Apaixonado pelo movimento, Ademar Dias conta que desde 1988, quando ficou à frente dos grupos da comunidade católica do Bairro Santa Rosa, na Velha Marabá, sempre teve como objetivo envolver crianças, jovens e adultos nas atividades culturais e de lazer.

Para não aglomerar, apresentação na FCCM contou com apenas casais adulto e infantil, que dançaram com máscaras
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No começo, o nome do grupo era Barca Furada. Dois anos depois, em 1990, aconteceu uma reunião para que o nome da junina fosse mudado. “Não consigo recordar quem falou Fogo no Rabo. Mas na hora que ouvimos deu aquele suspensa e foi unânime a aceitação”, relembra.

Mesmo com as dificuldades enfrentadas desde o começo, Ademir admite que só se envolve com cultura quem ama. “Não é fácil. Mas a cultura é o ar que eu respiro, percorre no meu sangue, está na minha veia. Não sei o que eu seria se não fosse a junina”. (Ana Mangas, Ulisses Pompeu, com apoio de Ismael Mota e Rafael Varão, da Companhia de Artes da FCCM)

 

As 85 toadas do Boi Flor do Campo

 Mestre Zé do Boi, ou melhor, José Rodrigues da Silva, líder do Boi Flor do Campo, diz que a tradição do boi-bumbá continua firme na mente e no coração das pessoas, mesmo em tempos de pandemia. Seu grupo nasceu em São Domingos do Araguaia, na década de 1990, para fortalecer o folclore local.

Mestre Zé do Boi conta diz como os grupos do segmento lutam para manter a tradição junina
Mestre Zé do Boi conta diz como os grupos do segmento lutam para manter a tradição junina

Em 1993, após retornar para Marabá, foi o primeiro ano que o marabaense colocou o grupo nas ruas da cidade, e desde então nunca mais parou. Segundo ele, até tentou dar uma pausa por um ano, mas o amor pela boiada não permitiu que o mestre parasse. “Fiquei me sentindo muito mal, parecia que faltava alguma coisa. Prometi para mim mesmo que, enquanto eu tivesse vida, colocaria o boi na rua”, conta.

Segundo ele, as toadas (músicas) do Flor do Campo já ultrapassam a marca de 85 composições, sendo que algumas delas, que não foram registradas, fogem de sua memória.

As cores predominantes do Flor do Campo são o branco e vermelho, que representam a paz e o amor, respectivamente. Instalada no bairro Liberdade, a comunidade se considera parte do Boi e muitos arriscam até a dizer que são uma família. E é lá mesmo que ocorrem os ensaios, todos as sextas-feiras e sábados. (Elda Bandeira e Ulisses Pompeu)

 

Conheça a origem das festas de São João

São João Batista é o “santo Festeiro” e cujo dia de seu aniversário, em 24 de junho, é também o das famosas festas juninas. Como a celebração é tão boa, a data é estendida para o mês inteiro, sendo que, em algumas cidades, já se admitem até as festas “julinas”.

De acordo com a Bíblia, João Batista era parente de Jesus Cristo e teria não apenas previsto a chegada do Messias, mas também identificado Jesus como o enviado de Deus, o batizando no Rio Jordão.

João era filho de Zacarias e Isabel, que foram pais depois da idade de poder sonhar com herdeiros. Seu nascimento foi anunciado pelo Arcanjo Gabriel, que pediu a Zacarias para chamá-lo de João.

O dia de São João é uma das festas mais antigas do Cristianismo (há registros de 506 d.C.) e a data acontece três meses depois da celebração da Anunciação, sempre dia 25 de março, e seis meses antes do Natal. Nas crenças populares, se eternizou o mito de que o santo gosta de dormir o dia inteiro para ter energia e participar da noitada. Por isso, segundo a tradição, os fogos de artifício são usados para acordá-lo.

A prática de acender fogueiras na véspera do nascimento de São João foi trazida para o Brasil pelos jesuítas. Com o tempo, a mistura de culturas africanas e europeias deram origem à festa brasileira Sim, os passos e formação das quadrilhas nasceram dos bailes nobres, com as palavras francesas sendo adaptadas para o português, como “anarriê”, “alavantú” e “balancê”, por exemplo. Já o “arrasta-pé” do forrobodó africano plantou a semente do forró nordestino. Juntando tudo isso com um pouco de superstição, as simpatias viraram marca registrada da festividade também. (Fonte: Abril.com)