Correio de Carajás

Violência física e verbal é maioria contra mulheres

Manifestantes farão caminhada neste sábado, 25, na orla de Marabá, no Dia da Não Violência Contra Mulheres

Lily Paiva: “É preciso acreditar na Lei Maria da Penha e denunciar”, diz a advogada Lily Paiva / Foto: Evangelista Rocha

Segundo dados envolvendo violência contra mulheres em Marabá, em mais de 75% dos casos os autores são os próprios companheiros das vítimas, sendo que a maioria sofre violência física e verbal. Os números foram revelados pela Ouvidoria do Disque Denúncia, ligados ao Centro de Segurança Integrada, que atua há 13 anos na região.

Somente nos primeiros seis meses de 2023 foram registradas seis denúncias em Marabá, sendo três delas no Núcleo Nova Marabá. Vale ressaltar que nessas estatísticas estão apenas os dados oficiais, não contabilizando as dezenas de milhares de casos que, infelizmente, não são denunciados por medo de represálias.

A data de 25 de novembro – Dia da Não Violência Contra a Mulher – serve como alerta à sociedade sobre os casos de violência e maus tratos contra as mulheres.

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É bom lembrar que a violência física, psicológica e sexual são apenas alguns exemplos desses maus tratos que ainda são abarcados pela estrutura patriarcal da sociedade, que determina a opressão e submissão do sexo masculino sobre o sexo feminino.

Marabá possui uma grande e fortalecida rede de apoio ao enfrentamento da violência contra a mulher, que trabalha na conscientização e na proteção das vítimas.

Para a advogada e coordenadora especial de políticas públicas para a mulher em Marabá, Lily Paiva, o número de denúncias tem aumentado na cidade justamente porque as mulheres passaram a entender que estão vivendo sob violência.

O Brasil é um dos países que mais mata mulheres no mundo e, na busca por uma sociedade igualitária, com mais respeito, a educação pode ser decisiva para o combate contra a violência de gênero. Por isso a escola é um espaço importante para debater e construir ideias como: não violência contra a mulher, não ao racismo, não a homofobia e outros preconceitos.

“A gente fomenta a conscientização e engloba desde crianças, indo nas escolas com ações educativas, para que tenhamos mais multiplicadores desse combate, que eles entendam o que é violência contra a mulher e possam combater dentro de casa essas situações”.

Segundo Lily, infelizmente muitas mulheres – e homens – acreditam que aquela forma violenta e grosseira é normal. Como diz o velho ditado “educação vem de casa”, e que tudo que vem de casa é passado de geração em geração, criando costumes e hábitos, não só nos lares, mas em toda a sociedade.

Para ela, tudo isso advém do patriarcado fazendo com que o homem muitas vezes nem saiba que aquela atitude está sendo agressiva. Por isso as ações de educação são tão importantes. “Imagina um homem que é acostumado a ter uma mulher que valida tudo o que ele faz? O sistema patriarcal ensina a mulher a girar em torno desse homem. No dia que ela diz não, eles vão para a retaliação, e essa retaliação acontece das mais diversas formas. Então, o fato de a mulher denunciar é o fim para esse homem que tenta controlá-la de todas as formas. O feminicídio é a última coisa, a ponta. Antes disso, muitas outras coisas já aconteceram”.

Medo de denunciar

Existem diversos fatores que levam uma vítima de violência doméstica a ter medo de denunciar, como o descrédito. Muitas mulheres são desacreditadas por quem deveria lhes proteger, como agentes da segurança pública, que ainda hoje – mesmo que em menor quantidade – ainda costumam questionar as vítimas, minimizando seu relato e questionando sua palavra.
Além disso, existe a vergonha da exposição, o vínculo e a dependência financeira e o medo “ele vai querer me matar”.

“É preciso acreditar na Lei Maria da Penha e denunciar”, diz a advogada, ressaltando que mesmo com os avanços, o sistema judiciário ainda é falho em relação aos agressores.

Por isso, ela reafirma a importância da educação. “Os homens precisam se conscientizar do que crime que cometeram. Muitas vezes eles não se enxergam como agressores e é preciso que a gente quebre isso. Existe um projeto piloto da Seaspac com a Vara Criminal onde são feitas reuniões com esses homens, que estão presos atualmente, para que eles tomem consciência”, explica Lily.

A secretária adjunta da Seaspac, Priscila Veloso, ressalta ainda que o município possui o CRAM (Centro de Referência de Atendimento especializado a Mulher vítima de violência), que conta com o apoio de uma equipe de psicólogo, assistente social e pedagogo que juntos colhem e orientam as vítimas. “A rede de apoio também ajuda a mulher com aluguel social, cesta básica e consulta médica, por exemplo. Todas essas ações encorajam as mulheres para que elas se sintam mais seguras em denunciar”.

(Ana Mangas)